Pereira 29/01/2024
Uma leitura demorada
Batalha do Apocalipse (ABdA) é, provavelmente, uma das obras mais bem-sucedidas da literatura fantástica brasileira nas últimas décadas. Toda a polêmica que envolveu sua publicação, realizada principalmente com base na força de vontade, está detalhada no Nerdcast nº 276.
Acredito que a leitura de ABdA seja mais proveitosa para leitores jovens, que possuem menos bagagem, e que o entusiasmo da trama, com pitadas de blasfêmias, consegue cativar os espíritos mais rebeldes. Isto posto, ao analisarmos com mais atenção, é possível identificar diversas inconsistências no entrevero dessa história. Como exemplo, o grande ponto de partida para a o piti dos anjos neste livro é a inveja do livre arbítrio dos humanos. O curioso é que, ao longo dessas mais de 600 páginas, esses mesmos anjos fazem tudo o dá na veneta sem nenhum empecilho.
O que mais me incomodou foi o carisma de guardanapo tanto protagonista, como de qualquer outro personagem, o que torna difícil estabelecer algum vínculo com quem quer que seja. Além disso, os poderes fantásticos que transformam os celestiais em praticamente deuses eliminam o senso de perigo e a preocupação pelos personagens. Acrescentando a isso, alguns flashbacks intermináveis, com exceção do primeiro sobre Babel, não contribuem em nada para a narrativa principal (Embora possam agradar aos leitores interessados em explorar mais desse universo). E, por fim, a revelação da conspiração ao final da história também deixou um gosto de novela mexicana na boca.
De positivo, as batalhas são bastante empolgantes e o livro já abre com um prólogo bastante estimulante para continuação da leitura. Por fim, as ultimas páginas da obra causam um bom frenesi através da aceleração vertiginosa adicionada ao enredo.
Em resumo, ABdA não funcionou tão bem para mim, mas ainda assim é um livro divertido dentro de suas limitações. É possível perceber uma série de elementos da cultura pop, sendo Cavaleiros do Zodíaco o exemplo mais evidente, mas há uma infinidade de referências, com o perdão do anacronismo (já que é uma obra finalizada em 2005), como elementos de Príncipe da Pérsia, Assassin's Creed, Matrix, Legion e afins. Não deixa em nada a desejar em relação à literatura gringa com essa mesma temática.