Antes e Depois de Sócrates

Antes e Depois de Sócrates F. M. Cornford




Resenhas - Antes e Depois de Sócrates


4 encontrados | exibindo 1 a 4


Mylaz 08/06/2023

Lindo.
Muito bom, e em muitas partes, muito gostoso de se ler. Embora seja cansativa a leitura em alguns capítulos, esse livro é muito explicativo e possui muitas informações, fez com que eu me apaixonasse por filosofia.
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



Lucio 30/04/2021

O Convite de Sócrates à Filosofia

INTRODUÇÃO

Essas são palestras de verão de Cornford, dadas em Cambridge no começo do século XX. Foram dadas quatro horas para o autor falar, ao que parece, algo sobre filosofia antiga. Tratava-se, claro, de uma tarefa impossível sem que houvesse um recorte. O recorte ou filtro que escolheu foi o de observar o impacto da figura de Sócrates na antiguidade. Para tal, iria observar o cenário filosófico que o precedeu, a revolução paradigmática que propôs e o desenvolvimento de seu legado nas duas figuras mais proeminentes da filosofia grega antiga, Platão e Aristóteles.

RESUMO

Na primeira palestra, Cornford observa a transição da mentalidade mística e mítica para a mentalidade científica dos filósofos da natureza, discutindo não apenas a origem natural de todas as coisas, mas também a própria natureza material do mundo - portanto, acrescentando aí uma exposição do atomismo de Demócrito.
Na segunda palestra, temos finalmente a figura de Sócrates e os motivos pelos quais ele rejeitou a filosofia da natureza - ela é dogmática, versando sobre temas que não podiam ser verificados ou provados, e inútil, por se preocupar com o que era de menor valor ao invés de voltar-se para as questões que importunam a vida humana, que eram certamente mais dignas de atenção. Isso já revela a tônica de sua nova tônica, a saber, as questões relativas à como viver e pelo quê viver - o que iria influenciar as filosofias posteriores a esta fase clássica da filosofia grega. O filósofo propunha uma vida virtuosa como a forma de alcançar realização nesta vida, depreciando tudo o mais que da virtude se desassociasse. Era preciso conhecer-se a si mesmo para dar à razão a proeminência no governo de nossas vidas e, assim, agirmos segundo o conhecimento intuitivo do bem. A propósito, a verdadeira educação consiste justamente de desobstruir tal intuição, embargada por preconceitos e desejos desregulados. Cornford aproveita para expor sobre os sofistas e demonstrar a semelhança e diferença entre eles e Sócrates, a saber, contestavam a moral pública - a semelhança -, ao passo que Sócrates o fazia não em prol de um hedonismo grosseiro, mas de uma moralidade esclarecida.
Na sequência, temos Platão, como o discípulo de Sócrates que conseguiu reproduzir a filosofia do mestre mas que, por tal capacidade, naturalmente também veio a desenvolver sua própria filosofia. Cornford observa como a confluência com o pitagorismo produziu as noções distintamente platônicas do mundo das ideias, da reminiscência e da imortalidade da alma. Há espaço, embora de passagem, para uma crítica ao autoritarismo político de Platão.
Por fim, temos uma exposição de Aristóteles, considerando sua rejeição da teoria das ideiais eternas e substanciais de Platão e sua perspectiva naturalista sobre a realidade, incluindo aí a doutrina da potencialidade para explicar a Forma nos particulares. A biologia é enfatizada pelo autor para explicitar o aspecto da influência das causas finais no seu pensamento. E isso porque em Sócrates temos justamente essa mudança de perspectiva - saindo da busca pelos inícios, típica dos filósofos da natureza, para a dos fins aos quais devemos aspirar. Mas Cornford nota como Aristóteles buscou transcender o mero naturalismo da biologia pela física e metafísica, postulando um Deus eternamente preso em sua autocontemplação, não fazendo mais do que causar os movimentos astronômicos - negando, no final das contas, a aspiração de Sócrates de uma filosofia que postulasse algo relevante para a vida. Nisso, há espaço até mesmo para uma consideração pascaliana (embora não admitida pelo autor como tal) sobre o 'deus dos filósofos'.
Cornford faz a interessante analogia entre os estágios do desenvolvimento humano e as etapas da filosofia antiga. A descoberta do mundo externo e o interesse puro das crianças é comparado à perspectiva das ciências jônicas, dos filósofos da natureza; a rebelião adolescente contra a autoridade e a busca de autonomia é paralela ao espírito dos sofistas; a maturidade é alcançada na filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles; e, por fim, as reflexões sobre resignação e sobre a morte, típicas da velhice, configuram analogia com as filosofias estoica e epicurista.

CRÍTICA

Criticar o texto por não explorar vários aspectos dos filósofos abordados ou por não abordar outros seria certamente injusto e imaturo. Não havia tempo hábil para tal tratamento. Portanto, naquilo que se propôs, Cornford foi extremamente bem-sucedido. E teve mérito inclusive no criativo filtro e recorte que propôs para encaixar tal visão panorâmica da filosofia antiga de uma forma articulada e didática.
Além do mérito da própria explanação dos sistemas dos autores, há de se destacar alguns outros aspectos interessantes. Há críticas muito boas, embora muito breves, ao materialismo atomista, bem como ao racionalismo desespiritualizante, ao pragmatismo que desconsidera as questões mais relevantes da vida e, finalmente, uma interessante consideração do possível autoritarismo na filosofia de Platão.
Do ponto de vista negativo, temos apenas algumas considerações equivocadas em termos de filosofia da religião. Há uma consideração equivocada a respeito da leitura do Gênesis, desconsiderando a diferença substancial em relação aos mitos. E não ficou clara o papel que o autor dá à razão na religião, particularmente na fé cristã.

REFERENCIAL TEÓRICO

É evidente que Cornford está muito bem familiarizado com as obras primárias, i. e., as obras dos próprios autores antigos. Platão e Aristóteles são trabalhados com evidente domínio. O caráter de palestra não permite ao autor revelar suas referências, mas há indícios de sua familiaridade com a pesquisa acadêmica especializada.

RECOMENDAÇÃO

O livro é uma excelente introdução à filosofia de modo geral, e à filosofia antiga de modo específico. Apesar de explicar alguns dos conceitos básicos e mais importantes das figuras centrais do pensamento antigo, seu valor repousa não aí, mas na abordagem didática e principalmente na introdução do espírito filosófico. A visão é panorâmica, mas discute, em poucas palavras, questões muito importantes, que servem não apenas para os já mais versados nos estudos filosóficos refinarem ou sintetizarem suas reflexões, mas também para os que nunca as consideraram começarem a considerá-las. É nesse sentido que o texto nos parece uma introdução à filosofia mais do que um panorama à filosofia antiga. E isso já antecipa o público para o qual acreditamos que o texto é ideal. Ele servirá para o público leigo como introdução, e para o público especializado como ensejo para a reflexão a partir do próprio arcabouço filosófico do leitor filosoficamente maduro.
Chafei 11/01/2022minha estante
Ótima resenha!


Lucio 12/01/2022minha estante
Obrigado :)




Ittalo 27/02/2013

Linguagem acessível
Ciência jônica, atomismo, Sócrates, Platão, Aristóteles, Sofistas, Pitágoras, tudo isso você encontrará neste livro, vale muito a pena ler.
comentários(0)comente



4 encontrados | exibindo 1 a 4


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR