florence28 27/12/2023
Bem diferente do filme!
Havia assistido o filme e gostei muito. Comprei o livro na estante virtual e obtive essa adorável edição antiga e de bolso. (Que até levei para a sorveteria e acabei sujando de açaí enquanto lia) Gostei muito da escrita, vocabulário muito robusto! Sabe, o filme meio que "limpou" os personagens, pois eles parecem melhores no filme, mais morais, limpos, etc. No livro eles são seres humanos normais e até bem mais imorais do que a forma favorável que são retratados no filme.
Eu gostei do Mellors, apesar de ser um homem comum da época (1920 e pouco) um tanto machista, dominante, etc. Connie não é como no filme que só teve relações fora do casamento depois que seu marido Clifford disse que não se importava, pois ela já havia traído ele com outro homem diversas vezes antes, o que me desapontou. No livro eles levam essa coisa de traição como se fosse algo normal. E talvez isso seja apenas como esse pensamento era na época em que o livro foi escrito.
O livro têm descrições sexuais muito bonitas na verdade, e não são vulgares do jeito que os livros modernos de hoje são escritos. É uma coisa suja e carnal, mas descrita quase como algo belo e etéreo, denotando a incrível habilidade de escrita do autor.
Mas a história chega a ser bem filosófica, pois sendo Clifford e Connie da classe alta, em certo momento eles percebem a grande desigualdade social entre eles e os mineiros "pobres". E Clifford, o homem bebê meio robótico e mecânico, percebe que eles só têm o luxo que têm porquê pessoas mais pobres que eles trabalharam e fizeram aquilo ser possível. A escala social. Também refleti junto com Mellors e Constance sobre alguns pensamentos que eles tinham a respeito do mundo moderno que se aproximava cada vez mais e destruia tudo que era belo e natural, deteriorando a "alma" das pessoas e as tornando escravas do materialismo...
"Mas é uma vergonha o que o homem fez do homem nesses últimos cem anos; todos transformados em formigas do trabalho, privados da virilidade; da vida..."
"Viver para outra coisa. Que o nosso fim não seja unicamente ganhar dinheiro, nem para nós mesmos, nem para o que quer que seja. Somo hoje forçados a isso. A ganhar um pouco para nós e muito para os patrões. Renunciaremos a isso, gradativamente. Para que tanta fúria? E retrocedamos. Contentemo-nos com pouco dinheiro, porque no fundo temos necessidade de muito pouca coisa. Quem tomar essa firme resolução escapará da desordem."
Gosto da forma que Constance se "descobre" e aprende a se conhecer melhor, se entregando completamente a Mellors, e com ele é capaz de fazer coisas que nunca havia podido fazer com nenhum outro homem.
Também o que me faz gostar de livros antigos são as descrições de cenários naturais, de flores e etc! Gosto de como ambos amantes admiram um ao outro em sua plena forma física natural. Diferente dos tempos atuais, em que as coisas mais superficiais são admiradas e as naturais vistas como repugnantes. Como na cena em que Mellors põe florzinhas pelo corpo de Constance. O único tipo de livro erótico que consigo ler são esses antigos, e não suporto livros "hot" modernos, quem dirá os tão famosos "dark romance" haha, chega dói a alma! Enfim, cada um com seu gosto pessoal.
Ah, e têm uma cena no filme que é minha preferida, deles dançando na chuva feito duas crianças. Já no livro essa cena é curtíssima e não contém a mesma emoção e simplicidade que no filme!
O livro é muito bom e certamente irei reler daqui alguns anos, pois agora abster-me-ei de conteúdos eróticos. Bom!