Luiz Pereira Júnior 27/06/2023
Um italiano na corte do Rei Artur...
Na primeira parte de “O castelo dos destinos cruzados”, de Italo Calvino, em um castelo (como o título já diz) fora do tempo e do espaço, um viajante adentra em uma sala de banquetes onde todos os comensais estão mudos. Ao tentar falar, percebe que também ele se encontra na mesma situação. Olhando mais atentamente, ele percebe que os convivas começam a tirar as cartas de tarô, à medida que tentam comunicar com gestos as histórias que os levaram até lá. Na segunda parte do livro, a situação é a mesma, porém se passa em uma taverna. Resumidamente, isso é o livro.
Quem gosta de medievalismos (no melhor estilo de “O nome da rosa”), de romances (supostamente) eruditos, de histórias repletas de símbolos (por vezes até claros demais) e, a bem da verdade, desde que tenha um bom cabedal de leituras, certamente gostará do livro e o fato de eu o ter lido em uma edição ilustrada (preto e branco) certamente me levou a apreciar ainda mais a obra, pois ao mesmo tempo em que lia as histórias podia ver as cartas e acompanhar o que os mudos comensais queriam transmitir (mas tudo, na verdade, é apenas a mera interpretação do narrador, à medida que as cartas iam saindo).
Claro que depois de um certo tempo as histórias começaram a se parecer umas com as outras, mas, com um pouco de paciência, isso não atrapalhará a leitura. Afinal, todos sabem que, por melhor que seja o artifício utilizado, mais cedo ou mais tarde a novidade deixa de ser isso mesmo: novidade.
E o livro? Vale a pena? Sim, desde que você o encontre por um preço camarada e, de preferência, em uma edição que traga as imagens das cartas do tarô. E também, é claro, desde que você tenha interesse por tarô, Idade Média, simbolismos, misticismos (fake ou não), ícones da literatura e por aí vai...