Rafael 30/07/2018
O poder simbólico da imagem
No livro, Lilia Schawrcz apresenta uma extensa pesquisa sobre a figura de Dom Pedro II durante o segundo reinado. Mas o livro não é mais uma biografia sobre o imperador, a autora por meio da iconografia, inova, ao tentar desenhar um personagem partindo de diversos elementos como a fotografia, a xilografia, a litografia para formar um painel que ultrapassa a História Positivista e se insere em um modelo mais verticalizado - trazendo elementos da cultura e sobretudo simbólicos para mostrar o que significava no imaginário popular o personagem Pedro II enquanto imperador.
Por meio de autores que teorizaram a monarquia europeia, como Marc Bloch, Norbert Elias, Kantorowicz – aliada, em grande parte, ao acervo doado por Dom Pedro II depois do banimento no país – com mais de 20 mil objetos para diversas instituições, como o IHGB, o Museu Imperial de Petrópolis, o Arquivo Nacional, a Biblioteca Nacional –, a autora tenta ressignificar os elementos herdados da monarquia europeia para a construção da figura simbólica de Dom Pedro II.
A construção da figura pública de Pedro II é composta, basicamente, de duas instâncias – uma política e institucional e a outra mítica, que marca o imaginário da população a partir de símbolos e rituais que tentavam persuadir a população da grandeza do rei. Por meio de cerimônias, espetáculos, o imperador desfilava com seus adereços: a coroa, o cetro, e estimulava o imaginário dos presentes. Assim, o imperador fora um mito antes de ser realidade.
Uma das imagens icônicas do início da segunda regência, foi seu coroamento. No ritual de coroação o imperador selava a sua imagem, mostrando ser uma figura compromissada com a nação, sério, pleno de sua missão imperial.
Muitas imagens no decorrer da regência mostravam Pedro II próximo de bibliotecas, segurando livros, de modo a mostrar seu lado intelectual, o qual fazia jus a sua imagem. Todavia ao mesmo tempo em que ele se mostrava letrado, a chaga da escravidão era antagônica à sua imagem.
No decorrer da década de 70 a Monarquia passava por dificuldades, sobretudo pela ascensão republicana e pela continuidade da escravidão. Pedro II revelava o seu desconforto com o poder, e sua imagem pública ficara diminuta – pois ele começava a dispensar os adereços monárquicos, se vestia apenas com uma jaqueta escura – fazia menos cerimônias possíveis, se parecia cada vez mais com um cidadão comum.
Portanto, Pedro II na tentativa de se consolidar no âmbito político, em meio às suas ações no país, ele utilizou-se de um grande aparato simbólico, ritualístico para persuadir a população de suas realizações enquanto realeza. Monarca como era, tentou ressignificar o papel das monarquias europeias em um país tropical, diverso de sua matriz originária. A simbologia construída durante o segundo reinado ultrapassou o âmbito meramente político no imaginário da população –, ela consolidou algo inconsciente e valiosamente poderoso para a afirmação da Monarquia brasileira e, sobretudo, a imagem de Dom Pedro II.