Steph.Mostav 16/06/2020"É escrevendo que se vira escrevedor."Queneau é um escritor francês bastante elogiado por Calvino, que já dedicou a ele um ensaio muito esclarecedor que consta no "Por que ler os clássicos?". Sua literatura tem muito de experimentação, de jogos lógicos, matemáticos, fonéticos, semânticos. Em Exercícios de estilo, a proposta é reescrever a mesma cena em 99 estilos diferentes, em uma brincadeira de que até seus tradutores participam, tanto para adaptar seus trocadilhos para cada respectiva língua quanto para criarem eles mesmos novos estilos que melhor correspondem às especificidades culturais de cada país. É bem o tipo de experiência que comprova que, além do conteúdo, muito do que influencia nossa maneira de ler as histórias é a forma, a linguagem. A maior parte dos meus estilos preferidos foram os que alteravam a narração através do ponto de vista (a versão reacionária e o "Poliptotos" são hilárias), do foco de atenção (sentido da visão, tato, olfato e assim por diante) ou gênero textual (teatro, ode, soneto), mas os lipogramas foram o que mais me surpreendeu. Mesmo em um texto curto, narrar uma mesma cena cinco vezes diferentes, usando apenas palavras sem uma das vogais é um exercício e tanto de vocabulário. O esforço do tradutor é louvável e tanto a introdução quanto o posfácio são ótimos textos de apoio.
"É escrevendo que se vira escrevedor."