legarcia 14/02/2024
Que a rosa floresça em cada um de nós
Sempre é interessante os primeiros livros que lemos de grandes escritores. Aprecio muito as incríveis descobertas que fazemos ao entrar no mundo criativo de um excelente autor. Já havia lido alguns poemas isolados de Drummond, mas ?a rosa do povo? foi o primeiro livro seu que li. E esse sentimento de estar maravilhada fez-se presente ao me deparar com os versos contidos aqui.
Essa obra, escrita durante os anos da Segunda Guerra Mundial, reune poemas valiosos. Podemos perceber um poeta fora da torre de marfim e escrevendo sobre os horrores que aconteciam no seu tempo. ?Nosso tempo?, inclusive, é título de um dos poemas mais pujentes, o qual merece meditações infinitas. É nele que Drummond escreve sobre os males daquela sociedade partida, a qual há muito não se encontra homens completos.
São de uma profundidade enorme os poemas dessa obra; cada verso ilumina fragmentos da realidade humana, principalmente a pós-moderna, a qual é tão volátil como um gás. Uma sociedade detentora de mais informações e ciência do que nunca antes, e mesmo assim resta a impressão de que as coisas não são tão claras como eram.
Drummond escreve que a literatura é como um verme que corrói as estruturas da sociedade. E isso é provado com seus versos, os quais expõe ao leitor mecanismos e situações antes não percebidos por um olhar desatento. É como se ele pegasse com as mãos os problemas de nossa sociedade e nos fizesse encará-los por algum tempo. Assim, nós, que vivemos com miúdas certezas as quais nem são nossas, podemos ser despertos desse sono apático. E, talvez, por meio disso, a rosa do povo possa nascer dentro do indivíduo para que ele embeleze e fertilize um pouco o solo apodrecido.
Essa obra com certeza merece muitas releituras para que possamos meditar e utilizar as poesias como substrato para reflexões. Saio desse livro incrivelmente impressionada por ter encontrado novas e grandes possibilidades literárias e por ter contato com o mundo criativo e filosófico de um dos maiores gênios de nossa literatura.