Fê Gaia
03/07/2010Ação psicológicaRealmente um livro fora do comum. A maior parte da trama se passa dentro das mentes dos personagens, sendo as ações e diálogos externos apenas o combustível que alimenta os conflitos internos em que se debatem as pessoas descritas na trama.
No início da história e em grande parte do livro, o foco está na personagem Françoise, mulher serena e devotada ao trabalho, que vive a longos anos uma relação de amor e cumplicidade com Pierre.
As primeiras reflexões de Françoise transmitem uma serenidade agradável, em que ela finge se indignar com seu idílio afetivo, que a mantém no marasmo da felicidade.
Com a presença cada vez mais marcante de Xavière em sua vida, a tal convidada, seus pensamentos se tornam cada vez mais angustiados e sombrios, transformando a atmosfera em algo lúgubre e desagradável.
Xavière é uma moça vinda do interior, que é acolhida em Paris por Françoise. Ela é mesquinha, extremamente egoísta, ciumenta e mordaz, e aos poucos vai envenenando a relação de Pierre e Françoise, por pura inércia desta, que não faz nenhum esforço para se auto-afirmar.
Gerbert, uma espécie de protegido e amigo de Pierre, acaba se envolvendo nesse "trio", o que aumenta a crise num primeiro momento. Depois, ele acaba funcionando como um porto seguro para Françoise, que possui grande ternura por ele.
Fora do núcleo central ronda Elisabeth, irmã de Pierre, personagem repleta de rancor e inveja pelo casal. O ódio maior, no entanto, é devotado a si mesma, por se julgar inteira uma farsa, um cenário cuidadosamente criado, mas oco por dentro.
O final me pareceu absurdo, embora coerente com a personalidade de Françoise, que não parece ter forças para se livrar da presença obsessora de Xavière de uma maneira simples e sensata.
Recomendo e muito a leitura.