Ednelson 04/12/2012
Análise:
“[...] A força é muito grande, ela precisa ser canalizada. Você precisa tomar ciência do poder, compreendê-lo. Deixar que ele aja por você, e não em você.”
—Pág. 8.
Saudações, caros leitores! O livro avaliado de hoje é o segundo volume de uma trilogia. Começar sagas, para alguns leitores, é motivo para temor, pois o medo que a qualidade da história caia ao longo das partes sempre ronda a mente. Quando adquirimos um livro, normalmente estamos investindo nele o nosso dinheiro, além de nosso precioso tempo, e, em contrapartida, esperamos obter um entretenimento que nos agrade, nada mais justo, desde que escolhamos o livro tendo em conta qual é a proposta do escritor ao gerar aquela obra. Agora, vamos efetivamente refletir acerca das sensações e pensamentos que foram semeados em mim e ao que estas coisas me conduziram.
O livro inicia-se no exato ponto em que o anterior terminou, dando a impressão de que somente o tempo de um virar de página passou da leitura do primeiro para o segundo volume e isso faz com que a memória dos acontecimentos fique fresca, além de que a protagonista (Heather) parece regredir ao estado primário de sua personalidade nas primeiras páginas da aventura, visto que ela demonstra completo estranhamento e desorientação frente à realidade da ascensão de seu poder. Entretanto, rapidamente temos o primeiro dos vários pontos de virada da trama. As repentinas e contínuas, porém bem construídas, alterações de rumo da história foi uma das novidades que mais me causou deleite e fará aqueles que comprarem o livro I quererem comprar o II, ao menos supondo que as minhas palavras passem credibilidade. A continuação justifica-se, não há como dizer o contrário.
A adição de novos personagens realmente foi milimetricamente pensada, uma vez que nada fica sem uma importância fundamental, até mesmo aqueles que parecem bem secundários demonstram que terão a chance de serem fatores determinantes, isto deixa o quadro dos eventos mais complexo e, consequentemente, composto de personagens mais sólidos, presentes em cenas, pois é desagradável acompanhar algo (série, filme, livro etc) em que o criador vai inserindo mais e mais elementos sem deixar mais do que meia dúzia tangíveis, enquanto o resto não passa da famosa “encheção de linguiça”. A Tatiana me demonstrou real preocupação em elaborar uma obra em que o leitor não ficasse detido em trechos dispensáveis, tive a percepção de que a escritora diante do papel em branco não teve dúvidas ou pelo menos não escreveu sob o efeito de incerteza. Considero sinal de respeito ao leitor manter um texto o mais limpo possível.
Um dos personagens trabalhados neste volume, o anjo caído Jophiel, senhor do Olho de Cerno (submundo), serve como o maior exemplo de um atributo que a escritora conseguiu conferir ao texto: uma linha tênue entre o bem e o mal. O conflito é baseado em oposições de interesses e não em indivíduos que ficam professando valores, essa característica tornou a leitura mais divertida e capaz de surpreender, pois não há uma definição clara dos limites de cada personagem, ninguém fica preso à uma “grade moral”. Alguns paradigmas comportamentais são rompidos e a evolução dos personagens ocorre nas direções mais improváveis, por exemplo, Stuart, um vampiro amigo de Henry, que era impaciente, antirromântico e indisciplinado, acaba caindo em um contexto inimaginável até o presente.
Jophiel, sem dúvida alguma, é o personagem mais encantador pela sua maneira imponente de apresentar-se e o sarcasmo aguçado que fica balanceado pelo alto carisma de poucas, mas bem pensadas, palavras. O anjo caído não faz o tipo mocinho desnorteado e vulnerável, muito pelo contrário, ele é o anti-herói que chegou de vez para revelar o outro lado da moeda e roubar a cena de alguns personagens. Todavia, a relação amorosa de Henry e Heather não é esquecida e nos proporciona ainda mais instantes de descobertas de deixarem qualquer um boquiaberto. O vaticínio sobre Heather fica ainda mais pesado e o preço de possuir um poder colossal é cobrado sem piedade e todo aquele que estiver no caminho está passível de tornar-se uma vítima do conflito que se anuncia.
Todos os fatos são elucidados de forma mais justa, o Conselho de Esplendora perde bastante de seu poder nos relatos históricos e acaba deixando exposta a sua face menos graciosa e o leitor vê que há podridão no reino celestial. Fica ainda mais ressaltado que não há como parar a tormenta senão por uma guerra em que os destroços muito provavelmente irão além do horizonte. “O poder”, desfecho da saga, promete uma intensa movimentação e um final em chamas.
A diagramação do livro (li em e-book) está perfeita, quanto a isso só posso elogiar, entretanto a revisão deixou passar alguns erros de escrita. É compreensível que existam pequenos deslizes na revisão, já vi livros com vários revisores e ainda com erros, mas é sempre bom frisar a importância de um texto o mais trabalhado possível em conjunto com a sua parte física ou estrutura digital. Avaliando estes dois aspectos, em relação ao primeiro livro, onde a diagramação ficou um pouco a desejar, posso declarar que houve evolução, logo darei quatro selos cabulosos e meio!
Escrevo no: http://leitorcabuloso.com.br/