Tayene 28/12/2015Muito mais que aventuras caninasCaninos Brancos é um livro que surpreende desde o início por ser um história narrada em terceira pessoa, cujo protagonista é um lobo ou "quase lobo", mas que em nenhum momento se torna enfadonha ou desinteressante no que tange a sua temática.
Acompanhando a vida de Caninos Brancos, Jack London narra detalhadamente a evolução do animal por meio de descrições precisas do ambiente que o cerca e dos sentimentos e instintos que o movem e o fazem parecer tão humano e dotado de uma extraordinária capacidade cognitiva para sua espécie.
Em meio às aventuras do lobo, o leitor é transportado ao habitat selvagem onde o personagem viveu, ainda que em meio a civilização, conectando o leitor com os pensamentos do lobo e com ele criando empatia, por meio de seu sofrimento, das dificuldades vividas, das primeiras descobertas e do desenvolvimento e construção de seu caráter.
O livro transmite uma bela mensagem de como a sociedade e o ambiente em que um ser vivo é criado pode moldar a sua personalidade, tornando-o um ser solitário e odiado ou amoroso e leal, por isso impossível desvincular a obra dos ideais darwinistas, de evolução e seleção natural.
Considerando que a obra foi publicada em 1906, por vezes observa-se na linguagem do autor demonstrações de como a sociedade da época poderia ser preconceituosa, como por exemplo, quando o autor fala dos deuses brancos superiores e deuses inferiores, que eram os índios.
É um livro recomendado por sua riqueza literária e narrativa fluida, que tira o leitor de sua zona de conforto e o desafia a ter uma nova percepção da sociedade, totalmente diferente, a partir do ponto de vista de um animal, ainda que, por vezes, peque ao atribuí-lo pensamentos muito humanos, sem que essa tenha sido a intenção do autor.