Danilo Barbosa Escritor 25/07/2012Somos responsáveis por nossos atos?Veja mais resenhas minhas no Literatura de Cabeça:
http://literaturadecabeca.com.br
A fome pela leitura é uma faca de dois gumes.
Por quê? Vocês devem estar se perguntando.
Pois bem, vou tentar explicar.
O hábito constante da leitura tem uma série de vantagens: permite que você viaje por universos nunca antes imaginados, melhora o seu vocabulário e apesar de ser uma atividade extremamente solitária, é um perfeito assunto para conversar, quando muitas vezes não temos o que falar. Até aí, todo mundo sabe... O que pouca gente assume é que quem lê demais, começa a ficar cada vez mais chato para gostar de novos livros. Muitos dos temas propostos já se tornaram batidos e muita coisa que a galera acha excelente já não nos comove mais. Esse é um dos grandes motivos que me prometi a fazer cada vez menos resenhas. Afinal, eu tenho equipe fodástica para fazer isso...
Então, se eu aparecer por aqui agora é só por coisas que eu irei falar: Puxa, isso é um diferencial, ok?
Ultimamente estava numa fase meio pra baixo e nenhum livro parecia me satisfazer, até que peguei o Destino (Suma das Letras, 240 páginas), o primeiro volume de uma trilogia magistralmente criada por Ally Condie.
Sei que todo mundo deve ter lido algo já sobre essa obra, nas mais diversas opiniões diferentes. Se você ainda não leu nada (Em que WTF de planeta você vive?!), o livro fala sobre Cássia, uma jovem que vive em um futuro nada promissor. Lá, a vida de todos é regida pela Sociedade - eles determinam onde você irá trabalhar, o que vai ler, escutar e de que forma vai se divertir, até com quem você vai se casar e com qual idade irá morrer - graças a tecnologia avançada e conhecimento "acima de tudo".
Bom, quando a trama começa, nossa mocinha está indo para o Baile do Par, a festa onde ela descobrirá quem vai ser o seu futuro marido, determinado pela Sociedade (pois é, voltamos aos conceitos das nossas bisavós). Nesta noite, ela descobre que o seu marido será Xander, seu amigo de infância e o mais bonito da turma. Ele é leal, companheiro, inteligente e forte. O homem perfeito para construir um futuro.
Nessa noite, ela recebe um chip com as informações do seu noivo. Assim ela começa um relacionamento sem mistérios ( e também sem as delícias da descoberta), mas quando ela põe o mesmo no seu terminal, não é que aparece outro cara como marido dela? E o pior é que ela também o conhece: ele é o Ky, um jovem sensível com alma de artista. Perdida entre esta questão, Cassia recebe no dia seguinte a visita de uma funcionária dizendo que o chip dela deu um erro e que o verdadeiro par dela é Xander...
Mas quem manda de verdade no coração da moça. Resta a ela descobrir...
Gente, juro que este livro me encantou! Pelo texto extremamente bem feito, apesar de que muita gente irá achá-lo parado e pelos pensamentos filosóficos contidos na obra.
O nome de Sociedade desta agência repressora à la 1984 não foi à toa. Ally Condie usa uma história de ficção para nos mostrar como vivemos em uma sociedade de espetáculo, onde para não ser banido ou ignorado você deve seguir um padrão regido por poucos. Vivemos constantemente com comunicação massificadora nos dizendo como vestir, calças, viver e amar. Esse sistema de opressão se torna cada vez maior diante do correr das páginas, trazendo uma tensão visível que poucas obras do gênero conseguem passar. Muitas vezes comparei o regime do Sistema ao hitlerista, onde as pessoas confiavam cegamente, mesmo parecendo tudo tão errado para quem via de fora. E como o regime que vivemos atualmente, quantos outros que fizeram parte da nossa história, indagar e buscar a verdade pode causar danos irreversíveis tanto para você quanto para as pessoas que ama.
Acho que a capa do livro define exatamente cada um de nós. Presos em bolhas de vidro, achando-nos seguros, mas alheios do que acontece no mundo. E sem perceber que nossos falsos casulos no transportar pelo ar e que apenas um roçar de dedos ou um vento mais forte pode nos destruir. Resta a cada um romper suas bolhas e encarar a realidade.
Ler Destino me possibilitou buscar respostas para as minhas perguntas mais básicas. Até que ponto temos de nos submeter pela vontade alheia? Será que a felicidade alheia está sempre ligada a nossa? Melhor ainda, será que para sermos nós mesmos estamos dispostos a arcar com todas as consequências?
Abra a primeira página e não tenha medo de continuar. Depois você se faz essas perguntas...
Garanto que terá as respostas que busca.