morganarosana 24/05/2013Este é um livro viajante que já deveria ter resenhado há algum tempo.
Eu gosto muito sobre relatos da guerra (tá, talvez, não como o João Barone, que até escreveu um livro sobre, mas de vez eu leio um relato ou outro ou vejo um filme sobre), e um de meus livros favoritos é O diário de Anne Frank. Foi justamente por causa da comparação com o diário e também com A lista de Schindler que resolvi receber o livro.
O começo do livro é meio arrastado, com a jovem Clara contando sua história e a de sua família na Polônia. E também sua vida cotidiana numa Polônia em meio a guerra e invadida pelos russos. Mas a história e a vida da família vai alcançando seu ponto crítico quando a coisa começa a feder para os Cossacos e os nazis vão se aproximando da Polônia.
Quando os nazis chegaram começaram obrigando os judeus a usarem a conhecida braçadeira com a estrela para diferenciá-los das pessoas 'normais'. Como a guerra ressalta o melhor e o pior das pessoas, até os antigos vizinhos e colegas destas famílias denunciavam aqueles que desrespeitavam a lei e lhes saqueava a casa debaixo de seus narizes. Dia após dia judeus eram recrutados para os campos de trabalho e enfiados em trens lotados para os tais campos. Os que conseguiam pular, eram alvejados com tiros pelos nazistas dos trens. Ou eram denunciados por poloneses simpatizantes com a causa nazista.
Vendo que sua única salvação era se esconder sobre a proteção de poloneses a família de Clara (que contava com 4 pessoas) juntamente com outros duas famílias (que somavam pelo menos mais 7 pessoas) resolvem começar a construir um abrigo subterrâneo em uma das casas de uma das famílias, e colocar uma família polonesa vivendo lá. As pessoas que resolveram dar abrigo a mais de dez judeus pondo em risco suas próprias vidas? A mais improvável possível! Sr. Beck, patriarca desta família, era um sujeito conhecido na cidade por suas declarações anti-semitas, seu abusos com álcool, a jogatina e até mesmo negócios escusos. Mas sua mulher era empregada na casa de Clara, e uma amiga muito próxima e resolveu que iria proteger esta família.
Aos poucos percebemos diversas idiossincrasias na personalidade e comportamento de Beck, não sei se era isto que condizia com a realidade mesmo, ou se fomos contaminados pelo olhar de Clara. Mas ao mesmo tempo que Beck dava abrigo para três famílias judias arriscando seu próprio pescoço era parceiro de pôquer de soldados alemães e fazia negócios com integrantes da SS. O caso é que seus sentimentos para com os judeus e ficando realmente amigo deles e tendo empatia com o sofrimento deles.
Mas como para o restante da cidade, Beck continua sendo anti-semita e simpatizante com os soldados da SS. Assim, a casa dos Beck vira ponto de encontro e até mesmo pousada para alemães de passagem pela cidade. Os judeus escondidos, que antes não tinham comida e água decente antes disto, começam a ver sua situação chegar ao limite crítico. Sendo difícil até mesmo para a evacuação de seus dejetos, que em grande quantidade poderia denunciar-lhes a presença e custar-lhes a vida.
Vivendo com a corda no pescoço todos os dias, lutando a cada minuto por suas vidas, aguentando a fome, as perdas e a doença em um abrigo de terra onde nem se pode ficar em pé, dezenove pessoas vivendo amontoadas e eles sobrevivem. Não dá pra ler um livro destes e ficar imune. O tempo todo em que o lia me deixava com uma bola de angústia no estômago. Mas o relato tem um final mais feliz do que o de Anne Frank. Ao menos isto.
resenha originalmente publicada em: www.estranhomundinhoinsano.blogspot.com