Thaisa 22/05/2024
De vampiro vilanesco a artista torturado com mommy issues??
"O Vampiro Lestat", de 1985, segue o primeiro livro de As Crônicas Vampirescas, o famoso "Entrevista com o Vampiro", de 1976.
Na primeira obra, acompanhamos a história do vampiro Louis de Pointe du Lac, e sua relação conturbada com seu criador, o maléfico Lestat de Lioncourt.
No entanto, aqui, o narrador é o próprio Lestat que, após ter passado décadas em torpor em seu caixão, é despertado no início dos anos 80, se deparando com a biografia de Louis. Ao encontrar discrepâncias na perspectiva de seu antigo companheiro, Lestat decide contar sua "verdadeira" história desde o início: vemos sua juventude em uma família aristocrata do século XVIII; suas apreensões e ansiedades filosóficas e existencialistas sobre a vida após a morte; sua libertação ao fugir com seu amante, Nicholas, afim de viver da arte no centro de Paris (fundando o Teatro dos Vampiros); sendo transformado em vampiro e abandonado por seu criador; aprendendo como caminhar pelo mundo como uma nova criatura, descobrindo outros vampiros, buscando todo o conhecimento possível sobre a origem de tudo e muito, muito mais...
Confesso que nunca consegui finalizar a história de Louis por achar o protagonista simplesmente insuportável. Dei uma nova chance para Anne Rice e "O Vampiro Lestat" realmente me conquistou - não de uma vez, pois parei a leitura diversas vezes por achar um livro excessivamente longo e, em certas partes, arrastado; mas a verdade é que Lestat é um protagonista interessantíssimo e multifacetado, além da trama ainda explorar outros vampiros do universo de Rice, suas tradições e suas origens.
O fato de termos a perspectiva unicamente de Lestat torna-o um narrador não-confiável, colocando-o num lugar de são e santo, mas isso não me incomodou tanto, muito pelo contrário: me vi fascinada e até apaixonada por ele, por sua visão de mundo, por suas descobertas, pelas formas como ele se expressa através da atuação e da música - mesmo sentindo falta do Lestat no papel de vilão.
É claro que, como já mencionado, nem tudo me agradou, como partes que não fluíram muito, descrições longas e exageradas, o estranho relacionamento do protagonista com sua mãe, opiniões polêmicas e até certos preconceitos vindos de vampiros mais velhos que, apesar de ser uma crítica ao conservadorismo, não deixa de incomodar.
Ainda assim, a realidade é que essa é uma obra maravilhosa que mistura, de maneira ímpar, fantasia, terror, ação, romance e drama. Gostei dos personagens apresentados e como cada vampiro tem sua própria personalidade, assim como o fato de que eles são, em seu cerne, humanos que, apesar de terem conquistado a morte e atravessarem o tempo, também se organizam em sociedade, possuem certas regras, tem suas próprias crenças e, perdidos como nós em um mundo que se transforma rapidamente, também são tomados dos mesmos questionamentos que nos assombram.
Da França até o Egito, embarcamos nessa aventura ao lado do Príncipe Moleque afim de compreender, junto dele, toda a sua existência - e apesar dos vampiros serem criaturas terríveis e imortais, o melhor dessa obra é, no final das contas, descobrir toda a humanidade de Lestat.
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