Becca Stupello 29/05/2016
Futuro best-seller!
Com o livro “Oposição” da Thaísa Lixa, você vai conhecer e se apaixonar pela inocência e bondade de Lilith, uma garota destinada à uma história que te causa vários sentimentos reais: compaixão, medo, raiva, e de certa parte indignação pelo tamanho preconceito que alguém pode sofrer pela sua aparência e mitos.
Na verdade, não só dela, já que nessa série de livros temos a perspectiva em uma narrativa em terceira pessoa, o que nos dá a visão não só do que consideramos o lado do “bem” (na dimensão de Lilith), mas também o lado “ruim” (na dimensão dos demnos), mesmo que em Stellium não se tenha vilões propriamente ditos e que até nossas perspectivas de bem e mal sejam desconstruídas e difundidas, já que esses termos em Stellium chegam a ser muito relativos. Mas isso nós vemos conforme lemos e entrelaçamos nossos sentimentos — sejam estes bons ou ruins — com os dos personagens que, mesmo quando você os odeia, ainda deseja que eles permaneçam ali.
O mundo em que temos em Stellium é totalmente abundante em criatividade, mesmo que seja simples, a autora consegue deixar uma ideia muito complexa e cheia de plot twists — que, a propósito, é o que muito tem nesse livro: várias reviravoltas que você simplesmente não espera e que te fez ficar de queixo caído. Ora, eu nunca vi um livro em que o inferno fosse superior ao que chamamos de céu: mas não veja esses símbolos como representa o cristianismo; a verdade é que Thaísa criou, a partir de inspirações em várias mitologias, sua própria mitologia com esse aperfeiçoamento de nomes, e isso você percebe logo no início da leitura, quando temos um demônio supremo, chamado Beherit, que estava cansado de sua monotonia e “se divide” em cinco Deuses: estes são chamados os supremos Deuses do Inferno, na história. E há o mais poderoso (e que eu particularmente amo e que se pudesse compraria um bichinho de pelúcia dele), que é chamado de Ahriman. Ele é foda memo, daquele tipo que “você-sabe-quem”.
E por algum motivo desconhecido, em um mundo domado por pessoas de aparência igual (cabelos e olhos negros), Lilith nasceu com a aparência singular e proibida: loira de olhos azuis. Por isso, é muito discriminada. E também é curioso perceber que ela tem sonhos estranhos com esses Deuses, sonhos que duram por toda uma noite e que a fazem ir correndo até o quarto de sua irmã, Alice (que você pode odiar nos primeiros momentos do livro, mas passa), que é super protetora e um amorzinho, e passar a tomar remédios para não tê-los e evitar contato com os Deuses ao máximo. O mistério começa a rolar em torno disso: qual a relação da Lilith em torno dos Deuses? Por que ela nasceu desse jeito? Por que ela tem sonhos? O que os demnos, que para eles são dedicados certo ponto da narrativa, tem a ver com isso? E você fica: waaaaaaa quero saber mais! E fica a noite inteira lendo freneticamente e levando vários tapas na cara pelo enredo, trama e personagens muito cativantes.
E aí, a história toma um rumo e os mistérios começam a ser revelados quando Lilith, que acabara de receber uma notícia péssima, decide tomar um banho de chuva com Alice. E eu amo tanto a Lilith por isso, ela é muito forte por aguentar tudo o que ela passa e mesmo assim ter a inocência, ser feliz nesses poucos momentos. O que acontece é que graças a se molhar inteira, Lilith fica doente. Mas ficar doente não foi o problema, o problema foi ela ficar doente bem quando acontece a Convocação, onde todos os humanos da dimensão são chamados pra irem até um lugar onde os Deuses aparecem pra exigirem sacrifícios, dão avisos ou vão punir alguém. Enfim, o que é importante: você não pode faltar a esse troço! Mas como a Lilith está mesmo sem condições de ir, já que está queimando de febre a quase quarenta graus, é permitido que ela fique em casa junto com a Alice enquanto a mãe delas vai pra Convocação.
Mas acontece tudo errado. Lilith delira, se levanta e, por mais que a Alice tentasse impedir ela de ir, ela estava toda sonambulada, dizendo coisas sem sentido e quando você vê, as duas já estão lá na frente depois da Convocação acabar, a Lilith sobe os degraus eeee... Vai pra outra dimensão. A dimensão dos demnos.
Só pra deixar claro, demnos são tipo demônios mesmo: eles são ruins, escravizam humanos (e justamente nessa dimensão deles humanos são escravizados) e comem carne humana. Alguns (bem poucos) são até mais bonzinhos e não gostam de escravizar, mas eles tem que fazer. Se não fizerem... bom, o destino não é muito legal não. Você conhece alguns, como os gêmeos, a Isabelle e o Seth logo no começo do livro, e já começa a perceber quem são os ruins e quem não são. E ai a Lilith E a Alice vão parar nessa dimensão fucking meu deussssss, você fica AAAH!
O romance também é desenvolvido bem lentamente, e claro que, o que é mais gostoso: você não precisa torcer para ela ficar com nem um nem outro. Eu demorei pra entender isso enquanto lia, não sabia para quem torcia, ficava com raiva de um, depois de outro, mas depois você entende que não precisa escolher. Essa não é uma história de triângulo amoroso, felizmente. E Stellium é sobre uma história de amor, com toda certeza. E também trata a realidade como é. Não espere demnos super amorosos e legais, isso seria totalmente fora da realidade do livro, que trata com tanta verossimilidade sua mitologia: demnos são ruins. Sabendo disso, você sabe o que eles são capazes de fazer. Na verdade, em uma cena, é mostrado até realmente que ponto eles são capazes de chegar, mostrando realmente o que são: seres do Inferno. E essa cena me deu náuseas, me fez ficar na cama por meia hora olhando pro teto e pensando: “meu deus, eu odeio esse personagem, que ruim, que nojo, que horror, meu deuses!! Por quê??” (e no final eu tava lá gostando dele de novo, pois é). Mas é isso que Stellium é: realidade. Não tem absolutamente NADA romantizado e eu achei incrível uma cena me fazer quase passar mal, isso só mostra o quanto a escrita da autora é incrível e te provoca vários sentimentos.
Não vou esquecer da representatividade. Stellium é um mar de representatividade, principalmente feminina. Temos também várias orientações sexuais, identidade de gênero, e representatividade negra também. E isso é mais um ponto positivo pra essa história nesse mar de enredos onde só vemos um tipo de pessoa. Os personagens são muito bem construídos, ótimos, e o desfecho é mais que emocionante. Você vai terminar o livro querendo matar a Thaísa, torcendo para a continuação pra ontem, com várias dúvidas rondando sua cabeça e olhando pro teto e pensando o que vai fazer da sua vida agora. São vários sentimentos enrolados, várias teorias, e são poucos livros que te cativam tanto assim. E me cativou em tudo. Vamos deixar claro, então: se você não leu, leia! É uma história que tem tudo pra virar um best-seller e eu torço que domine o mundo. E claramente, com essa composição de elementos e com a simpatia da autora, eu já não tenho dúvidas disso.