Paulo Silas 16/12/2021Tendo como mote de uma aprofundada reflexão o prazer do texto, Roland Barthes registra aqui de forma acadêmica um pouco daquilo que funda, envolve e estabelece o tema, tratando com ênfase do processo de fruição que o texto - o texto em si, não necessariamente em seu processo de escrita ou leitura - enseja. Com uma linguagem difícil e de compreensão complexa - justificada pela multidisciplinaridade que embasa o trato -, a obra exige esforço para que sua leitura venha ser de fato aproveitada.
Barthes defende que a escritura é a prova de que o texto deseja o leitor, definindo a escritura como sendo "a ciência das fruições da linguagem". Para que o texto - enquanto objeto de abordagem do livro - possa ser assim compreendido, de forma plena e no âmbito daquilo que representa, é necessário que seja feita uma leitura atenta e não corrida, pois, conforme aponta o autor, "não devorar, não engolir, mas pastar, aparar com minúcia, redescobrir, para ler esses autores de hoje, o lazer das antigas leituras", a fim de que possa ser o leitor um leitor aristocrático. A forma com a qual Barthes elenca o texto como foco de sua atenção analítica é o texto por si próprio, já que "não existe por trás do texto ninguém ativo (o escritor) e diante dele ninguém passivo (o leitor)", pelo que "não há um sujeito e um objeto". Aqui se nota a presença da conhecida proposta barthesiana da morte do autor enquanto instituição - daí a análise centrada no (e apenas no) texto. Assim, o que se tem como objeto de estudo é o texto, cujo prazer abordado na obra se dá mediante a relação desse com o leitor, o que é feito e um sentido estrutural.
O livro é pequeno, constando com menos de 80 páginas. O teor, porém, como já registrado, é complexo e de difícil compreensão, de modo que se exige uma leitura bastante atenta do leitor para que se possa acompanhar o complicado raciocínio de Barthes. De todo modo, o esforço vale a pena. Para além dos aspectos literários e linguísticos, a influência da psicanálise no pensamento do autor é evidente, cujos conceitos que compõem esse saber aparecem com frequência na obra, como quando por exemplo aduz que "o texto é a linguagem sem o seu imaginário". "O Prazer do Texto" é um livro para ser lido vagarosamente, tal qual o autor propõe a leitura do texto, possibilitando assim, talvez, uma maior compreensão do que nele está dito.