Inácio 06/03/2012
Odara
(texto publicado originalmente no www.caotico.com.br)
Em plena leitura de A Dança dos desejos recebi uma mensagem da simpática assessora de imprensa da editora Record oferecendo umm exemplar do lançamento Odara para repetir a promoção de sorteá-lo entre os leitores do blog interessados em escrever uma crítica ou um comentário sobre a obra.
Acho que o interesse particular pelo romance do Esdras do nascimento acabou se transformando em entusiasmo pela literatura brasileira contemporânea em geral. Pedi que ela mandasse o livro para eu mesmo comentar.
Recebi, li e agora, conforme o combinado, publico minha opinião: gostei mais ou menos. Ou melhor, gostei só um pouquinho assim.
Odara tem algumas ótimas sacadas, a começar pelo ideia central, a “biografia” de um travesti ou o bom humor pulverizado na história aqui e acolá, como o trecho em que o protagonista, ainda menino, pede uma Barbie noiva de presente.
Melhor ainda é o recurso de intercalar o texto em primeira pessoa do personagem central Odara/Normando com trechos de depoimentos dos demais personagens, como seus amantes, amigos e parentes, que ora contam outra versão da história, ora ratificam aquilo que conta o/a protagonista.
Como o meia que pensa uma jogada magistral, prestes a enfiar uma bola em profundidade para o atacante que se desloca, o autor, Márcio Paschoal, teve um excelente lampejo, mas a jogada não foi assim tão bem executada. O passe saiu curto demais, o beque interceptou a bola, o artilheiro ficou a ver navios.
A promessa anunciada em releases e entrevistas de contar a história de uma pessoa como qualquer outra, tentando viver uma vida normal com suas vacilações, angústias, alegrias, sonhos e projetos, não se concretiza de todo. Odara acaba sendo apenas a biografia de uma caricatura.
A trama, as situações soam artificiais, tão superficiais quanto as relações que o protagonista trava com homens, mulheres, crianças, velhos, índios e filhinhos-da-mamãe. Talvez tenha sido essa a intenção do autor, construir uma alegoria em torno da vida de uma alegoria, pois apesar de um bom início, a construção do personagem vai perdendo a pegada, a “sustança”, como diria os sertanejos.
Ora ele é ela, toda gostosinha namorando com um septuagenário animado, ora ela é ele, comendo a filha do septuagenário. Depois é ele e ela, a um só tempo, sendo explorado/a sexualmente por uma organização esquisitíssima, meio exército separatista meio máfia pornográfica, tão caricata quanto. E ainda vai parar no meio dos xavantes no norte do Mato Grosso. E os xavantes também acabam no meio dela. Ou dele.
A verdade é que isso tudo não funcionou no romance, ficou tudo muito solto. Talvez fique melhor no cinema, numa dessas comédias brasileiras interpretadas por atores globais.