Como Distinguir o Bajulador do Amigo

Como Distinguir o Bajulador do Amigo Plutarco




Resenhas - Como Distinguir o Bajulador do amigo


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daniel_ 07/12/2023

Ensinamentos pra vida
É muito difícil saber quem as pessoas realmente são. E uma das grandes dificuldades da vida é saber fazer amigos, e diferenciar quem está e quem não está do seu lado. É um processo difícil que só o tempo consegue revelar. Mas o Plutarco, nesse livro, nos dá algumas ferramentas úteis que nos ajudam a enxergar melhor o que é um amigo e o que é um bajulador.

É livro que deveria ser lido por todos, principalmente para os que estão no poder, seja de um governo, seja de uma organização privada, em um cargo importante de uma empresa..., mas acredito que é um livro que deveria ser lido primeiramente por todos os que desejam ser melhores amigos, porque aplicando a nós mesmos algumas dessas dicas, poderíamos distinguir se somos amigos ou bajuladores, e isso nos ajudaria e muito a distinguir os outros.

Plutarco começa nos ensinando que o amor-próprio é o nosso primeiro bajulador, pois cegados por ele, nós perdemos a capacidade de desenvolver autocrítica, oferecendo a bajuladores externos um espaço amplo para agirem contra nós, nos fazendo concordar com tudo o que nos oferecem. O bajulador nos afasta da verdade e do autoconhecimento.
Um outro ponto destacado é que o bajulador nunca ataca os malsucedidos, mas os bem-sucedidos e virtuosos. Ele observa que o bajulador se aproxima de seu alvo para satisfazer seus prazeres. É agradável e doce por necessidade, e não de coração. Assim, por exemplo, ele elogia por necessidade. A amizade, pelo contrário, não é desagradável, ela é doce e prazerosa.

Plutarco irá comparar os bajuladores a algum animal que ele acha inconveniente. Por exemplo, a servilidade do bajulador é comparada a um cão que vive embaixo da mesa do dono por comida, ou que o bajulador é um parasita que suga a confiança e os bens daquele que o sustenta.

O princípio da amizade, de acordo com ele, é a semelhança nos costumes e nos hábitos, e completamente se compraz com as mesmas coisas e evita as mesmas coisas, que, em primeiro lugar, conduzem-no e convergem para o mesmo lugar, pela semelhança dos sentimentos, como Santo Tomás de Aquino diria séculos mais tarde. Por isso que o bajulador, como diz Plutarco, é uma pessoa moldada e harmonizada para outro, sem um paradigma para sua própria vida, uma pessoa flexível que age de acordo com as circunstâncias, se conformando àqueles que o acolhem.

O bajulador imita os piores hábitos de seu alvo, pois não consegue se tornar semelhante nas coisas dignas de zelo. O amigo censura o que é vergonhoso, não concorda e tem aversão às coisas vulgares. O amigo reconhece a superioridade do outro em determinado assunto sem se ofender ou ter inveja, enquanto o bajulador sempre inventa uma desculpa para dizer que seu alvo é melhor do que ele.

Mas a maior diferença entre os dois é que o bajulador pensa que deve fazer tudo por prazer, enquanto o amigo faz o que faz porque é algo que deve ser feito, mesmo que seja desagradável. Plutarco compara o amigo a um médico que nos receita algum remédio amargo, mas que traz a cura.

A franqueza é muito explorada na obra. Ele dá dicas de como utilizá-la. Uma das melhores passagens do livro é quando ele diz que o bajulador é franco quando o seu alvo está enfraquecido e precisando de ajuda, enquanto o amigo é franco em momentos propícios. Em momentos de fraqueza, o amigo não perturbará, ele ajudará a curar a dor e a irritação. Ele também lembra que a franqueza é uma arte, e deve ser utilizada com cuidado. As advertências devem ser feitas apenas no particular, em segredo, sem que ninguém veja. Ao ser franco, jamais comparar o amigo a outras pessoas (exceto os seus próprios pais), mas lembra de suas qualidades, suas melhores ações, fazendo dele um exemplo para si mesmo. Do contrário, gerará apenas cólera, sem nenhum aprendizado.

Por fim, o amigo ajudará em silêncio e, se possível, sem que ninguém veja, enquanto o bajulador buscará plateia para mostrar a todos o quanto ele é útil ao seu alvo. Expor a vergonha de uma pessoa enche-a mais de vergonha. Em particular, mina e destrói o vício. Para Plutarco, a franqueza é o remédio mais poderoso para a amizade, se bem utilizada.
Para exemplificar o que está querendo dizer, Plutarco utiliza diversas situações que grandes homens da antiguidade, como Platão, Sêneca, Alexandre o Grande, além de citar diversos trechos de grandes obras da humanidade, como a Ilíada, a Odisseia e História da Guerra do Peloponeso de Tucídides.

A obra atinge seu objetivo com maestria e é excelente para o desenvolvimento pessoal.
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tiagonbraz 25/06/2023

Como distinguir o bajulador do amigo, de Plutarco
"Médico dos outros, quando tu mesmo estás coberto de chagas"

Plutarco foi um importante historiador, biógrafo e filósofo grego, que escreveu a Moralia - obra composta de 78 livros sobre temas morais como felicidade e a educação das crianças. A obra tem um título autoevidente: Plutarco mostra, de forma prática, como se pode diferenciar um bajulador de um amigo - tema certamente útil para a alta sociedade grega, que poderia cometer o erro de se deixar enganar por aproveitadores que fingiam amizade, mas que eram interesseiros. É evidente que, para uma pessoa de classe média do século XXI, muito do que Plutarco fala não é exatamente proveitoso; porém, acredito ser um erro ler livros deste tipo com o intuito de buscar algo pragmático, imediatamente aplicável. No entanto, do ponto de vista histórico, é extremamente interessante descobrir como a sociedade grega via este tipo de problema - um bastante "real" - , e certamente o leitor se deparará com passagens que o farão refletir sobre situações da própria vida.

Primeiramente, algo que se deve ter em mente ao iniciar a leitura é a própria diferença do conceito de "amizade" que temos hoje e qual era o significado na época. Atualmente, a "amizade" requer afeto, algo próximo de "amor" nutrido por outra pessoa; na sociedade greco-romana, isso não era necessário, e tinha um caráter de relação de interesses. Mesmo com essa descrição que pode soar pejorativa, com uma possível "troca de favores" que poderia ocorrer nessa relação, senti na leitura mais aproximação com nosso conceito afetuoso. Plutarco diz que "o princípio da amizade é a semelhança nos costumes e nos hábitos, e completamente se compraz com as mesmas coisas e evita as mesmas coisas, que, em primeiro lugar, conduzem-nos e convergem para o mesmo lugar, pela semelhança dos sentimentos." Mesmo sem o afeto que define a amizade de nossa época, parece-me que há mais semelhanças que diferenças entre os dois conceitos.

Após estabelecer a definição do bajulador e do amigo, Plutarco passa a fornecer conselhos sobre como diferenciá-los. Embora sejam semelhantes em aspectos como os elogios e o prazer que causam com sua companhia, o autor adverte que uma maneira de diferenciá-los é notar que o bajulador elogia indiscriminadamente qualquer ação do indivíduo, sem levar em consideração se é uma ação boa ou má, ou se seus resultados a longo prazo serão favoráveis ou não. Isto é, ele sempre concordará, independentemente da ideia. E um teste que Plutarco sugere é o de perguntar a opinião do bajulador suspeito sobre uma ideia propositalmente esdrúxula, que qualquer pessoa em sã consciência acharia loucura.

Em outro momento, Plutarco também discute sobre como evitar que tais pessoas apareçam e exerçam influência negativa sobre nossas vidas. Comparados a parasitas, os bajuladores encontram terreno fértil quando o amor-próprio do bajulado já é desmedido. Desta forma, exercitar a moderação do amor-próprio e a humildade pode ajudar a impedir o surgimento de bajuladores à nossa volta.

O livro está estruturado em duas partes principais: a primeira discorre sobre o bajulador, abordando suas características, sua habilidade em se disfaçar como amigo e como diferenciá-lo deste. Na segunda parte, Plutarco explora a importância da franqueza, uma característica fundamental para um bom amigo, mas que está ausente no bajulador. É advertir o outro quando está se afastando da boa ação, mas de forma adequada, sem censurá-lo, e evitar fazê-lo na frente de outras pessoas. Plutarco dá exemplos práticos, tirados de outros livros da época - de Platão, Xenofonte, tragédias e comédias, além de Homero - para elucidar o que quer dizer exatamente com uma franqueza adequada.

Sobre o livro em si, considerei uma leitura difícil, apesar dos conceitos serem relativamente fáceis e palpáveis. As frases são por vezes difíceis de entender: fiquei em dúvida se pelo próprio modo como o autor formula o seu pensamento ou se pela tradução. De toda forma, com atenção aos detalhes foi possível elucidar alguns trechos a princípio ininteligíveis - mas não todos. Considero uma leitura interessante, com aspectos históricos e morais que provocam reflexão no leitor, como o controle do amor-próprio, a importância de ter não só pessoas que elogiam à nossa volta, mas também os que falam a verdade; e de que modo se deve ser franco, evitando a censura das ações dos outros sem que isso os leve a uma ação melhor. Não se deve ler com um intento pragmático, como provavelmente seria o objetivo primeiro da leitura, na época; assim, parecerá inútil, apesar de alguns pontos de maior iluminação. Não; lê-se, hoje, com uma perspectiva histórica e moral, de como esta sociedade - ao menos um indivíduo influente dela - lidava com o problema do "puxa-saco", e como esse modo de lidar pode nos ajudar a lidarmos com os nossos próprios.
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