Maria - Blog Pétalas de Liberdade 16/10/2014Um romance com mais de um final A história se passa na Inglaterra, começa em 1867, durante a Era Vitoriana, uma época cheia de regras e normas rígidas de conduta. Charles era um cientista amador, de origem nobre. Ele tinha trinta e poucos anos e estava noivo de Ernestina, filha de um rico comerciante e mais ou menos dez anos mais jovem que ele. Ernestina foi passar alguns meses na casa de sua tia, numa pequena cidade a beira mar. Charles acompanhou a moça na viagem.
Na cidadezinha, ele conheceu Sarah Woodruff , uma mulher misteriosa, sem família, considerada louca por alguns e uma mulher perdida e pecadora por outros.
A fama de Sarah se dava por, pouco tempo antes, ela ter fugido para se encontrar com um tenente francês que passara algum tempo na cidade. Ninguém sabia ao certo o que aconteceu, o fato é que ela voltou para a cidade em poucos dias, mas sua honra já estava arruinada e seu nome na boca do povo.
Sarah era bonita, parecia mais culta que boa parte da cidade, mas depois da desilusão por que passou, vivia triste, beirando a loucura. Ela e Charles se esbarraram algumas vezes. O nobre rapaz sentia uma necessidade de fazer alguma coisa por ela, de ajudá-la a se livrar da depressão e começar uma nova vida em algum lugar onde ela pudesse ser feliz longe de seu passado. Sarah lhe pediu ajuda desesperadamente, por ser uma pessoa de fora daquele grupo de mente tão fechada, ele parecia ser o único que talvez pudesse ajudá-la.
Com essa aproximação, Charles se apaixonou perdidamente por Sarah. Por ela, ele seria capaz de jogar pro alto o futuro sem graça que parecia o aguardar se casasse com a ingênua Ernestina. Sua vida virou de cabeça para baixo!
" Oh, meu caro Grogan, se soubesse o horror que era a minha vida... inútil... sem objetivo. Não tenho convicções morais, nenhum senso de dever para com coisa alguma. Parece-me ter sido ontem que completei vinte e um anos, cheios de esperanças... todas destroçadas. E agora me vejo envolvido nesse caso infeliz..." (página 210)
"A mulher do tenente francês" é um livro com três finais. Foi isso que fez com que eu me interessasse por ele. Mais ou menos na metade do livro tem um, e os outros dois são nos últimos capítulos. Assim, o leitor pode literalmente escolher como gostaria que a história acabasse. Esse não é o único diferencial do livro, o narrador volta e meia parece conversar com o leitor sobre o que ele está contando. Como se para não nos deixar esquecer que é tudo ficção.
"Não sei. A história que estou contando é pura imaginação. Os personagens que crio nunca existiram senão na minha mente. Se tenho fingido até agora estar a par das ideias e pensamentos mais íntimos de meus personagens é porque estou seguindo (assim como adotei seu vocabulário e sua "voz") uma convenção universalmente aceita à época de minha história, ou seja, que o romancista está colocado na mesma posição de Deus. Ele pode não saber tudo, mas procura fingir que sabe. Vivo, porém, na era de Alain Robbe-Grillet e Roland Barthes, e se isto aqui pode ser chamado um romance, jamais será um romance na moderna acepção do termo." (página 92)
Mesmo com os três finais, nenhum deles me aquietou totalmente depois de tudo o que Charles sofreu por amor, terminei a leitura com uma pena enorme dele! Pensei por dias, e só consigo acreditar que o verdadeiro mocinho da história é Charles e não Sarah. Me parece que o desafio da história é tentar entender o que se passa na cabeça da " mulher do tenente francês", o que fez Sarah agir como agiu e tomar as decisões que tomou.
"A mulher do tenente francês" foi um livro que fui gostando aos poucos, bem aos poucos mesmo, até estar apaixonada por ele (ou pelo Charles?) no final. A edição que li é de 1982, por isso tem uma linguagem um pouco complicada de entender, além de a história ter muito mais descrições (principalmente dos cenários) do que acontecimentos.
"A morte não está na natureza das coisas. Ela é a natureza das coisas. Mas o que morre é a forma. A matéria é imortal. Através dessa sucessão de formas ultrapassadas que nós chamamos de existência, flui uma espécie de vida permanente." (página 275)
Eu particularmente não achei essa capa bonita (nem nenhuma das capas das outras edições). Quanto a diagramação, essa edição da Editora Record tem folhas amareladas e finas, as margens e a fonte tem um bom tamanho.Tem uma outra edição mais recente e com outra tradutora, de 2008, pela editora Alfaguara.
Meu trecho favorito:
"(...)uma tendência para fazer justiça pelas próprias mãos um método que sempre transforma o juiz num carrasco..." (página 401)
site:
http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/2014/10/resenha-livro-mulher-do-tenente-frances.html