Paula 25/11/2012Tive a feliz oportunidade de ler O Mendigo, de Edson José da Silva Santos, através do Book Tour realizado pela Camila do Blog No Limite da Leitura (http://nolimitedaleitura.blogspot.com.br) em parceria com o autor.
O Mendigo foi um livro que me emocionou e me surpreendeu, pois tenho o incrível "dom" de adivinhar o final das coisas, mas acho que isso se aplica apenas a filmes agora, rs.
Com uma narrativa suave, simples e delicada, Edson nos torna alunos de Herbert, o mendigo.
"Pode ser que ninguém melhore da noite para o dia, mas, paulatinamente, com bons exemplos, boas conversas e boas atitudes, as pessoas chegam ao patamar de verdadeiros seres humanos. Eu aprendi e ainda estou aprendendo muito com a simplicidade dos amigos da comunidade, com a bondade dos amigos da vila e adjacências e a sabedoria de tantos outros seres humanos que já passaram aqui na Terra. Hoje eu sei que o ser humano não é medido pelo tamanho, cor da pele, religião ou posição social, e sim pela grandeza dos seus atos." (p. 167)
O livro passa longe de ser clichê ou de tentar dar uma "lição de moral". Herbert é um filósofo da vida e não impõe seus pensamentos ou suas opiniões: ele fala, dialoga e faz com que o outro chegue à sua própria conclusão.
Herbert entra na vida de alguns jovens que vivem em uma vila quando alguns deles estão jogando futebol e a bola atinge um senhor. Marcos, um dos garotos, vai ajudá-lo e volta para a sua turma.
Os garotos começam a falar sobre o futuro de cada um, as faculdades que estão cursando e Sandra entra no meio:
"- Ideal que eu saiba não enche barriga, nem compra roupas boas.
- Mas sem ele você não vive.
- Sem dinheiro é que não se vive.
- Deixa de falar besteira, Sandra - retruca Carlos, o artista da turma. - As pessoas têm que ter ideais para poder ter uma profissão e viver pela qualidade do seu trabalho.
- Vocês homens é que têm que trabalhar, eu sou mulher... É só achar um homem rico, casar e pronto. E tenho certeza que não vai ser com nenhum de vocês, que só pensam em ideal, ao invés de pensar numa forma de ganhar dinheiro." (p. 12)
Sandra realmente é irritante e é estranho vê-la fazer parte de um grupo tão diferente, com formas de pensar completamente contrárias as dela. Sim, dá para odiar a Sandra no começo, dar um apertão no seu braço e dizer que as coisas simplesmente não funcionam assim e que sua cabecinha está tão vazia quanto um isqueiro sem gás, ou pior, um isqueiro repleto de gás capaz de explodir e cometer as maiores besteiras.
Quando encontram Herbert novamente ele comenta sobre a comunidade em que vive, onde quando um pega comida, roupa usada ou até mesmo brinquedo usado, dividem uns com os outros. Todos ficam felizes com a possibilidade de ajudar a comunidade e, com exceção de Sandra, reúnem-se e com empenho conseguem brinquedos, roupas, remédios, enlatados etc. Além disso, organizam um mutirão naquela área com o apoio das faculdades, já que cada um realiza um curso diferente e assim Marcos, como estudante de Direito, ajuda com documentações; Márcia, estudante de Medicina, arruma algumas consultas; Simone, que faz Psicologia, ajuda nas relações pessoais; Carlos, estudante de Arquitetura, pretende fazer um movimento artístico e; Marcelo, estudante de Educação Física, organiza gincanas esportivas.
"O lugar era realmente feio e de odor desagradável; ela se compadeceu e seus olhos ficaram úmidos. Herbert, vendo a situação de Márcia, se aproxima dela.
- Eu sei no que a menina Márcia está pensando - Herbert abre um leve sorriso -, mas eu lhe peço que tire essa tristeza do seu coração. Olhe a sua volta e me diga se vê algum morador deprimido. As pessoas aqui têm poucos recursos, mas muita coragem e vontade de viver, a criatividade supera algumas das nossas necessidades, e aqui também sobra algo que em muitos lugares abastados as pessoas desconhecem: solidariedade." (p. 48)
A ida dos jovens à comunidade acabou sendo muito agradável e feliz tanto para os moradores quanto para os jovens. Herbert transbordava alegria.
Alguns dias depois Sandra é abordada e só não é atacada por dois jovens pois Herbert a salva, apesar disso ela grita na delegacia que ele é um tarado e que deve ser morto. Felizmente um dos jovens é capturado e confessa o que aconteceu, delatando seu comparsa. Apesar de tudo, Herbert não sente raiva ou guarda rancor de Sandra.
Após o incidente a mãe de Sandra resolve se reunir com os pais de todos os jovens o que surte um grande efeito. A mãe de Sandra possui grande repúdio por Herbert, mas o restante dos pais quer conhecer o mendigo que agora tornou-se amigo de seus filhos. Neste momento observamos as características de pais e filhos, jovens que refletem o comportamento que observam e absorvem em casa e ao conhecerem Herbert todos os pais ficam mais tranquilos.
É claro que a mãe de Sandra não concorda com nada disso, coloca a filha de castigo, não a deixando ver seus amigos e tentando convencê-la, como sempre o fez, de quê Sandra é uma garota bonita e que merece as melhores coisas da vida.
O pai de Sandra, sempre ausente, tem uma conversa franca com Herbert e se assusta com a possibilidade com o que a filha pode se tornar. Nunca parou para cogitar a idéia de conversar com a filha e perguntar sobre seus sonhos e neste momento frágil, em uma depressão profunda, Sandra se abre com o pai.
Herbert tinha razão.
"Nós conhecemos as atitudes das pessoas, mas nem sempre os motivos que levam a essas atitudes." (p. 135)
Todos os jovens, desde o início, estavam curiosos para saber sobre a história de Herbert. Ele havia comentado que nem sempre havia sido mendigo e que um dia chegaria a hora de contar a sua história. Quando este dia chega é uma surpresa e tanto, para os jovens e para o leitor. Um relato, um desabafo, uma despedida.
"Eis aqui um mendigo que distribui as maiores riquezas que o ser humano pode possuir, que é o amor, o respeito, a simplicidade e a paz." (p. 165)
O Mendigo é um livro lindo, encantador e verdadeiro, emociona e ensina, é cheio de dor mas também regado de amor.
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