jota 08/10/2013Memória e invençãoUma simples menção ao uruguaio Mario Benedetti (1920-2009) inevitavelmente nos leva a pensar em sua obra-prima, o romance A Trégua. Se bem que Correio do Tempo, volume com diversas histórias curtas e até alguns poemas, é igualmente ótimo e sua leitura tão recomendável quanto aquela. Mas vamos ao que interessa, que é este A Borra do Café, recém-terminado de ler e que me lembrou vários momentos do também saboroso O Mundo, do espanhol Juan José Millás.
Em A Borra... tomamos não exatamente café, mas contato com a infância e juventude de Claudio, suas aventuras e desventuras ao longo dos anos iniciais de sua formação (este é também um romance de formação), narradas a maior parte do tempo pelo próprio Claudio, alter ego do autor. O livro ostenta tintas parcialmente autobiográficas, mas nem sempre vem escrito na primeira pessoa. Há um personagem desconhecido que volta e meia dá as caras (ou as letras, pensando melhor) em alguns capítulos.
O nome todo do narrador principal é Claudio Alberto Dionisio Fermín Nepomuceno Umberto Emilio. Mas o nome completo do autor é Mario Orlando Hardy Hamlet Brenno Benedetti Farrugia. São as memórias de Benedetti, sim, embora evidentemente reinventadas nesta revisitação do passado. E desse modo Rita, uma das mulheres na vida de Claudio, nem ele mesmo sabe se ela existiu de fato ou se foi uma criação de sua imaginação.
Eu ia falar também de outros personagens interessantes - o cego Mateo, Juliska, Norberto, Mariana, etc. -, mas acabou me tomando certa preguiça macunaímica e decidi então parar e copiar parte do que alguns resenhistas escreveram sobre o livro. E fazer assim uma espécie de colagem, sem muito critério; melhor, com apenas um critério: elogios ao autor, como acontece muito nas capas de livros, cheios de opiniões favoráveis de jornalistas de conhecidos veículos de comunicação. Para quem faz questão dessas opiniões (eu frequentemente faço), aqui vão duas:
“Benedetti nos conduz com humor e lirismo às suas aventuras e desventuras, tenham sido elas vividas ou inventadas.” – Martha Medeiros, escritora.
“Descobri, como Benedetti, que amores imensos nunca se vão de todo. Eles ficam na memória e nos moldam a vida, mas não nos impedem de vivê-la. Como os melhores livros.” – Ivan Martins, revista Época.
Mas vamos ver o que pensam nossos amigos aqui do Skoob:
Edu Trindade: “(...) mais importante que o enredo, aqui, é a construção da história, onde se mesclam a realidade, a fantasia e uma boa dose de saudosismo. Para quem gosta desta mistura, o livro é um primor.”
Lia: “[A borra do café] fala sobre amor, amizade, dor, alegria, família, cotidiano, enfim, pequenas memórias da vida em Montevidéu. Gosto muito da maneira como ele fala sobre sexualidade e amor, acho sutil e profundo. Um livro despretensioso e gostoso de ler.“
Deniferreira: “O mote da história são as mudanças que sua família [de Claudio] vai fazendo por diversas ruas e bairros da cidade, e a relação que o rapaz desenvolve com cada um desses lugares.”
Nanci: “Narrado com humor e adequada dose de poesia e ingenuidade, o autor nos guia pelas aventuras de Claudio: suas brincadeiras de menino nos quintais e nas ruas de sua vizinhança e nos fala sobre sua mania de desenhar, cuja habilidade juvenil se transformará em porta de acesso ao mundo profissional, marcando sua entrada no universo adulto; o autor não se aprofunda nesse período de sua vida. Aí a história se encerra: numa espécie de rito de passagem.”
Conclusão: todo mundo elogiando o livro de Benedetti, que o crítico José Geraldo Couto chamou de encantador. Então, o quê é que você está fazendo aqui ainda que não foi em busca deste livro? Melhor, de vários livros de Mario Benedetti? Deixe essa preguiça para os outros; deixe para os poetas e escritores as perguntas e as respostas para algumas questões fundamentais da vida: "Para onde vão as névoas, a borra do café, os calendários de outro tempo?" (Júlio Cortázar). Para onde?
Lido entre 25/09 e 08/10/2013.