Rafittha 12/06/2024
O Mundo Perdido
É incrível ver o Brasil como miolo da literatura de ficção não brasileira. E ainda por cima apreciar a imagem do colonizador de forma deliberadamente satirizada!
O mundo perdido, de Arthur Conan Doyle, traz-nos uma narrativa repleta de simbolismos e ironías. Não apenas um clássico que menciona animais extintos, mas a obra precursora para a ascensão dos dinossauros na cultura pop. Doyle, trás à luz a construção do imaginário acerca dos gigantes pré-históricos.
Com um início lento e descritivo, o autor aponta a busca pelo heroísmo e pela aprovação da virilidade e valor, quando o jovem jornalista e atleta Edward Mallone, decide partir de Londres para embarcar em uma expedição científica e explorar um território longínquo e inexplorado na Selva Amazônica, o coração do Brasil, dormente desde o tempo em que animais pré-históricos caminhavam sobre a Terra, juntamente com os cientistas George Edward Challenger e Arthur Summerlee e o explorador e caçador Lorde John Roxton.
A forma com que Doyle, apresenta a intrigante terra de Maple White, como foi nomeada em homenagem ao primeiro explorador e estopim para o início da empreitada, comparando as diferentes teorias sociológicas, filosóficas em paralelo as teorias da evolução de Charles Darwin, trazem deslumbramento aos olhos do leitor.
Para leitores de romances românticos, fica evidente a ausência de um desenvolvimento do romance entre Mallone e sua amada Gladys, que prenda e aqueça o coração do leitor apaixonado. A minimização do papel da mulher, apenas como donzela em busca do marido e herói ideal e sem protagonismo, reflete o contexto social ao qual o autor escreveu a obra. Tão qual as diversas falas elitistas e alusões do poderio racial satirizadas nos personagens, transparecem além da influência ao qual a obra foi escrita, a busca do autor em problematizar e aludir a ideologia da grandiosidade do homem branco, londrino e estudado frente aos diferentes povos.