spoiler visualizarSueli 21/10/2012
Esse Livro Roubou Meu Coração!
“Ninguém sabe nada a respeito de um quadro a não ser o próprio quadro. Enfim, um quadro precisa ter algum mistério para funcionar.” (pág. 279)
Penso que ninguém, nem mesmo o autor, sabe muito sobre o destino de seu livro. Será sempre uma incógnita o resultado da interação de uma obra com os seus diversos leitores.
Em Os Ladrões de Cisne, Elizabeth Kostova nos brinda com uma infinidade de perguntas: Quem é Robert Oliver? Por que um artista tão reconhecido teria feito o que fez? As grandes obras de arte existiriam sem a obsessão de seus criadores? Como o psiquiatra Andrew Marlow poderia ajudar Robert se ele recusava-se a falar?
A autora então, deu voz a diversos personagens para que pudéssemos conhecer esse personagem sedutor e enigmático, mas se esqueceu de nos apresentar a versão Robert Oliver, de Robert Oliver. Uma sensação muito frustrante!
Outra escritora muito querida, a Martha Medeiros, disse que costumamos nos delatar ao escrever, e acredito que o surto do personagem central, deve ter acontecido com Elizabeth Kostova a partir da sua observação do quadro Neve em Louvecienne, de Sisley, já que o livro começa e termina com a descrição e a motivação do mesmo, de uma forma muito inspirada e criativa.
Me envolvi demais, pesquisei sobre o assunto do livro, e automaticamente imaginei que estaria lendo um livro da categoria romance e psicanálise, algo como Sybil, de Flora Rheta Scheiber ou Nunca Lhe Prometi Um Jardim de Rosas, de Hannah Green, ambos lidos por mim, na época de seus lançamentos, mas me enganei totalmente! Esse é um livro sobre pintores, suas obsessões e sobre os grandes mestres do impressionismo.
A autora é uma artista da palavra, seu texto é fluido, rico e muito emocionado. Era exatamente o livro que eu estava precisando ler. Mas, não é um livro para ansiosos, é um livro para ser apreciado, e se por um acaso você não resistir à tentação e pesquisar sobre os quadros tão belamente descritos, com certeza, cairá na mesma armadilha que eu.
Mas, se você for um conhecedor das belas artes e conhecer toda a história do impressionismo, talvez não tenha a mesma emoção que tive ao descobrir que havia sido descaradamente enganada por essa escritora fantástica, mas muito econômica nas cenas românticas. Se houver algum senão em relação ao livro é justamente a falta de sensualidade. Ela não fez nenhuma concessão nesse aspecto, mas também não senti nenhuma falta!
Em lugar do erotismo ela nos deu uma das relações familiares mais lindas que já li em todos esses anos. Acho que Elizabeth Kostova acredita no ditado que diz que a maçã não cai muito longe do pé, e Andrew Marlow tinha a quem puxar.
Não pude deixar de notar certa semelhança com o personagem de Raymond Chandler, o detetive particular Marlowe e o Marlow psiquiatra, na obstinação em resolver o enigma de seus clientes.
Mas, não há nada mais triste que terminar de ler um livro fascinante. Fiquei perdida, me sentindo desabitada, abandonada por todos aqueles personagens maravilhosos que ganharam forma através de uma trama bem escrita, oscilando no tempo e entre diversas cidades, países e continentes.
Tenho que ressaltar a qualidade da revisão e a capa de muito bom gosto. Só estranhei as datas, que nas minhas contas não fecharam de jeito nenhum.