Eduardo Daniel 21/01/2011
Não tenha uma falsa impressão, Clara é uma puta. Mesmo. De calçada e de agência, fazendo programas em hotéizinhos baratos, ou seja aonde for, com a duração máxima de duas páginas.
Criada por Carlos Trillo (Las Puertitas del Señor Lopez), Eduardo Maicas e Jordi Bernet (Torpedo 1936), Clara da Noite não é um mergulho no mundo cão da prostituição. Não tem uma abordagem escatológica-sociológica da boca do lixo de Barcelona. Muito diferente do que se espera, em Clara da Noite, o humor e a ironia abundam ( com o perdão do mau trocadilho). Além do sexo é claro.
Sem poupar ninguém, muito menos a protagonista, Trillo, Maicas e Bernet conseguem fazer histórias que vão do futebol aos impostos, além do sexo, claro. O que mais impressiona é que eles fazem isso em histórias de duas páginas apenas.
O espaço limitado favorece a narrativa, diferente do que se imagina. Tanto os diálogos quanto desenhos, vão direto ao ponto, sem perder tempo, mas, com talento (e essa é a palavra) para ótimas reviravoltas. Com o passar das páginas, os personagens, Clara, Pablito, o filho dela, e Virtudes a melhor amiga, são realmente desenvolvidos, crescendo com o passar das histórias. O mesmo acontece com o traço de Bernet, que pouco a pouco, perde o m,edo do caricato, sem deixar de imprimir seu estilo. Trillo, dividindo os roteiros com Maicas, mantém a sua característica, a de conseguir fazer histórias sensíveis, humanas, sem apelar para o melodrama rasgado ou deixar de ser irônico e engraçado.
Clara da Noite não é somente uma HQ incrivelmente bem escrita e desenhada, é uma obra rara, com um tema difícil, abordado de uma maneira verdadeiramente única.