Daniel 28/10/2017
Se Tarantino fosse um escritor brasileiro
Apontado pela crítica como um dos maiores escritores brasileiros vivos, mestre da narrativa curta nacional, Rubem Fonseca é uma figura única na literatura brasileira contemporânea. Essa coletânea, publicada originalmente em 1970, reúne dezenove contos consagrados do autor, que vão do suspense policial à ficção científica, do noir ao brutal, em uma leitura veloz e envolvente.
A prosa de Rubem Fonseca é essencialmente visceral. Em sua literatura, não há assunto sórdido o suficiente para não ser retratado. Fonseca é um realista com técnicas pós-modernas.
Utilizando - se de uma linguagem contida, dura e enxuta, repleta de gírias, palavrões e descrições rápidas, como flashs cinematográficos, os contos retratam situações típicas do submundo das grandes cidades, repleto de ladrões, policiais, psicopatas e prostitutas. Mesmo tendo sido publicada na década de 70, a obra continua inovadora por sua ousadia formal, usando os mais diferentes recursos para captar a atenção do leitor e criar uma narrativa ágil. Há contos em forma de notícia de jornal, crítica literária, em versos, em diálogos e outros formatos que impressionam pela originalidade.
A violência, tema que permeia toda a obra de Rubem Fonseca, pode ser sentida em toda a sua intensidade. É uma violência ao mesmo tempo sórdida e lírica, sombria e cômica, quase como se estivéssemos assistindo a um filme do Tarantino. Aliás, acho que se Tarantino fosse escritor suas obras não seriam muito diferentes das de Rubem Fonseca.
Personagens icônicos como o advogado Mandrake, Lúcia McCartney e outros anti - heróis demonstram a habilidade do autor para criar personagens complexos, humanos e imprevisíveis.
Por trás de uma atmosfera noir, em tramas as vezes irônicas, as vezes perturbadoras, Fonseca reflete os dramas humanos universais: a traição, a violência, a pobreza e a indiferença para com o próximo.