cristianlima 19/05/2020
há duas vias de percepção possíveis pra uma avaliação do livro: uma num sentido fenomenológico e outra num sentido mais crítico. a avaliação crítica perpassa por uma sensação muito desconfortável ao ler sobre os desejos sexuais de um idoso direcionados a uma adolescente em menoridade, que ele nem sabe o nome de verdade, e em uma base completamente fictícia, ele constrói sentimentos, impressões e devaneios que não conseguem se sustentar na realidade.
ademais, há uma ignorância por parte do velho em relação à condição social de Delgadina, que trabalha incansavelmente numa fábrica de botões e se prostitui para ajudar no orçamento familiar, mas nesse último caso, talvez seja querer que a história se adeque a padrões normativos e talvez um dos méritos do livro seja pelo possível desconforto que ele causa, mas mesmo levando em conta essa possibilidade, é estranho a forma como ele lida com mulheres, e em especial com -a mulher- Delgadina, sempre calada, dormindo, enquanto é observada e tocada. numa outra perspectiva fenomenológica, o que me chama a atenção são as reflexões decorrentes da sexualidade na velhice, da própria velhice, do que é esperado de um velho, e como ele lida com o final da vida.