spoiler visualizarKleiton 19/09/2021
Orwell versátil
O livro - que é divido em 6 partes - apresenta diversos ensaios escritos pelo autor ao longos dos anos, quais sejam:
?? 1. Os dias são sempre iguais
?? Um dia na vida de um vagabundo (A day in the life of a tramp)
??O albergue (The spike)
??Diário da colheita de lúpulo (Hop-picking diary)
??Em cana (Clink)
??Como morrem os pobres (How the poor die)
?? 2. A sinceridade é inimiga da linguagem clara
??Em defesa do eomance (In defence of the novel)
??A poesia e o microfone (Poetry and the microphone)
?? Propaganda e discurso popular (Propaganda and demotic speech)
??A política e a língua inglesa (Politics and the English language)
?? 3. A covardia intelectual é o pior inimigo
??Jornal por um vintém (A farthing newspaper)
??Semanários para meninos (Boys?s weeklies)
??A liberdade do parque (Freedom of the park)
??A prevenção contra a literatura (The prevention of literature)
??A liberdade de imprensa (The freedom of the press - prefácio para A revolução dos bichos)
??4. ?Pacifismo? é uma palavra vaga
??A vingança é amarga (Revenge is sour)
?? Pacifismo e progresso (Pacifism and progress)
?? A questão do prêmio de Pound (The question of the Pound award)
??5. É melhor cozinhar batatas do que fritá-las
???Tamanhas eram as alegrias? (?Such, such were the joys?)
??Inglaterra, nossa Inglaterra (England your England)
??O espírito esportivo (The sporting spirit)
??Em defesa da culinária inglesa (In defence of English cooking)
??Uma boa xícara de chá (A nice cup of tea)
??Moon Under Water (Rhe Moon Under Water)
??O declínio do assassinato inglês (Decline of the English murder)
??6. O sapo tem o olho mais bonito
??Marrakesh (Marrakech)
??Em defesa da lareira (The case dor the open fire)
??Fora com esse uniforme (Banish this uniform)
??Livros e cigarros (Books v. cigaretts)
??Algumas reflexões sobre o sapo comum (Some thoughts on the commom toad)
Mais um do grande George Orwell!!!! Assuntos os mais diversos possíveis e impossíveis kkkk Até sobre sapos o famoso Orwell fala ??. Muito bom conhecer este outro lado do autor - ele no ?mundo real criticando tudo e quase todos ?. Até por ?vagabundo? ele passa pra entender a realidade vivida por essa população. Vale muito a pena a leitura. Vale 4 estrelas ???? só pq teve alguns ensaios chatinhos kkk.
Teve duas passagens bem marcantes no ensaio sobre MARRAKESH que vou copiar aqui. Já havia trazido no desenvolvimento da leitura mas vou repetir aqui na resenha. E por fim vou colocar algumas informações sobre o autor da obra.
?Mas o que é estranho em relação a essas pessoas é sua invisibilidade. Durante várias semanas, sempre por volta da mesma hora do dia, a fila de mulheres velhas havia passado pela minha casa com sua lenha, e embora elas tivessem se registrado em meus globos oculares, não posso dizer com certeza que as vi. Passou lenha?foi isso que eu vi. Foi somente naquele dia que aconteceu de eu estar caminhando atrás delas que o curioso movimento para cima e para baixo da pilha de lenha chamou minha atenção para o ser humano que estava embaixo dela. Então, pela primeira vez, notei os corpos pobres e velhos da cor da terra, corpos reduzidos a ossos e pele coriácea, encurvados sob o peso esmagador. Contudo, imagino que não fazia cinco minutos que eu estava em solo marroquino quando notei o excesso de carga sobre os burros e fiquei enfurecido com aquilo. Não há dúvida de que os burros são extremamente maltratados. O burro marroquino é pouco maior que um cão são-bernardo, leva uma carga que no Exército britânico seria considerada demais para uma mula de metro e meio de altura, e com muita frequência não tiram sua albarda do lombo durante semanas a fio. Mas o que é peculiarmente lamentável é que se trata do animal de maior boa vontade da Terra, segue seu dono como um cachorro e não precisa de rédea nem cabresto. Após uma dezena de anos de trabalho devotado, de repente cai morto e seu dono o joga na vala e os cães da aldeia rasgam suas entranhas antes que fique frio. Esse tipo de coisa faz o sangue da gente ferver, enquanto, em geral, o mesmo não acontece diante do sofrimento dos seres humanos. Não estou criticando, apenas apontando um fato. As pessoas com pele marrom são quase invisíveis. Qualquer um pode sentir pena do burro com seu lombo atormentado, mas deve-se, em geral, a um acidente o fato de alguém notar a velha com sua carga de lenha.?
?Eram senegaleses, os negros mais pretos da África, tão pretos que às vezes é difícil ver onde termina o pescoço e começa o cabelo. Seus corpos esplêndidos estavam escondidos em uniformes cáqui, os pés enfiados em botas que pareciam blocos de madeira, e os capacetes pareciam dois tamanhos menor. Estava muito quente e os homens haviam marchado uma longa distância. Eles se curvavam sob o peso de suas mochilas e os rostos negros curiosamente sensíveis brilhavam de suor. Enquanto passavam, um negro muito jovem e alto se virou e cruzou seu olhar com o meu. Mas o olhar que me deu não era de forma alguma o tipo de olhar que se poderia esperar. Não hostil, não insolente, não taciturno, nem mesmo inquisitivo. Era o olhar negro tímido e arregalado que é, na verdade, um olhar de profundo respeito. Eu vi como era. Aquele infeliz, que é um cidadão francês e, portanto foi arrancado da floresta para esfregar chãos e pegar sífilis numa praça forte, tem sentimentos de reverência perante uma pele branca. Ensinaram-lhe que os de raça branca são seus senhores e ele ainda acredita nisso. Mas há um pensamento que todo homem branco (e nesse sentido, não importa nada se ele se diz socialista) tem quando vê um exército negro passando. ?Por quanto tempo ainda poderemos continuar enganando essa gente? Por quanto tempo, até que eles virem suas armas na outra direção?? Era curioso, de fato. Cada homem branco que estava lá tinha esse pensamento guardado em algum lugar da cabeça. Eu tinha, assim como os outros espectadores, os oficiais em seus cavalos de batalha e os oficiais não comissionados que marchavam nas fileiras. Era um tipo de segredo que todos conhecíamos e éramos espertos demais para contar; só os negros não o conheciam.?
Sobre o autor Eric Arthur Blair (George Orwell) nasceu em 1903, na Índia, onde seu pai era funcionário público do Império Britânico. A família mudou-se para a Inglaterra em 1907, e em 1917 Orwell ingressou em Eton, escola de elite, onde era bolsista. Lá, contribuiu regularmente para várias publicações. De 1922 a 1927, serviu na Força Policial Imperial Indiana, na Birmânia (atual Mianmar), experiência que inspirou seu primeiro romance, Dias na Birmânia, de 1934. Seguiram-se vários anos de pobreza. Viveu em Paris dois anos até voltar à Inglaterra, onde trabalhou sucessivamente como professor particular, mestre-escola e vendedor em livraria, contribuindo também com resenhas e artigos para diversos periódicos. Na pior em Paris e Londres foi publicado em 1933. Em 1936 recebeu do editor Victor Gollancz a incumbência de visitar áreas que sofriam de desemprego em massa, nos condados de Lancashire e Yorkshire. O caminho para Wigan Pier (1937) é uma impressionante descrição da penúria que Orwell testemunhou nessas regiões da Inglaterra. No fim de 1936, decidiu ir à Espanha lutar ao lado dos republicanos, e ali foi ferido. Homenagem à Catalunha é o seu relato da Guerra Civil Espanhola. Em 1938 foi hospitalizado em um sanatório para tuberculosos e nunca mais recuperou plenamente a saúde. Passou seis meses no Marrocos, onde escreveu Um pouco de ar, por favor. Durante a Segunda Guerra Mundial serviu na Guarda Nacional Britânica, e de 1941 a 1943 trabalhou na BBC, no serviço de transmissões para o Oriente. Como editor literário do Tribune, colaborava regularmente com comentários políticos e literários; também escreveu para o Observer e depois para o Manchester Evening News. Sua alegoria política A revolução dos bichos foi publicada em 1945. Foi esse livro, juntamente com 1984 (de 1949), que lhe trouxe fama mundial. Orwell morreu em Londres, em janeiro de 1950. Alguns dias antes, Desmond MacCarthy lhe enviara uma mensagem de saudações, na qual dizia: ?Você deixou uma marca indelével na literatura inglesa [...] Você é dos poucos escritores memoráveis da sua geração?.