Sâmella Raissa 16/04/2013Resenha original para o blog SammySacional - http://bit.ly/Z15xXH
Narrado em primeira pessoa, Minhas Lembranças narra a história de Ônix, uma adolescente rebelde, que, no entanto, acaba de perder seus pais em um acidente de carro pouco antes de ir comemorar sua formatura. Além das saudades cada vez maiores, ela ainda se sente culpada por tê-los colocado, de certa forma, em tal situação, e principalmente por, durante sua vida, não ter-lhes dado seu devido valor. Então, na tentativa de recomeçar, ela aceita o convite de seus tios de criação e vai passar um tempo com eles, uma pequena fazenda no interior de Londres. Ônix só não lembrava ter de reencontrar seu amigo de infância, Calebe, já um rapaz de vinte anos, com quem ela, inicialmente, não consegue estabelecer um contato muito legal, mas que acaba por se envolver mais do que como na amizade em que, até então, ela acreditava ser a única relação que eles pudessem ter.
"O cheiro das flores do jardim perto da casa da tia chegam até aqui no campo fazendo um misto de odores, rosas, jasmim, lírios. Com certeza fiz uma escolha muito boa em vir para cá me recuperar, mas dentro de mim uma voz ainda afirma que minha cidade vai demorar a se reerguer, ou que é até melhor começar a esquecer dessa cidade e começar a construir outra dentro de mim." - Pág. 22
A história em si, pela sinopse, podia ser mais uma simples história qualquer que envolvesse perdas e ganhos, mas não, vai muito além disso - literalmente. Juliana Ferreira, além de mesclar o romance com um "problema" um tanto quanto surpreendente - pelo menos para mim, não esperava aquilo -, ainda põe toques de sobrenatural e suspense na narrativa, que remete a Ônix e Calebe possuírem um determinado "dom". Mas, acima de tudo, o livro de Juliana traz uma escrita leve e delicada; a reflexão é um dos pontos pelos quais mais passamos durante a leitura de Minhas Lembranças, até porque a própria autora passou por uma perda parecida com a da personagem, nesse caso, com o pai. Isso certamente ajudou a autora a passar uma emoção mais real nas cenas, quanto a situação da protagonista, e me peguei chorando já no início do livro, justo nessas cenas :')
"Calebe ri e enquanto de mãos dadas vemos o sol se pôr, o vento cruza por nós e é tão tranquilo tudo o que está acontecendo. Não sei o quanto isso tudo pode durar, mas sei que tenho que aproveitar mais. É melhor fechar os olhos e aproveitar um pouco do extra que temos." - Pág. 78
Mas, sem dúvidas, o que me cativou de verdade foi o romance. Quando Ônix e Calebe se reencontram, uma certa tensão é formada entre eles, nos primeiros minutos. Ele está mais calado que o habitual, cujos os olhos verdes estão melancólicos e logo intrigam a protagonista, que só quer saber o motivo para tal e ajudá-lo de qualquer jeito. E o romance então se inicia aos poucos. Algumas pessoas podem ter achado essa parte um tanto rápida demais, mas o amor entre ambos se desenvolve muito bem, a ponto de sentirmos o quanto real ele é. E é tudo muito bonito, também. Me pegava sorrindo e com frios na barriga quando chegava as cenas deles, mas não é do tipo de "frio na barriga" por uma cena, sei lá, chocante. Mas, sim, bonita e delicada. É explícito o amor que ambos nutrem um pelo o outro, mas, ao mesmo tempo, é um amor que liberta, não sufoca. Por mais que Calebe tenha seu problema, ele insiste em se preocupar infinitamente com Ônix, e vice-versa; é lindo ver algo do gênero, simplesmente, onde o próprio sentimento predomina e, basicamente, guia o casal.
"O tempo pode passar, as pessoas mudar, o inverno esfriar a pele, o verão aquecer a alma, a primavera florescer nosso semblante e a cada dia que passa, nossas ideias e nosso modo de perspectiva muda. Sempre é assim. Independentemente do que ocorra, nós estamos em mudança a cada minuto." - Pág. 81
A questão é que: com respeito, sensibilidade, carinho, sinceridade e muito sentimento, Juliana nos envolve em um romance impossível de ser esquecido. Aquele tipo de romance que toda garota sonha em ter um dia - romance este, em que eu acredito totalmente. Mas, que, ao mesmo tempo, também é realista na medida do possível, sem exageros nem nada do tipo. Acho que foi por isso que fiquei totalmente dividida sobre o que pensar, enfim, sobre o final do livro; ainda estou meio, digamos, em choque, mas ao mesmo tempo feliz com o desfecho. Sei lá, é difícil de explicar direito, mas, de todas as formas, sem dúvidas, o livro foi uma das minhas melhores leituras do ano, pelo menos, até agora, empatando apenas com A Gente Ama, A Gente Sonha, da Fabiane Ribeiro. Com certeza, uma história de amor que vale a pena ser lida, com uma boa dose de reflexão para a vida.