DIRCE 22/06/2011
Um Livro de Receitas? Não deixa de ser.
Todas as vezes que me deparei com esse livro (" A Cozinha Açafrão"), pensei: deve ser um daqueles livros que fala sobre gastronomia, sobre receitas, e como não sou muito amante da cozinha, não me animava a lê-lo. Entretanto, movida pela resenha da Sandrinha, me dispus à leitura.
Não estava totalmente enganada. De certa forma, trata-se, sim, de um livro de receita – uma receita do que não devemos fazer com as nossas vidas.
Quando fiz a resenha do livro " De Volta a Estambul" eu disse ter chegado a conclusão que a definição do passado como um tempo que já passou e não volta mais, somente se aplica ao estudarmos tempo dos verbos, pois, na verdade, o passado sempre se faz presente em nossas vidas. É...de fato: o passado sempre nos acompanha; ele fica cravado em nossa memória como uma tatuagem num corpo. A relutância em nos livrarmos do apego às lembranças felizes, e também das cicatrizes que esse passado nos deixa quando ele ainda é o presente sempre fala mais alto e, muitas vezes, deixamos nos escravizar por esse passado sem que percebamos que é chegada a hora de virar a página.
Maryam, a protagonista do romance, não fugiu à regra. Filha de um general do exercito iraniano ( conservador ao extremo), Maryam sonhava com a liberdade, entretanto, quando a intolerância e o despotismo a induziram buscar exílio na Inglaterra , ela não soube fazer uso dessa tão almejada liberdade. Seu exílio não foi apenas geográfico, pois ela também se exilou no tempo: no seu passado. Foi escrava desse passado, não se permitiu se libertar das suas amarras e, com isso, deixou de viver o que o seu presente lhe oferecia: a dedicação e o grande amor de sua filha Sara e de seu marido Edward.
Estou em conflito: não sei se darei 3 ou 4 estrelas. A sensibilidade é uma marca gritante na narrativa. Desfilam personagens adoráveis como o pequeno Saeed, como Fátima, como Sara e Edward, como Ali e, até, a triste e resignada Farnoosh, porém, achei que o enredo em si ficou aquém dos demais livro que li, cujo cenário, era o Irã.
Lá vão: 4 estrelinhas-a receita foi valiosa, ainda mais se associada ao fragmento que deparei no mural da Sandrinha:
"E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando sermos donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."
Miguel Sousa Tavares em "Não te deixarei morrer, David Crockett"
PS.: O meu comentário acerca do livro é absurdamente subjetivo.