Mathias Vinícius 17/11/2023
Um comentário sobre: O grande Gatsby
Como é bom ser surpreendido por leituras assim. Eu me senti, sim, impactado por essa leitura. Em alguns momentos, experimentei raiva e nojo dos ricaços do romance; entretanto, ao mesmo tempo, sentia pena, pois aquelas pessoas eram apenas vazias e fúteis. Alguns tinham a chance de mudar de perspectiva de vida, de levantar seus corpos jogados nos sofás e fazer algo útil para o próximo, em vez de apenas puxar o saco uns dos outros ou o tapete.
No início do ano, o primeiro livro/conto que li foi "O curioso caso de Benjamin Button", do mesmo autor, F. Scott Fitzgerald. Acho muito difícil um leitor que nunca tenha ouvido falar de Fitzgerald, afinal de contas o autor é um dos grandes expoentes da literatura moderna estadunidense. Então, vamos a uma breve fala sobre o autor.
F. Scott Fitzgerald nasceu em 24 de setembro de 1896, em Saint Paul, Minnesota, e faleceu em 21 de dezembro de 1940. Ele foi um renomado escritor norte-americano, celebrado por suas obras que capturaram a atmosfera da Era do Jazz nos Estados Unidos. Seu romance mais conhecido, "O Grande Gatsby" (1925), é considerado uma obra-prima da literatura americana, explorando muitas vezes as complexidades das relações sociais e os efeitos da riqueza e do excesso durante os anos 1920.
Ao longo de sua carreira, Fitzgerald também escreveu outros romances, contos e ensaios, contribuindo significativamente para o movimento literário conhecido como o modernismo norte-americano. Suas obras refletem as mudanças culturais e sociais do início do século XX nos Estados Unidos. Apesar de enfrentar desafios pessoais e profissionais, Fitzgerald deixou um legado duradouro na literatura, sendo reconhecido como um dos grandes escritores de seu tempo. O escritor e crítico literário Malcolm Bradbury definiu a obra do autor da seguinte forma: "Em suas obras, Fitzgerald continuou explorando a extravagância autodestrutiva de sua época. As qualidades de Fitzgerald incluem um estilo deslumbrante, perfeitamente adequado ao tema do encanto sedutor, bonito e glamoroso." Feitas essas considerações, vamos ao romance!
A princípio, imaginamos que a história será conduzida pelo próprio Gatsby, mas o que acontece é o contrário. Somos apresentados a Nick Carraway, que está vindo do centro-oeste para a costa leste dos EUA a fim de ingressar nos negócios financeiros que surgiam na época, no que viria a ser o novo centro mundial futuramente, Nova Iorque. Parecia que, para Nick, tudo era novidade. Embora não viesse de uma família abastada, em relação aos costumes, tudo na região de West Egg parecia ir contra os princípios que seus pais lhe ensinaram, como é dito no início: “Sempre que tiver vontade de criticar alguém — ele disse —, lembre-se de que ninguém teve as oportunidades que você teve.”
A memória surge como um recurso estilístico crucial no romance, contribuindo para a construção da narrativa moderna. Nick, ao relatar os eventos, oferece uma visão retrospectiva que adiciona camadas de complexidade à trama. Essa abordagem permite não apenas a descrição dos acontecimentos, mas também uma análise crítica e reflexiva, contribuindo para a profundidade psicológica dos personagens.
A princípio, nessa primeira leitura da obra, eu consegui vislumbrar um certo contraste entre os personagens de Tom e Daisy Buchanan, pois, mesmo eles representem os valores mesquinhos dessa alta sociedade que é retratada pelo autor, e Jay Gatsby, que personifica como “a realização do sonho americano”, pode compreender que há uma dimensão sociocultural fortíssima à trama. Fitzgerald utiliza esses personagens para explorar temas como beleza, juventude, poder e riqueza, oferecendo uma crítica perspicaz aos valores da sociedade capitalista-consumista da época da década de 1920.
A fragilidade da personalidade de Jay Gatsby está intrinsecamente ligada à sua busca incansável pelo sonho americano, que nada mais é que a possibilidade de realização. Gatsby, originalmente James Gatz, é praticamente como um super-homem que, mediante a perda das posses de sua família e o embarque no primeiro confronto que moveria todas as grandes nações do mundo, após seu retorno para sua terra natal, endividado até o ponto em que não tinha outra roupa para além de seu uniforme, conseguiu ascender socialmente em busca de riqueza e prestígio, alimentando a ilusão de reconquistar um amor do passado, Daisy Buchanan.
A maneira de como é construída a sua identidade em torno de uma idealização do passado e de uma visão distorcida do futuro. Gatsby, apesar de sua riqueza e festas extravagantes, é, no fundo, um homem solitário e inseguro. Ele acredita que pode reconstruir o passado, aquele passado antes da guerra, tentando retornar a sua relação com Daisy e obtendo a aceitação da alta sociedade. No entanto, essa busca incessante o torna vulnerável, pois está fundamentada em ilusões e na fragilidade da memória. O sonho americano, que promete sucesso e ascensão social através do trabalho árduo e da determinação, é paradoxalmente retratado como uma busca ilusória em "O Grande Gatsby". Gatsby alcança o sucesso material, mas sua fragilidade emocional é evidenciada pela falta de sustentação emocional genuína em sua vida. A busca pelo sonho americano de Gatsby é, em última análise, um esforço solitário e desesperado por validação, o que contribui para a sua complexa e frágil personalidade.
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