waltertierno 03/05/2011
Noturno
Como descobri:
Será coinscidência? Já é o segundo álbum da Zarabatana que compro da mesma forma: "Caroçando" na Livraria Cultura. O outro foi "Bando de Dois". Os dois chamaram minha atenção pelo desenho. Levei sem saber se o texto valia alguma coisa. Atitude bastante arriscada para quem curte quadrinhos. Não são raros os casos de quadrinhos com desenhos sensacionais, criativos e delirantes que carregam um texto boboca ou, pior, "umbilical". Ou seja, só quem sabe que porcarias passam pela cabeça do autor conseguem entender alguma coisa da bobagem toda que está ali. Felizmente, não foi o caso de "Bando de Dois" e, definitivamente, não é o caso de "Noturno".
Salvador Sanz é um artista argentino que se divide em trabalhos com animação, quadrinhos, cinema e publicidade.
O que se pode dizer sobre a obra:
Muita gente confunde a pequena proporção com que falo de mangás (quadrinhos japoneses) com uma má vontade com o gênero (se é que se pode chamar assim). Não é verdade. Para mim, HQ é HQ, não importa de onde venha. Tanto que, em breve, pretendo falar sobre algumas obras orientais. Neste "Noturno", por exemplo, é possível perceber uma forte influência dos mangás e eu acredito que isso acrescentou muito à obra. A bizarrice das transformações dos personagens em aves são dignas das melhores histórias de terror japonesas. Mas é nas cenas de ação que a referência gráfica fica explícita. Os planos abertos, as sequências "passo a passo", como se você estivesse vendo a ação em câmera lenta, os conhecidos traços de fundo, que visam borrar o cenário, para centralizar o olhar no elemento central. Todos os traços, ditos realistas, na verdade visam mais uma força expressionista do que representação hiperrealista, como quer sugerir o editor. É de se esperar, em uma obra chamada "Noturno" - em que a história explora a natureza fantástica dos sonhos -,que o desenhista dê preferência às sombras e isso é muito bem conduzido.
Na condução da história, existe um ensaio de didatismo na explicação de como as aves migram de um mundo ao outro, mas o autor consegue manter o mistério na devida proporção, sem revelar mais do que realmente interessa. Sou da opinião que é um trunfo da fantasia deixar lacunas a serem preenchidas pelo leitor.
Por fim, cabe dizer que não é um álbum para todas as idades. Meu nível de censura, devo dizer, é um pouco mais baixo. Esta obra está indicada para maiores de 18, mas eu acredito que os maiores de 16 já estão preparados para curtir. Eu lia coisas bem mais "cabeludas" quando tinha entre 16 e 18 e aqui estou... Ok... posso não ser parâmetro...
(Esta resenha foi originalmente publicada em minha coluna PsychoComics, do blog Psychobooks)