spoiler visualizarBella 26/09/2019
Um bom livro.
Ouvi de vários gaúchos que esse era o livro favorito deles. Acho que criei expectativas injustas e grandiosas sobre o livro, que afetaram a minha leitura. Eu amei a escrita do autor, me perdi no tempo ao ler. Iniciei a leitura depois do almoço, e só consegui largar um pouco antes do sol se por, pois havia chegado ao fim. A história é cativante até um certo ponto. Quando eles se mudam para São Paulo, São Paulo lhes muda a essência. Cheguei a pegar preguiça do Guedali. Quando ela decidiu ir atrás dele na fazenda da família, no final do livro, eu achei rídiculo. Ele abandonou ela e os filhos! Deixando ela se sentir culpada pela traição, sendo que ele também havia traído ela com a Fernanda e depois a Lolah. Achei essa situação um pouco difícil de engolir. Porém, o simbolismo da história é fenomenal. Me identifiquei com Guedali quando ele foi para Marrocos tentar recuperar sua forma de centauro. Já não sabia mais quem era. Como todo o ser humano. Todos nós nos perdemos, e estamos em busca de nos encontrar. Muitas vezes, sem rumo que encontramos os melhores caminhos, por mais que pareça clichê, é verdade, e vi muito disso nesse livro. Existe um pouco de cada um de nós no Guedali. Procurando quem somos. Outra coisa legal do livro foi conhecer um pouco sobre a cultura judaica, e como os judeus brasileiros se sentiam ao ver o caos da segunda guerra mundial (e também como comemoraram com o seu fim, e o com surgimento do estado dos judeus). Pude perceber também os traços de política no livro. Quando Guedali perdeu sua parte de cavalo, aderiu ao capitalismo e também ao consumismo. Aquele que antes lia Marx com gosto, gastou um bom dinheiro para decorar sua casa como a das revistas, a morar em um condomínio de luxo. Trocou os campos pelas empresas. O final da história, onde recebemos uma nova ideia, de que centauros não existem e que tudo é fruto de um tumor cerebral, instaura uma dúvida no leitor. Essa dúvida dura pouco, pois logo vemos que os instintos de centauros ainda habitam o corpo de Guedali, ao se sentir atraído por uma moça que conversava com Tita. Esse é um livro humano, que mostra como uma pessoa diferente pode perder sua essência ao tentar se adequar as normas da sociedade, mostrando a busca para sair da solidão (inicialmente), e também para saber quem é. O livro, por mais que tenha me perdido a partir da parte de São Paulo, onde houve muitas coincidências juntas (parecia uma novela mexicana) e algumas atitudes dos personagens não me agradavam muito. Um livro com uma reflexão boa, uma escrita fenomenal, mas não me cativou tanto quando eu imaginava.