A última tragédia

A última tragédia Abdulai Sila




Resenhas - A Última Tragédia


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@leitoralbino 02/01/2022

A última tragédia ainda não nós atingiu | @leitoralbino
"Ainda há de aparecer um preto com coragem para pensar nisso. Um preto que vai descobrir todos os pontos fracos e pontos fortes do branco para depois combatê-lo."

Viver em um país que fala português e ter a sua independência ainda no 1800 parece até utópico ao pensar nos pais em África, como a Guiné-Bissau, que tiverem sua independência apenas após a segunda metade dos 1900. Se as feridas deixadas aqui pela colonização ecoam até os dias de hoje é preciso perguntar os porquês, e em todos os lugares.

"A escola é primeiro que tudo um sítio onde as pessoas aprendem a pensar. É isso mesmo: aprender a pensar. Depois é que vem o resto. As pessoas às vezes pensam muito é podem esquecer, logo é preciso escrever para não esquecer."

Ambientado nos anos finais da colonização portuguesa, "A última tragédia" (1995) é o segundo romance publicado por Abdulai Sila, o primeiro romancista Guineense.

Na narrativa acompanhamos três historias diferentes que e ligam em diversos momentos, ligações que vão desde a terra que chamam de lar até o encontro entre as personagens: Ndani que sofre as tragédias do abuso, ser uma mulher numa colônia, ser preta e doméstica de brancos que tentam apagar seu nome e suas tradições; o Régulo que ocupa um local de poder entre os seus e se vê pregando uma mensagem de paz e igualdade social que parece ser ignorada por todes e o Professor, um personagem que serve quase como a possibilidade de uma liberdade ao mesmo tempo que um esteriótipo de um educador alienado pela burguesia branca e um mártir para uma revolução.

Se eu falasse que o livro apresenta apenas histórias de dor, luta, morte e luto seria uma mentira, pois nos escritos de Sila há o clamor de um povo que vai deixando de temer e buscam pelo que é seu e lhes foi tomado, pelo que lhes foi imposto (desde língua à religião e política). O livro pode ser lido como uma história sobre o apagamento e rodas as mazelas trazidas pelo branco, mas é melhor aproveitada como uma história sobre a presença preta além de África.

"Eles diziam sempre que se devia amar o próximo... Não era castigar, nem matar. Ou será que os brancos que mandavam na terra não consideravam talvez os pretos seus semelhantes?"
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Andre.Pithon 13/10/2023

A última tragédia é o primeiro livro da Guiné-Bissau traduzido internacionalmente. Importante.

E seria um livro importante necessariamente um livro bom?

Os temas discutidos são obviamente relevantes. Oh não colonialismo ruim, racismo ruim, como é péssimo casamento forçado. Legal, concordo, parabéns. Acho sempre importante deixar claro que a mensagem do livro é importante, e essa é a palavra chave, e o núcleo dessa tese. Um livro de ficção não se sustenta apenas em sua ideologia. Ajuda, obviamente, denúncias sociais e responsabilidade com a realidade são peças importantes, tudo não pode ser meramente arte pela arte. Mas pelo menos um pouco de arte tem que ter.

Ndani é uma jovem que quer uma vida melhor, vai trabalhar de servente para uma casa de brancos, o genérico acontece, ela lentamente se insere naquela sociedade e lida com o contraste. Ok. Por 2-3 capítulos, o livro é funcional, mesmo que simples, com situações razoavelmente interessantes. E subitamente saltamos de PoV e pulamos anos para o futuro, com pouquíssima explicação, entrando em tangentes longas e desnecessárias. A mudança de foco quebra o ritmo, estraga a construção de personagem, e Ndani subitamente torna-se no máximo coadjuvante em sua própria história, perdendo qualquer voz e importância narrativa, sendo obviamente a personagem mais interessante na obra, de longe, abandonada em sua própria tragédia. Poderia tentar filosofar sobre como o abandono do autor reflete a forma que a sociedade a trata, e ser deixada de lado pela narrativa é apenas mais uma tragédia sofrida pela mulher negra colonizada. Poderia, mas a possibilidade de inventar justificativas forçadas não conserta um livro.

Linguagem repetitiva, pensamentos circulares, páginas e mais páginas que não dizem nada, as 150 páginas que parecem muito mais. Existe muito pensar sobre pensar enquanto pouca coisa acontece, existem apontamentos óbvios (certos, mas óbvios) como "Oh não! Colonialismo não segue as palavras da Bíblia! Como pode?!", que beleza, verdade, mas é tratado superficialmente pois é o arco de um personagem que vem do nada para se tornar o terceiro protagonista dessa confusão disforme de livro.

Desfocado, perdido entre muitos temas e incapaz de aprofundar nenhum, personagens de cartolina que o autor abandona quando ameaçam se aprofundar, a tragédia mais dolorosa contida na obra foi sua leitura.
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Nat 29/07/2020

Ndani é uma jovem que foge de sua casa para Bissau para trabalhar como criada na casa de brancos. Ela procura pro alguém que aceite seus serviços, mas leva muitas respostas negativas, até que começa a trabalhar na casa de Maria Deolinda e seu marido. Mas sua patroa é católica fervorosa, não aceita seu nome e começa a chama-la de Maria Daniela. Além de sempre ter ficado encantada com as histórias de uma de suas madrastas sobre trabalhar em casa de brancos, Ndani também foi para a capital para fugir uma maldição imposta por um líder religioso de onde morava. Ao longo da história, Ndani comprova o que sua madrasta falava sobre o quanto os brancos eram diferentes dos negros.

O livro é bacana, mas fiquei confusa em alguns momentos porque o autor usou muitas palavras da cultura guineense, mas isso não foi tanto um problema porque ele incluiu um glossário. A história prende atenção porque a linguagem é acessível, e o autor não deixa pontas soltas, ele amarra todos os acontecimentos da história que está sendo contada. Livro muito indicado.

site: https://ofantasticomundodaleitura.blogspot.com/2020/07/198-livros-guine-bissau-ultima-tragedia.html
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Livros e Pão 07/04/2021

De fato é bem trágico
Gostei de entrar em contato com a escrita de Abdulai Sila, mas acho que o livro foi um pouco arrastado em alguns momentos.
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Conta o livro 09/02/2021

Retrato do colonialismo
O que mais me atrai na Literatura de Africa são os romances que trazem relatos dos tempos do colonialismo e escancaram as crueldades e hipocrisias do regime europeu no continente. Assim, o livro de Abdulai Sila não decepciona.
O livro vai se desenvolvendo de uma forma incrível que te prende até o final. Além disso a edição possui palavras em criolo de Guiné-Bissau trazendo um acréscimo de vocabulário para a leitora.
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Jules 04/04/2022

Um pouco enrolado...
A história é muito boa e faz o leitor refletir sobre questões muito importantes, mas em alguns momentos do livro eu me senti perdida, tive a sensação que em certos pontos da história o autor não contextualiza o leitor. Além disso senti que a história se enrolou em algumas questões que talvez não fossem necessárias, mas, fora isso, é uma leitura que vale muito a pena, seja para conhecer a literatura de outro país, ou para apenas desfrutar de um bom livro.
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Coisas de Mineira 27/02/2023

A ÚLTIMA TRAGEDIA DO ESCRITOR ABDULAI SILA
A Última Tragédia, de Abdulai Sila, com certeza, vai marcar sua vida como leitor das literaturas africanas de língua portuguesa.

Colonização, violência sexual, racismo, homicídio são temas presentes na narrativa que vai do amor à exploração. Com certeza este é o tipo de leitura que vai fazer você parar várias vezes para respirar um pouco e pensar em como o ser humano pôde (e pode) ser tão cruel com outro.

“Senhora, quer criado? ”

RESENHA DO LIVRO A ÚLTIMA TRAGÉDIA

Publicado em 1995 com o selo da Ku Si Mon Editora, divido em três histórias que se interligam durante a narrativa, A Última Tragédia é um romance que apresenta questões sobre a colonização em Guiné-Bissau.

Na primeira parte, nos deparamos com a história de Ndani, uma menina de 13 anos, portadora de uma maldição, segundo um feiticeiro de sua aldeia – Biombo – que sempre trará infelicidade, causando o mau ao seu redor.

Após tantos sofrimentos em sua aldeia, a personagem recebeu dicas de uma madrasta que explicou como é a vida dos brancos e a orienta o que Ndani tem que fazer capital Guineense. Nisso, a jovem se muda para Bissau em busca do sonho de trabalhar para uma família branca, observar e aprender como eles falam, se comportam e vivem. Além de aprender a ser “civilizada” de acordo com os costumes de pessoas brancas.

NDANI E A CAPITAL

A personagem muda-se para a capital e sai de casa em casa falando uma única frase “senhora, quer criado? ” E, nisso, após sofrer várias humilhações, passar fome, ela finalmente encontra a casa da Dona Linda, uma mulher branca, religiosa, casada e influente, que a explora em sua residência. Por ser cristã e achar que pretos não serão salvos, Dona Linda decide catequisar os pretos ao seu redor, como se fosse uma missão divina. No qual, Deus a escolheu para isso.

Ndani, ou melhor, Maria Daniela, nome que é lhe dado por sua patroa, não só aprende o que foi em busca, como também é catequizada por sua patroa e violada pelo marido de sua chefe. Sendo essa questão, então, o ponto crucial da tragédia que segue a personagem na primeira parte.

“Qual devia ser, naquelas circunstâncias tão dramáticas, a decisão certa a tomar? Qual devia ser, naquele momento concreto, a atitude mais correcta de uma mulher cuja tarefa fundamental era salvar almas perdidas e levá-las ao rumo certo? ”

UM CASAMENTO FORÇADO. O RÉGULO E NDANI

Nessa segunda parte do livro, Ndani encontra-se em um casamento forçado e como a sexta mulher de um régulo, que é o líder de uma aldeia no interior do país, Quinhamel. Nesse momento, a personagem depara-se em um momento tão doloroso, logo que ela tem relações indesejadas com o atual marido. No entanto, nesse desenrolar da narrativa, o foco é destinado mais ao Régulo, uma vingança e um testamento que ele quer deixar para o futuro Régulo, com orientações do que ele precisa ser e fazer.

Como dito, o Régulo é o líder, e, por isso, ele tem alguns “privilégios” em relação as pessoas da aldeia. No entanto, em um determinado momento da narrativa, ele é indagado pelo chefe (um branco de poder) sobre quem paga os impostos e afirma que todos que ali vivem fazem o devido pagamento, no mesmo momento é indagado se ele paga, porém, afirma que não, porque é o Régulo e nunca aconteceu dos anteriores terem que pagar.

Visto que pagando os impostos, ele seria um indígena como outro qualquer, e um Régulo, é uma pessoa para ser respeitada, dado que se começasse a pagar os impostos, as pessoas começariam a buscar um motivo para isso, logo que inventariam várias coisas, ele vai atrás de respostas.

O CONSELHO

A notícia de que o Régulo teria que pagar o deixa tão enfurecido ao ponto de ficar dois dias em sua cama até recorrer aos conselheiros para saber o que pode ser feito. Após a conversa, resolvem ir até a casa do Chefe para falar sobre a cobrança de impostos. Após o diálogo, o Régulo fica enfurecido e agora o seu foco é tramar uma vingança, mas uma algo que seja certeiro para não se prejudicar.

E o Régulo parte para saber sobre a vida do Chefe, onde ele mora, como é sua casa e analisa todos os seus passos em busca de uma vingança perfeita, mesmo fosse em forma de uma brincadeira, mas aí que ele encontra um problema: não é tão fácil se vingar de um branco, uma vez que os brancos sempre estão a pensar. Pensam em tudo.

Após isso, ele entra em uma questão: por que pretos não pensam no porquê das coisas? Diferente dos brancos, pretos nunca pensam e só aceitam que os brancos são superiores. Logo que se você falar sério com um branco, ele morre de medo.

RÉGULO E O PROFESSOR

No momento do testamento, uma figura muito importante da narrativa aparece, o professor. Ele, que se muda para dar aula na escola que a Dona Linda, a boa mulher, conseguiu que fosse construída com o seu projeto de catequizar as pessoas e ensiná-las a serem “civilizadas”.

O Régulo, em busca de sua vingança, recorre ao professor para redigir o testamento com as informações necessárias para ser um bom régulo, para saber o que ele precisa entender nesse mundo de brancos com poder.

Essa segunda parte é um misto de acontecimentos e o momento em que o leitor percebe que as três narrativas se encontram e estão interligadas. Ndani, o Régulo e o professor.

“Quando há um problema com um branco e ainda por cima um branco que não que não é qualquer, não se pode estar descansado. Deve-se estar desconfiado, mas nunca descansado. ” Um momento feliz. Um amor verdadeiro. O professor.

“A esperança tinha nascido muito antes de Obem. Quem não a conhecia podia até duvidar. Duvidar ou perguntar: Onde? Quando? Como? Ela não tinha dúvidas. A esperança estava lá, sentia-a, vivia dela. “

A ÚLTIMA TRAGEDIA É DIVIDIDO EM VARIAS PARTE

Nessa terceira parte da narrativa, Ndani encontra-se em apaixonada pelo professor e vivendo um momento feliz com sua família, tanto que em determinado momento ela até chega a questionar se de fato tinha um espírito mau em seu corpo, como disse o Djambakus – feiticeiro – anos atrás, fazendo com ela sofresse.

Com sua família formada e vivendo um dos momentos mais tranquilos de sua vida com o professor, Ndani vive um verdadeiro amor com o professor que gentil, carinhoso, amigo, parceiro. Nesse momento, a narrativa gira em torno do professor e da própria Ndani, ou seja, não há um foco maior, como na parte do régulo.

Todos em Catió gostam do professor. Ele é bom em tudo que faz e muito respeitado por todos ao seu redor. Ninguém tem o que reclamar dele. Um verdadeiro homem de respeito, que foi criado pelos padres e carrega consigo os princípios e valores que fora ensinado desde sua infância e levou para vida, sendo um hoje um homem de digno e honroso.

Na região em que vivia com sua amada Ndani, o professor costumava jogar futebol. As esquipes eram formadas por solteiros contra casados. Apesar do professor ser casado, juntou-se com os solteiros (tenta adivinhar o porquê, caro leitor rs). Ganhava todas as vezes que jogava e isso chamou muita atenção, revolta no time oposto e muita admiração, não só pelos torcedores, mas por sua esposa, Ndani.

Apesar de ser o melhor jogador, decidiu não ir jogar mais. No entanto, por ser tão bom jogador, o professor causava um desfoque muito grande quando não ia. Pois, ele era um sucesso em campo, fazendo o time oposto sempre perder a competição.

O PROFESSOR

Quando decidiu não ir mais, muitos foram a sua casa insistir para voltar, e o mesmo negando, até que sua mulher o convence a ir. Durante a partida, o administrador o agride simplesmente porque o Professor deu um passe de boa muito bonito.

Dias depois, o Administrador é encontrado em uma situação grave em sua residência, e, como não era de se esperar, todas as acusações caem sobre o Professor, simplesmente porque o administrador bateu no professor em campo. Nesse momento, Ndani se vê novamente abalada, sem paz, sofrendo pelo seu marido, destruído com as angústias, perseguições e injustiças.

Esse terceiro momento o leitor se depara novamente com a dor e a angústia da personagem e novamente volta a acreditar que ela realmente tem um espírito mau em seu corpo. E, por isso, tudo isso está acontecendo, além da culpa de ter convencido o marido a ir jogar futebol naquele dia.

A ÚLTIMA TRAGÉDIA É UM RETORNO AO PERÍODO CRUCIAL QUE FOI A COLONIZAÇÃO

“Ele fez cair a cabeça no peito dele e começou a chorar. Abraçou-o com mais força. Ele passou-lhe a mão pela nuca e, acariciando-a, deixou-a chorar. ”

Devo admitir que o Abdulai Sila, me deixou com o coração apertado durante toda a leitura de A Última Tragédia. Sem contar que sua escrita é tão fluída e envolvente que o leitor folheia várias páginas sem perceber. Você começa a leitura e só quer parar quando terminar.

A escrita do Abdulai Sila é bastante fluída, assim como a do Ondjack, autor de Bom dia, Camaradas, e do conto A confissão do acendedor de candeeiros. O autor também apresenta questões como colonização, independência e que são pontos presentes nas obras de Sila.

Ganhei o livro de um professor, e, com certeza, foi uma das melhores leituras que eu tive na faculdade e na vida. Com certeza é uma leitura surpreendente.

Um ponto muito legal sobre o livro é que no fim do livro tem um glossário que você pode consultar palavras que não são da língua portuguesa, uma vez que o crioulo se faz presente na narrativa do livro. Além do mais, vale mencionar que logo na capa, percebe-se uma alusão uma mulher branca e uma mulher preta.

SOBRE ABDULAI SILA

O autor Abdulai Sila, nasceu em Catió, em Guiné-Bissau, em abril de 1958, o autor é engenheiro eletrotécnico. Além de ser empresário e ter uma empresa de serviços de internet com juntamente do seu irmão. Símbolo da literatura guinennense, Sila uma figura importante para o seu país e símbolo para a sua literatura. Sila também escreveu o livro Eterna Paixão de 1994 e Mistida de 1997.

Por: Dalyson Oliveira
Site: www.coisasdemineira.com/2023/01/a-ultima-tragedia-abdulai-sila-livro/
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@funwithpam 02/06/2023

Anotações 'A Última Tragédia'
Eu adorei esse livro, porém é muito triste, trata da colonização portuguesa em Guine Bissau, a humilhação do povo nativo e inferiorização bem como de toda cultura. Foi uma leitura que fiz para a Leitura Coletiva 'Volta ao Mundo' que gerou discussões incríveis acerca de racismo, religião, esperança.
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