Rick-a-book 12/07/2011
Três Soldados
"O coração das Trevas" é provavelmente o primeiro livro que vem à mente quando pensamos em literatura sobre de guerra. Não poderia deixar de ser desta forma, uma vez que a maestria de Conrad em nos guiar pela trama insana, quase Kafkesca, é indiscutível.
John Dos Passos, proveniente de uma linhagem portuguesa, daí o sobrenome, foi uma figura atuante desde o início dos anos 20 até sua morte, em 1970, passando da pintura, à produção de peças de teatro e romances, e à crítica política.
Neste romance, ele expõe a rotina dos soldados na primeira guerra mundial, baseado em sua própria experiência como voluntário e como motorista na França e na Itália. A descrição nua e crua de Dos passos é ao mesmo tempo chocante e risível, ainda que fria em essência. Ele relata toda a falta de lógica existente no mundo militar com detalhes que fazem qualquer um ficar bestificado com certas linhas de pensamento.
Em uma carta a um amigo, anos antes, ele teria escrito: "A guerra, não importando onde fosse, consistia em tédio, escravidão a todas as idiotices militares, e um interessante tipo de tristeza, juntamente com a necessidade de calor, pão e asseio. Não era nada além de uma enorme e trágica digressão na vida das pessoas, algo que trouxe morte ao intelecto, morte à arte, morte à tudo que importava."
John fala da perda de tempo que é estar na guerra sem mencionar sua posição (obviamente) contrária. É o óbvio ululante. E a importância desta obra para discussões sobre crítica anti-guerra é sine-qua-non.
Passando pela voz de três soldados americanos, o romance relata a morosidade e falta de razão para toda a máquina de guerra: soldados alinhados por horas sem motivo específico, ordens dadas à esmo, ordens obedecidas sem a menor reflexão (quem precisa de um soldado que pensa?). Aliás, nas poucas vezes em que alguém tenta raciocinar sobre algo mais concreto, o resultado é inexpressivo ou desagradável. Como estudo da psique humana e toda a burrice que é lutar contra alguém, o livro é uma verdadeira obra de arte. Sua ação, quase desprovida de ação, é envolvente e curiosa.
Apesar de desconhecido pelo público brasileiro, Dos Passos foi descrito por Sartre como "o maior escritor de nosso tempo."