Jow 28/10/2011Um caos perfeito."Na política não há amigos, apenas conspiradores que se unem."
Victor Lasky
A construção efetiva de uma história se dá pelos mais diversos motivos; Narrativa envolvente e personagens cativantes, certamente darão um toque de sucesso a essa trama. Mas, quando além de tudo isso um autor se propõe a enveredar por caminhos espinhosos como honra, lealdade, política e merecimento a tendência é de que a história ser contada realmente ganhe configurações galácticas. Quando pensávamos que George Martin já tinha feito uma obra excepcional em “A Guerra dos Tronos” ele potencializa ainda mais a sua história com essa obra genial que é “A Fúria dos Reis”.
O clima de instabilidade está no ar, tornando rivalidades e antigas alianças ainda mais profundas e melancólicas. Entre maquinações políticas, estratégias de combate e temperamentos exaltados, é possível perceber pela ótica de diversos narradores o que existe de mais humano em cada personagem graças à escrita envolvente e crua de George Martin. Dentre os inúmeros narradores da trama, torna-se impossível não destacar a importância e a potencialidade da narrativa de Tyrion Lannister. O anão que agora ocupa o cargo de Mão do Rei em Porto Real rouba a cena com suas observações perspicazes e comentários sarcásticos. Tyrion me parece o único que realmente sabe o que está fazendo para impedir que o reino desmorone. Ele é o pilar que sustenta grande parte das tramas políticas, e acompanhar a sua linha de raciocínio proporciona ao leitor uma experiência divertida e excepcional.
Cada capítulo da trama funciona como uma espécie de crônica, nos trazendo um relato subjetivo sobre a situação de diversas regiões dos Sete Reinos. A relação política entre estas regiões e seus líderes é o que move o livro, apesar de questões como lealdade, sobrevivência e honra também pautarem a obra da uma forma constante. É uma verdadeira confusão de símbolos, insígnias e juramentos. As rebeliões e as tramas eclodem a cada página virada, mas Martin consegue dar uma dinamicidade assombrosa, graças a sua capacidade de explorar com extrema competência o verdadeiro objetivo de todos os personagens. Alguns tentam se impor, como a jovem Daenerys Targaryen, agora uma verdadeira Mãe de Dragões. Outros tentam se afirmar, como Robb Stark, atual Rei do Norte. Alguns tentam sobreviver em um mundo abalado por mudanças, como Arya Stark, enquanto outros deslizam por densas redes de poder e influência, como Tyrion Lannister.
A Magia ganha contornos interessantes a partir dessa obra. O que parecia extinguido retorna com força total, revelando o poder das antigas tradições e costumes. Grandes lendas antigas são contadas dentro do contexto da obra, e as possibilidades e maquinações que essas antigas representações lançam, podem revelar um futuro literalmente fantástico para a saga. Falo de “Magia” não apenas em seu sentido mais sobrenatural, mas também em seu formato institucionalizado, que é o caso da religião. A trama que envolve Stannis Baratheon, a sacerdotisa Melisandre (olho nela!) e o ótimo personagem chamado Davos, é calcada nessa relação de emergência e queda, afirmação e negação de novos e antigos deuses e nas conseqüências marcantes que isso gera. Afora isso, muitos outros elementos fantásticos estão presentes no livro, gerando sentimentos que oscilam entre a ansiedade, o temor e a segurança.
As Crônicas de Gelo e Fogo é literatura fantástica para adultos! Não existe meia palavra ou alívio textual. Martin não poupa o leitor de cenas impactantes, situações e comentários constrangedores. Ele não vacila em entregar à morte os personagens mais carismáticos, dar vitória ao mais vil dos homens e perpetrar agressões, insultos e humilhação aos queridinhos do leitor. Martin extirpa a inocência e o espírito galante e salvador dos heróis que encontramos em praticamente todos os livros de fantasia. Sendo assim, a leitura de “A Fúria dos Reis” é mais que obrigatória, e a expectativa em torno da leitura de “A Tormenta das Espadas” torna-se enorme.