Ju Oliveira 02/05/2011Difícil falar de um livro tão complexo e até mesmo perturbador. O Ladrão de Cisne (assim mesmo, cisne no singular) fala sobre obsessão, amor platônico e descobertas sobre si mesmo.
O psiquiatra Andrew Marlow, tem uma vida tranquila e sossegada. Metódico e organizado ele leva sua vida de forma simples, atendendo seus pacientes na clínica Goldengrove. Seu tempo livre é ocupado com a pintura, sua grande paixão e pela leitura. Mas toda essa tranquilidade acaba, no dia em que ele recebe como paciente na clínica psiquiatrica, um renomado pintor, que em um acesso de loucura, tentou “esfaquear” um famoso quadro na Galeria Nacional. Robert Oliver simplesmente entrou na Galeria com um canivete e foi barrado pelos seguranças antes de prejudicar a obra. Andrew então tenta entender o que Robert pensou ao tentar destruir a obra, uma imagem de nu feminino, deitada sobre alguns tecidos e ao seu lado um cisne, em uma floresta ao entardecer. Mas, para dificultar ainda mais as coisas para o psiquiatra, Robert se recusa a falar, não fala mais nenhuma palavra.
Andrew encontra com Robert Oliver um maço de cartas, escritas em francês, datadas de 1879, mais de 100 anos atrás. São cartas trocadas entre Bèatrice de Clerval e o tio de seu marido, Olivier Vignon. Em seu quarto na clínica psiquiatrica, Robert desenha incessantemente uma mulher de longos cabelos escuros e vestida à moda francesa do século XVIII. Ele pinta vários e vários quadros, mas sempre com essa mesma mulher como plano central de sua obra. Andrew fica cada vez mais intrigado com as cartas, a mulher misteriosa e o silêncio de Robert. O psiquiatra começa então uma jornada incessante em busca da verdade de Robert Oliver. Nessa busca, ele acaba fugindo completamente de sua rotina, seu método de trabalho. O médico acaba ficando ele mesmo obsecado por essas cartas, essa mulher misteriosa não lhe sai mais da cabeça. Em busca da verdade, ele acaba conhecendo as mulheres que fizeram parte da vida de Robert. E através delas, ele acaba conhecendo um pouco mais sobre a vida desse misterioso pintor. E assim, Andrew Marlow acaba literalmente vivendo a vida de Robert Oliver.Chegando ao ponto de ter que descobrir a qualquer custo a verdade, mas agora não mais por seu paciente e sim por ele mesmo.
Não me lembro de ter lido uma história tão intensa como “Os ladrões de Cisne”. Os capítulos do livro são dividos entre os narradores da história: Marlow, o psiquiatra, Kate, a primeira esposa de Robert Oliver, Mary, a amante de Robert e também simultaneamente à narração dos personagens principais, temos uma narração do ano de 1879, relatando a vida de Bèatrice de Clerval, seu marido Yves e o tio de seu marido, Olivier Vignon. Todas as cartas trocadas entre Bèatrice e Olivier também são narradas no livro. Apesar dessa quantidade de divisões nos capítulos, a história é bem definida, só que é aquele tipo de leitura que tem que se prestar muita atenção aos fatos. O assunto pintura é constante durante toda a história, mas sem ser massante. O único ponto que eu considero desfavorável no livro, é o excesso de detalhes nas histórias contadas pelas mulheres na vida de Robert Oliver. A autora poderia ter contado a mesma história sem o excesso de informação que eu considerei desnecessário. A autora consegue deixar o leitor apreensivo, vendo a angústia do psiquiatra em decifrar o enigma do quadro e da mulher de cabelos escuros. O final é ótimo, surpreendente. Um ótimo livro, pra quem quer uma leitura mais madura. Recomendo!
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