Odara

Odara Marcio Paschoal




Resenhas - Odara


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Tibúrcio 13/12/2018

Odara
Odara foi um livro que comprei para usá-lo como pesquisa e fonte de inspiração num trabalho. Porém, me deparei com uma obra incrível, marcada pela excentricidade e um tema pouco comum. O autor, Márcio Paschoal criou uma narrativa ímpar e extremamente hipnótica.
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Normando é o personagem principal que desde cedo percebe-se diferente, entenda diferente aqui como o que foge do convencional para a sociedade. A medida que cresce, Normando torna-se também Odara, uma travesti incomum e ao mesmo tempo inolvidável.
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Narrado em 1ª pessoa, Normando/Odara conta os fatos de acordo com sua visão e, conforme a narrativa avança, percebemos o amadurecimento da personagem, com isso, começa a surgir uma dúvida sobre seu caráter. É importante observar que o Márcio não coloca o personagem estereotipado como um ser humano marginalizado, o que é muito interessante na construção deste. Odara foge do convencional mostrando-se uma travesti letrada, que ama poetas russos e da alta literatura, alimentando um sonho de se formar em Biblioteconomia. A irreverência da personagem está no fato dela ser tão vítima quanto subversiva. Há uma certa proporção entre vitimismo e destrutivo.
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Com uma personalidade plural, a travesti vai construindo sua história com suas aventuras, muitas delas sexuais, na qual usa um nome diferente para cada história. A ficção aqui parece se misturar com a realidade tornando-se nua e cruel fazendo do livro o mais verdadeiro possível. A narrativa de Odara é confrontada com depoimentos de personagens que partilharam experiências com ela. Entretanto, esses depoimentos entram em conflito com as histórias que ela conta por terem versões completamente diferentes das suas.
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Importante lembrar que o autor se inspirou em personalidades que representam bem este tema como Roberta Close, Ariadna, ex BBB, e a modelo Lea T. Nesta obra conseguimos perceber que a feminilidade não é exclusiva ao sexo feminino (me corrijam se eu estiver errado, por favor), a própria Odara não quer mexer no seu órgão genital, mas sente-se completa com sua feminilidade.
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Nesta obra há uma busca pela aceitação, sendo a protagonista o eixo dessa batalha. Paschoal mescla a vulgaridade típica do tema com a mais alta qualidade literária. Às vezes choca com falas e outras vezes nos maravilha com referências maravilhosas implícitas. Ele compara a transformação corporal dela a metamorfose kafkiana. É um livro incrível e de uma leitura formidável. Leiam.
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Inácio 06/03/2012

Odara
(texto publicado originalmente no www.caotico.com.br)

Em plena leitura de A Dança dos desejos recebi uma mensagem da simpática assessora de imprensa da editora Record oferecendo umm exemplar do lançamento Odara para repetir a promoção de sorteá-lo entre os leitores do blog interessados em escrever uma crítica ou um comentário sobre a obra.

Acho que o interesse particular pelo romance do Esdras do nascimento acabou se transformando em entusiasmo pela literatura brasileira contemporânea em geral. Pedi que ela mandasse o livro para eu mesmo comentar.

Recebi, li e agora, conforme o combinado, publico minha opinião: gostei mais ou menos. Ou melhor, gostei só um pouquinho assim.
Odara tem algumas ótimas sacadas, a começar pelo ideia central, a “biografia” de um travesti ou o bom humor pulverizado na história aqui e acolá, como o trecho em que o protagonista, ainda menino, pede uma Barbie noiva de presente.

Melhor ainda é o recurso de intercalar o texto em primeira pessoa do personagem central Odara/Normando com trechos de depoimentos dos demais personagens, como seus amantes, amigos e parentes, que ora contam outra versão da história, ora ratificam aquilo que conta o/a protagonista.

Como o meia que pensa uma jogada magistral, prestes a enfiar uma bola em profundidade para o atacante que se desloca, o autor, Márcio Paschoal, teve um excelente lampejo, mas a jogada não foi assim tão bem executada. O passe saiu curto demais, o beque interceptou a bola, o artilheiro ficou a ver navios.

A promessa anunciada em releases e entrevistas de contar a história de uma pessoa como qualquer outra, tentando viver uma vida normal com suas vacilações, angústias, alegrias, sonhos e projetos, não se concretiza de todo. Odara acaba sendo apenas a biografia de uma caricatura.

A trama, as situações soam artificiais, tão superficiais quanto as relações que o protagonista trava com homens, mulheres, crianças, velhos, índios e filhinhos-da-mamãe. Talvez tenha sido essa a intenção do autor, construir uma alegoria em torno da vida de uma alegoria, pois apesar de um bom início, a construção do personagem vai perdendo a pegada, a “sustança”, como diria os sertanejos.

Ora ele é ela, toda gostosinha namorando com um septuagenário animado, ora ela é ele, comendo a filha do septuagenário. Depois é ele e ela, a um só tempo, sendo explorado/a sexualmente por uma organização esquisitíssima, meio exército separatista meio máfia pornográfica, tão caricata quanto. E ainda vai parar no meio dos xavantes no norte do Mato Grosso. E os xavantes também acabam no meio dela. Ou dele.

A verdade é que isso tudo não funcionou no romance, ficou tudo muito solto. Talvez fique melhor no cinema, numa dessas comédias brasileiras interpretadas por atores globais.
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