Laiza 05/08/2020
O Palácio da Meia-Noite - Carlos Ruiz Zafón
Dando continuidade ao projeto de leitura cronológica das obras de Carlos Ruiz Zafón, planejada pela Duda Menezes do Book Addict, no mês de julho fiz a leitura de O Palácio da Meia-Noite, que faz parte da Trilogia da Névoa. Eu li o primeiro livro da trilogia - O Príncipe da Névoa - lá em 2013, relendo ele em junho desse ano. Sempre quis ler mais obras de Zafón, já que esse primeiro contato foi muito marcante para mim. Aproveitando a leitura conjunta, finalmente decidi dar continuidade, e só me arrependo de não ter feito isso antes!
"Em minha ingenuidade, cheguei a pensar que a distância, no espaço e no tempo, apagaria a marca do passado, mas nada pode mudar nossos passos perdidos." P. 70
Apesar de ser uma trilogia, ao meu ver não é necessário ler os livros em ordem, visto que se tratam de histórias diferentes e que não possuem continuidade entre si. Em O Palácio da Meia-Noite acompanhamos a história dos gêmeos Ben e Sheere, que não sabem da existência um do outro, pois foram separados assim que nasceram. Sheere vive com sua avó, mas elas não possuem moradia fixa; estão sempre viajando e se mudando, o que faz com Sheere se sinta solitária, já que não possui amigos de sua idade. Já Ben cresceu em um orfanato, em que juntamente com seus companheiros Ian, Michael, Seth, Isobel, Siraj e Roshan, que juntos formam a Chowbar Society. O grupo formado pelos jovens faz suas reuniões à meia noite, em um casarão abandonado chamado por eles de Palácio da Meia Noite. Porém, todos estão prestes a completar 16 anos - idade em que deverão deixar o orfanato e viver por conta própria -, e assim a última reunião deles como sociedade se aproxima. Porém, forças sobrenaturais e perigosas aproximaram Ben e Sheere, e com a ajuda de seus amigos, descobrirão a verdade sobre seu doloroso passado.
"A Chowbar Society nasceu com duas missões imprescindíveis. A primeira, garantir a cada um de seus sete membros a ajuda, o apoio e a proteção incondicional dos outro, diante de qualquer circunstância, perigo ou adversidade. A segunda, compartilhar os conhecimentos que cada um de nós ia adquirindo e colocá-lo à disposição dos outros, aparelhando-nos para o dia em que teríamos que enfrentar o mundo sozinhos". P. 45
Essa foi a minha segunda experiência com o Zafón, e da mesma forma que no primeiro livro, fiquei totalmente imersa dentro da história. O autor tem uma escrita tão gostosa e envolvente que fica difícil largar o livro; ele tem a habilidade de criar uma atmosfera que transborda a própria inquietação e medo dos personagens. Ainda mais em relação aos elementos sobrenaturais do enredo; parece que você sente no ar todo o mistério e o extraordinário. Assim, fica muito difícil não se sentir dentro desse universo e não ficar ansioso com a solução do mistério
"- Houve um tempo em minha vida em que eu acreditava que nada tinha mais força do que o amor. é verdade que o amor tem força, mas ela é minúscula e empalidece diante do fogo do ódio" P.112 -113
Os personagens também são apaixonantes. Zafón fala no inicio do livro que ele queria escreve uma história que pudesse ler lida tanto por adultos quanto por crianças; é ao notar a construção dos personagens que consigo ver a forma como ela pode atingir ambos os públicos. Se o mistério nos prende até o final da história, é através dos personagens que a gente se conecta com tudo. Ben, Sheere, Ian, Michael, Seth, Isobel, Siraj e Roshan possuem especialidades e habilidades distintas, que ao longo da história possuem seu destaque. O marco da idade de 16 anos não apenas representa o início de uma perigosa aventura, mas também é quando os órfãos devem deixar o lar que sempre viveram para construir uma vida própria, não mais sob os cuidados de seus tutores. Acompanhamos os personagens se depararem com o perigo e as aflições inerentes à vida; o momento de transição em que eles deixam de ser crianças e precisam se arriscar, tomar decisões e lidar com perdas e com o medo. A leitura torna-se tão prazerosa também pela espontaneidade e carisma de seus personagens.
"Ainda precisávamos aprender que o Diabo criou a juventude para que cometêssemos erros e que Deus instituiu a maturidade e a velhice para que pudêssemos pagar por eles". P. 105
O desenvolvimento da história se dá de forma bem gradual e bem estruturada; não é um livro difícil de acompanhar e ele também é bem curto. A intensidade do enredo pode facilmente te captar e você conseguiria terminar o livro em um dia, de tão envolvido que você fica. O mistério também é muito interessante; gostei de como o Zafón traz elementos culturais bem fortes, falando sobre a cultura indiana e alguns pontos sobre a colonização britânia. Além disso, o mistério e os elementos sobrenaturais também carregam bastante profundidade cultural e histórica. Temos em mãos uma história que fala acima de tudo de amizade e afeto, e conforme vamos chegando ao final, vamos ficando angustiados com o que pode acontecer. O desfecho é bem emotivo e tocante, e demonstra como o autor consegue ousar em trazer uma história autêntica, capaz de marcar o leitor.
"Eu, como os homens da cidade maldita que pagam o preço pelo passado, também espero pelo dia em que as lágrimas de Shiva cairão sobre minha vida para me livrar sempre da solidão." P.81
O Palácio da Meia-Noite é um livro tipo que você lê despreocupadamente, com um sorriso e o com o coração ficando cada mais mais quentinho, mas também aflito. Me parece uma boa história para quem está de ressaca literária e precisa de algo leve e agradável. Para mim, foi uma experiência incrível, aumentando ainda mais a minha vontade de ler tudo do autor. Já estou super ansiosa para a próxima leitura do projeto, Luzes de Setembro, terceiro livro da trilogia da névoa.
"Sabiam que talvez nunca mais falassem dos acontecimentos daquela noite e que, se algum dia o fizessem, ninguém acreditaria. No entanto, naquele amanhecer, todos compreenderam que não passavam de meros convidados, passageiros ocasionais daquele trem vindo do passado." P.164
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