anjapsi 19/08/2009
capítulo de trabalho que relaciona Kafka(Processo) e ato do crime organizado como uma linguagem:
Promover a permanência das coisas tais como se encontram, não é em que pensamos, muito mais aproveitaremos o estado bastante delicado do “presente” (já quase muito “passado”) para tentar articular outras estruturas ocultas e/ou esquecidas. Gritos mudos da classe de “seres humanos desesperados e destituídos” não poderão ser abafados indefinidamente, estão, crescentemente, alcançando as ruas e fazendo barulho que ninguém quer escutar. SERÁ que somente quando o tiro atravessar a pele, que ninguém sabe com certeza (“científica”) de onde virá, é que os soluços mudos se tornarão gritos? Sempre sem respostas?
No livro “A Linguagem Esquecida”, Erich F. cria uma paródia ilustrativa sobre o quanto da linguagem onírica de Kafka transforma o estar “detido”, no seu conto “O Processo”, em ser detido pela própria consciência: “ao invés de procurar compreender a verdadeira razão de sua detenção, (ele) procurou fugir a qualquer tomada de conhecimento neste sentido (...)” (1962, p. 181) como se estivesse preso ao sonho ou, DETIDO ao pesadelo. Como nós, presos ao comando advindo de dentro do presídio, que possui todos o elementos para ser muito mais um pesadelo onírico...
E, como nós acordaremos do pesadelos kafikaniano ?
Uma manhã de Domingo (14 de maio de 2006, no dia das mães) fomos acordados para um pesadelo que toma conta das nossas mentes de cidadãos que estão dentro do Estado de Direito. Certamente é preciso denunciar/caluniar, pois estamos DETIDOS sem termos feito MAL ALGUM, muito embora não tenhamos feito BEM ALGUM, nossas consciências pode nos denunciar, e ficaremos pensando que fomos caluniados e pegos de calças curtas.
“Certamente alguém havia caluniado Josef K., pois UMA MANHÃ ELE FOI DETIDO sem que tivesse feito mal algum. (...) Isso nunca tinha acontecido antes. K. esperou mais um pouquinho, olhou de seu travesseiro (...),mas depois sentindo estranheza e fome ao mesmo tempo, tocou a campainha. Imediatamente bateram à porta e entrou um homem que ele nunca tinha visto antes(...)
Na verdade logo lhe ocorreu que (...) assim reconhecia, de certa maneira,
O DIREITO DE FISCALIZAÇÃO DO ESTRANHO (...)
K. mal prestou atenção nesses discursos;
não dava muita importância ao direito, que talvez ainda tivesse,
de dispor das suas coisas; para ele era muito mais relevante chegar à clareza sobre sua situação, (...)
Que tipo de pessoas eram aquelas? Do que elas falavam? A que autoridade pertenciam?
K. ainda vivia num Estado de Direito, reinava paz em toda a parte,
TODAS AS LEIS ESTAVAM EM VIGOR, QUEM OUSAVA CAIR DE ASSALTO SOBRE ELE EM SUA CASA?
Ele tendia a levar as coisas pelo LADO MAIS LEVE POSSÍVEL, A CRER NO PIOR SÓ QUANDO ESTE ACONTECIA, A NÃO TOMAR NENHUMA PROVIDÊNCIA PARA O FUTURO, MESMO QUE TUDO FOSSE AMEAÇA. Aqui porem não parecia acertado; na verdade, tudo podia ser uma brincadeira (...)
Não posso absolutamente lhe dizer que é acusado, ou melhor: não sei se o é. O SENHOR ESTÁ DETIDO, isso é certo, mais eu não sei (...) mesmo porém que eu não responda a suas perguntas, posso entretanto aconselhar o senhor a pensar menos em nós (...) e não faça tanto alarde do seu sentimento de inocência, isso perturba a impressão não exatamente má que de resto o senhor transmite.
O PROCESSO – Franz Kafka