saoribooks0 28/08/2020
Honestamente, essa leitura foi uma das mais desafiadoras da minha vida de leitora, tanto por causa da linguagem utilizada na obra, quanto por causa do protagonista e do enredo.
Macunaíma é diversas vezes chamado de ?herói? no livro, mas, em sua obra, Mário de Andrade retrata um anti-herói. O personagem mente quase sempre que tem a oportunidade, trai outras pessoas, rouba as mulheres de seus irmãos e fala muitas palavras ofensivas. Trata-se de um mulherengo farrista e também muito preguiçoso, no mal sentido da palavra. Sonha em conseguir tudo o que quer, no entanto, da maneira mais fácil e conveniente somente para si. Não é à toa que o autor colocou a frase ?O herói sem nenhum caráter? como subtítulo de seu escrito.
No que diz respeito à narrativa, Mário inseriu propositalmente erros gramaticais em seu livro, como ausência de vírgulas, início de frase com pronome indireto, palavras sem acento ou escritas juntas, troca da letra ?E? pela letra ?I?, etc. O autor tomou essa decisão pois acreditava que facilitaria o entendimento das pessoas utilizando um vocabulário popular, mas comigo ocorreu o contrário. Esses erros de gramática me deixaram confusa e dificultaram bastante minha compreensão em alguns trechos, inclusive geraram ambiguidade em alguns casos.
Uma das características mais fortes de Macunaíma é o Surrealismo. O espaço e o tempo são arbitrários, os personagens conseguem ir de um estado do país ao outro em questão de pouquíssimos minutos e podem se transformar em diversas coisas também, como animais e objetos. Animais têm a capacidade de falar com os humanos e ajudá-los e vale lembrar que elementos como o Sol, a Lua, a Chuva também falam e são personagens muito presentes na história.
Senti falta de um pouco de objetividade nesta obra. A maior parte da trama constitui-se de acontecimentos ?soltos?, que não têm um objetivo na narrativa, não levam a lugar nenhum. Isso me incomodou um pouco, senti que o autor muitas vezes enrolava demais e o que era para ser o foco do livro acabou ficando um pouco de escanteio.
O desfecho da trama foi completamente desapontante. Fiquei profundamente decepcionada, afinal, Macunaíma estava em busca de sua muiraquitã desde o início da história, era de se esperar que houvesse um final mais emocionante e justo.
Apesar de tantos aspectos ruins, Macunaíma trouxe um ponto bom e que apreciei muito durante a leitura: riqueza cultural. Mário de Andrade fez questão de inserir em sua obra histórias, palavras e provérbios indígenas, uma característica que quase não encontramos nos livros contemporâneos.
Sinceramente, não recomendo o livro como lazer, apenas se for uma leitura obrigatória em disciplina como Literatura, por exemplo. Mas, claro, gosto não se discute e todos devem tirar suas próprias conclusões independentemente da opinião de outra pessoa. É um clássico que tenta definir o caráter nacional brasileiro e sua leitura é relevante.