giulia.costa 07/06/2024
Tanto faz
Não há, no fundo, nenhuma ideia a que não nos habituemos e nunca se é completamente infeliz.
mersault encara a vida com uma combinação paradoxal de ânsia e indiferença. é incapaz de invocar emoções comuns em eventos cotidianos, no entanto, não é de todo apático: busca encontrar e definir o sentido da sua vida com o seu trabalho e na sua relação com maria. apesar disso, ao se acostumar com os fatos, todos esses sentidos se perdem. num ciclo entre desejar - sentimento qual ele reduz maria muitas vezes - e se tornar desinteressado sobre o objeto de seu antigo/recente desejo, mersault simplesmente se entrega a isenção.
pode-se pensar que devido a ela, o protagonista esteja efetivamente livre. justamente o contrário: se pegarmos a ideia de liberdade por sartre, que diz que "toda pessoa é livre, pois fazemos escolhas a todo momento, e não há como não ser livre, pois não há como não escolher", o fato de se abster o torna um prisioneiro. como ele mesmo vai dizer, mesmo "acusado de um crime, era executado por não ter chorado no enterro da minha mãe". seu crime maior foi o de ter renunciado de suas escolhas, o que o tornou prisioneiro (concretizado assim na segunda parte do livro).
* pra quem gosta de taxi driver esse é o livro perfeito