Sô
07/01/2020Diferente do Caixa Preta, no Perda Total eu conhecia todos os casos relatados: o voo TAM 402, que caiu num bairro no Jabaquara – pertinho de onde eu morava – em 1996; o voo GOL 1907, que se chocou contra um jatinho que voava na contramão em 2006, e o mais mortal de todos, o TAM 3054, que saiu da pista em Congonhas e bateu no armazém de carga da própria empresa, matando 187 pessoas em 2007.
Da mesma forma que narrado no Caixa Preta, o autor vai explicar não somente o que aconteceu em cada caso e como a tragédia poderia ter sido evitada, como mostrar que em todos os casos haviam precedentes. O Fokker 100, do voo TAM 402, por exemplo, já havia apresentado o problema do reverso em outros voos, mas nada foi feito até acontecer o pior.
Talvez o mais chocante seja o GOL 1907, e acredito que muitos brasileiros tenham a mesma percepção que eu tinha antes de ler o livro: a de que os culpados eram os pilotos do Legacy. Falo brasileiros, porque a versão nacional (CENIPA) é diferente da versão internacional (NTSB) sobre as causas do acidente. Com essa leitura entendi que foi uma série de fatores – aliás, quase sempre é -, sendo a mais grave a falta de informação precisa dos controladores de trafego aéreo brasileiro. Só que isentar os pilotos de culpa é no mínimo bizarro, porque para mim o maior mistério permanece: porque os pilotos desligaram o transponder? Não engoli essa de “esbarrei sem querer”. Aliás, porque raios há a opção de desligar um negócio tão importante como esse? Esse é um daqueles casos que você lê revoltado do começo ao fim.
Quando entramos no capítulo sobre o Airbus, o autor faz uma comparação rápida entre ele e o Boeing, e devo dizer que fiquei com um pouco de medo de voar num Airbus novamente. Segundo ele, o Airbus é uma máquina que opera praticamente sozinha, enquanto o Boeing “depende” mais de seus pilotos. Deveria ser algo bom um avião assim tão mecanizado, certo? Errado. Se ele entender que você está arremetendo quando na verdade deveria pousar, imagina o problema? Foi mais ou menos isso que aconteceu com o Airbus 320 da TAM em 2007. Para piorar, a pista em Congonhas estava com poças d’água, resultado de uma forte chuva no dia. Se isso não bastasse, era a época do Apagão Aéreo, ou seja, um verdadeiro caos que com certeza deve ter impactado a tripulação psicologicamente.
Os casos são interessantes por si só, mas o autor humaniza esses acontecimentos ao relatar a vida de alguns passageiros, da tripulação e dos familiares. A leitura é viciante e me vi torcendo para que o final fosse diferente diversas vezes, mesmo já sabendo o desfecho de cada caso.