Aymee2 03/12/2013
Tigres Perigosos
Esse livro é tão interessante que não sei nem por onde começar. Sei que todo mundo chega até ele como um “livro que relata pedofilia” mas não é só isso.Relata muito, muito mais que isso.
Peter não pode ser chamado de monstro, simplesmente porque ele não é a imagem que temos de um cara que chega com violência e estupra uma criança.É algo mais sutil que isso.Peter chega a ser o único amigo de Margaux, a única pessoa da qual ela tinha admiração e o único adulto com quem contar.Em muitos dos seus diálogos Peter não está errado, como quando diz que as pessoas são reprimidas sexualmente (pena que ele não disse isso com boas intenções) ele conversa com Margaux exatamente como a gente sabe que os pedófilos fazem...”não conte a sua mãe...eles não vão entender que a gente se ama...”
Temos que analisar toda a situação de Margaux antes de qualquer julgamento. Margaux é uma menina de 7 anos no inicio do livro, cujos pais estão casados apenas por conveniência. A mãe tem problemas mentais e o pai é um alcoólatra agressivo.Sem querer apontar culpados, mas me pareceu que os dois estavam ocupados demais brigando pra notar a filha, que precisava de atenção. Margaux só tinha a atenção de Peter, já que o péssimo pai só servia para chegar bêbado e brigar a chamando de animal e vergonha.Tive muito mais raiva do pai dela do que de Peter.Sim, Peter era um pedófilo mas era um cara de fora da família, sem nenhuma obrigação e que muitas vezes foi mais gentil que o próprio pai da garota, já o pai dela a ofendia, cortava seu cabelo curto sem permissão destruindo sua autoestima e ainda a culpava pela doença da mãe.Ele se importava somente em manter as aparências a ponto de dizer que Margaux a envergonhava, ou seja,é o típico cara raso que adora dizer como todo mundo deve viver.cada trecho que ele aparecia com seu papo machista me dava náuseas, é o tipo de cara que me faz pensar que deveria existir algum tipo de CNH ou coisa assim pra se retirar antes de ter filhos.A coisa teria sido bem menos pior se não fosse o machismo e o egoismo dele, que dizia que era melhor ter uma filha morta do que abusada.Que filha iria confiar em alguém assim?
Quando Margaux faz 12 anos suas relação com Peter consegue ficar ainda mais abusiva, pois os dois tem brigas direto como se fosse adultos e várias agressões.Na maior parte do tempo que li meu pensamento foi: COMO É QUE NINGUÉM NOTOU? Margaux não comia, sofria bulling na escola, piorou seu desempenho, estava claro que tinha algo errado e me entristece que mesmo sendo claro assim ela não tinha ninguém ao seu redor com quem contar.Ninguém.Por isso um velho que dizia amá-la continuava sendo importante.Mesmo a agredindo.Por sorte, ela também aprende a ser cruel com Peter e ai vimos a fragilidade dele.Um cara completamente traumatizado que sabe que está errado mas não sabe como reparar seu erro.Fica claro que Peter abusou de outras crianças, e que também foi abusado sexualmente na infância. Isso não teria acontecido se ele tivesse tido um tratamento antes.Mas como a autora disse, dificilmente um pedófilo busca tratamento, não só por achar que não está errado mas também por medo da reação da sociedade.O resultado disso nós já conhecemos.
Outra coisa que me chamou a atenção foi a forma com que a mãe de Margaux era tratada.Ela era totalmente silenciada devido a sua doença, mesmo quando estava bem, não tinha nenhuma voz dentro de casa e era hostilizada pelo marido de todas as formas, e isso piorou seu quadro drasticamente, a solução do infeliz foi jogar a culpa da doença em Margaux enquanto ele enchia a cara.A maioria dos casamentos nesse livro parece ser por conveniência, coisa que também não me pareceu nada saudável.
Isso sem contar sobre os outros garotos da casa de Peter, que provavelmente já foram abusados também e ainda tinham de ver a mãe sair com um cara que furtava dinheiro pra comprar cocaína...quando lembro de todas as pessoas dessa livro, me parece que todos, de alguma forma são vítimas.Espero que hoje já tenham superado tão bem como Margaux.