Ópera dos mortos

Ópera dos mortos Autran Dourado




Resenhas - Ópera dos Mortos


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nflucaa 29/04/2024

Oralidade em fluxo de consciência? Sim!
Livro impressionantemente bem escrito. Parece linguagem oral, parece muito que estamos ouvindo um mineiro falando! Não só, parece que estamos dentro da cabeça de cada personagem através da boca do narrador que narra suas consciências em fluxo: lembra muito o estilo maravilhoso de Saramago escrever. É um livro gostoso de ler, no mínimo.

Minha surpresa não para por aqui, não. O sobrado dos Honório Cota, personagem principal da obra ? sim, o sobrado é o personagem principal ? lembra muito a casa dos Buendía, do Gabo. Maravilhoso! E se o sobrado lembra a casa dos Buendía, é com alegria que se percebe que, não numa escala 1:1, mas num lembrar factível, a cidade dos Honório Cota também lembra a Macondo dos Buendía.

A história é o drama da família Honório Cota, que aqui não irei contar muito: o avô, Lucas Procópio, homem ruim, diabo encarnado, odiado de toda gente, respeitado na medida em que é temido; o pai, João Capistrano Honório Cota, homem gentil, respeitado por suas qualidades, de estirpe única, homem bom ? mas orgulhoso e, ao ser traído por sua gente quando se mete em política, se isola de tudo e todos. Tal orgulho passa à sua filha, Rosalina Honório Cota, que se afunda no sobrado herdado do pai, isolada, sem contato com o mundo. Também há Quiquina, a criada negra que é uma escrava-mãe da Rosalina, Quiquina que, ainda que seja muda, diz muito. E José Feliciano, seu Juca Passarinho, o agregado que se perde na maldição dos Honório Cota, na solidão inescapável e na loucura subsequente que acomete Rosalina, a patroa.

Esses são os personagens principais, todos orbitando o Sobrado, o principal da história. Do mesmo modo como quando a cada morte de um Honório Cota se para um relógio na casa, simbolizando a prisão no passado, o condenar de não conseguir seguir em diante (no tempo), também o próprio sobrado torna-se um cláusuro: um caixão que sentencia o presente à eterna prisão do passado (no espaço, também). Está aí a maldição dos Honório Cota, a Ópera dos Mortos: cantam na mudeza dos relógios parados, dos tempos congelados. Fazem-se presente no orgulho insuperável de Rosalina.

O final do livro é surpreendente e não comento-o para não arruinar a experiência de quem for ler. Vi que tem mais livros do autor sobre a mesma história, certamente irei lê-los. Um dos livros mais bem escritos que já li!
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debora-leao 20/04/2024

Um respiro gelado na alma que faz os olhos lacrimejarem.
Uma lindeza de livro. Já aviso que a emoção me tolherá as palavras nese texto.

Nunca imaginei que ler um fluxo de consciência pudesse ser tão fácil e exigir tão pouco. Em geral, este tipo de escrita mobiliza muito minha atenção, e concentro sua leitura em momentos específicos do meu dia e da minha noite, mas este eu me peguei lendo a todo momento disponível. Ao contar a escolha e forma de vida de Rosalina, Autran Dourado traz uma narrativa constituída nos silêncios, nos espaços pequenos de memórias, de observações, de ratificações de decisões impossíveis (para nós) e também as únicas possíveis (para ela).

Li em algum lugar (do qual não me recordo) que esta obra era uma recriação do mito de Antígona. Eu, que nunca o li (ainda que o conheça), sinto-me motivada (e convencida) para lê-lo, agora. Agora, eu, que tenho tanta dificuldade de imaginar coisas tão idiossincráticas à cada época, em vez de encontrar restos de dilemas gregos hoje já secularizados, espero encontrar ecos de dúvidas da moralidade humana, ou mesmo ecos dos nossos protestos de amor. Por causa de "Ópera dos Mortos", espero encontrar reflexão sobre nossas formas de significação e(m) luto - que fundamentalmente representa, claro, nossa guerra aberta à mortalidade e à ausência de sentido que esta confere, por sua vez, à vida.

Encantei-me com o regionalismo da obra, que me parecia estranho no início, deslocado pois não sou mineira. Mas é o tipo de obra que você quase "ouve" - sente-se o sotaque, e ao longo dos dias sente falta de alguém no seu cotidiano que lhe fale assim. Que lhe fale com calma, mas conte sobre o profundo da vida. Eu me senti muito mais próxima da obra pela sua linguagem, um Saramago leve, doce, quase em tom de confidência mesmo.

Juca Passarinho me encantou também, ainda que duvide um pouco de seu caráter. Não resisti: seus pensamentos são alegres, solares, cheios de energia pela vida, mas contém reflexões importantes, dentro do que é possível para alguém que é como Juca. Ele nos mostra que é possível passar pela vida e vê-la, verdadeiramente, em suas pequenezas tão absurdamente vastas, mesmo sem a lente dos livros, da pena, do papel, dos auditórios e da Academia. Além disso, Juca (ou José Feliciano) vive em todas as dimensões temporais, em passado, em presente e no futuro, trazendo um ótimo alívio para o passado constante, sufocante e solitário de Rosalina.

Achei, também, ser um livro muito visual. A partir da descrição inicial do sobrado, VI tudo que aconteceu, dentro dos detalhes necessários. Rosalina tinha seu rosto borrado, exceto em algumas das noites, para mim... às vezes, também durante seus bordados. Via que para mim a casa era repleta de madeira, o jardim era abafado e repleto de sombras para descansar, com flores vermelhas e amarelas, rasteiras, e apenas uma árvore no fundo... Se ela existisse, com tanta aura mágica, eu diria que gostaria muito, se não de ter estado lá muito tempo, de ter visto essa casa ao menos uma vez na vida.

Não tenho certeza, contudo, se entendi o final desta leitura. Autran nos apresenta... Uma nesga de futuro? Qual futuro? Após tantas tristezas idiossincráticas? De fato, termino o livro pensando em futuro, após tanto mas tanto de passado! Não, de fato, não sei se entendo o final. Mas, também, não acho ser preciso. Parece-me que amarrar o livro lembrando da história concreta em vez da vida que acontece dentro de nossa mente é uma decisão fantástica que nos diz para voltar à vida real, que diz que há, sim, uma vida real, mas que o que foi contado também poderia ter sido uma vida comum...

"Ópera dos Mortos" tornou-se um favorito meu que guardarei com muito carinho. Não tenho como recomendar o suficiente. É um respiro de ar gelado que banha a alma, invadindo-a, refrescando-a. Certamente estará no pódio das leituras de 2024. Eu não tenho como recomendá-la o suficiente.
Vania.Cristina 21/04/2024minha estante
Ai que legal, Debora!!! Sua resenha me faz ficar com ainda mais vontade deste livro.


debora-leao 22/04/2024minha estante
Vania, vale tanto a pena... Pra mim o livro se tornou um favorito. Já até comprei outros dois livros do autor. Espero que quando você o ler goste também!




Arlindo.Ramos 16/04/2024

Ópera dos Mortos
Estou impactado com esse livro. Nunca tinha lido nada do autor, nem sabia que ele era mineiro. Agora quero ler todos os livros dele. Acho que estou com ressaca literária, rsrsrs. Quem ainda não leu, recomendo.
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JuPenoni 16/04/2024

Livro lido no clube de leitura.

Adorei a oralidade que o livro têm. Essa sensação de estar ouvindo a narrativa e não lendo, colocando a forma do mineiro se comunicar deixa a leitura muito gostosa.

Querendo honrar o pai, Rosalina escolheu a solidão, vivendo uma vida morta, afastada de toda a cidade.
Juca Passarinho a princípio me pareceu um bom personagem, contador de causo e preguiçoso, mas fui criando ranço dele.

Quiquina é ótima! Muda com muito o que dizer.

Gostei do livro!
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Bruno 24/03/2024

Cada Palavra Conta
Livro vigoroso, de escrita envolvente e final esplendoroso. É o tipo de obra rara em que parece o autor ter escolhido a dedo cada palavra, cada vírgula, cada parágrafo.

Com tamanho esmero na palavra, a narrativa nos faz pensar sobre a força do passado em nossas vidas e como os instintos são capazes de quebrar ciclos e tradições.

Por fim, fica o debate a respeito da loucura e do paternalismo. Recomendo.
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Fabi 17/03/2024

O passar e o parar do tempo
Ópera dos Mortos. Gostei demais desse livro. Adoro ler sobre histórias de famílias, gerações, passagem do tempo e esse livro aborda esses temas. Essa história é sobre a família Honório Cota em uma cidade do interior. Tudo começa com Lucas Procópio. Influente, mas temido, as pessoas o respeitam, mas mantêm distância pelo medo. Seu filho, Coronel João Capistrano é diferente, as pessoas o respeitam pela admiração e por seu temperamento. Com o falecimento do pai, o filho herda a casa, a amplia e a transforma em um sobrado dando suas características a essa peça fundamental na história. Uma série de acontecimentos convergem para que a família, composta também pela esposa, Dona Genu, e a filha Rosalina, criem uma relação díspare entre o sobrado e o restante da cidade. Refúgio e distanciamento são os contrapontos desses ambientes. E o sobrado vai registrando, com os seus relógios, o passar e o parar do tempo. Eu achei genial esse recurso do Autran Dourado, essa relação da família com os relógios, principalmente no final, que embora eu não concorde, entendo a relação que foi feita. Obviamente, não darei spoilers. É um livro belíssimo. Acho que foi o livro com fluxo de consciência mais prazeroso e tranquilo que li. Eu geralmente tenho dificuldade com esse estilo. E aqui ele é muito bem feito. Acompanhamos mais a vida de Rosalina, que carrega em si as gerações e as tradições de família. Entendemos essa personagem através de seu pai e seu avô. Mas o livro não é só sobre os Honório Cota. Outros personagens riquíssimos também gravitam nesse sobrado e conduzem o rumo da vida de Rosalina. É um livro pequeno, mas que requer atenção sem ser difícil a leitura. Ao contrário. Nos inserimos facilmente nessa cidade e nos sentimos como um dos habitantes tão curiosos e rechaçados pela família e seu sobrado. Foi uma boa experiência de leitura.
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fabio.orlandini 04/03/2024

Grata surpresa
Esse foi o primeiro livro que li de Autran Dourado. Adorei sua prosa de contador, porém com estilo e com imersões de fluxo de consciência bem construídas. Um romance curto, poucos personagens, mas nos tornamos tão íntimos que nos sentimos moradores do casarão.
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Luciana 23/02/2024

Solidão
Um livro sobre como a solidão muitas vezes era a regra, e não a exceção, no início do século passado. Como as pessoas se conheciam e como os problemas podiam ser escondidos e resolvidos de forma trágica. Fico imaginando se este tipo de leitura faz sentido pra pessoas mais jovens, abaixo de 40 anos. Pois pra mim, tenho 52, lembra minha infância em cidade pequena. É um enredo palpável e nostálgico.
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Irina.Alfonso 12/02/2024

Ópera dos Mortos
O livro conta sobre um casarão e a família que nele habitava, em três gerações. Ele conta brevemente sobre a ascensão da família -construção do casarão - e sobre seu declínio, sua exclusão, solidão, silêncio. Acompanhamos uma casa que parou no tempo, inclusive pelos seus relógios que, a cada morte, um relógio é parado por algum integrante da família. No presente da obra, acompanhamos a vida silenciosa e parada de Rosalina (filha dos patriarcas da família é única herdeira) e Quiquina (serva muda que acompanha Rosalina). Vemos por que a família resolveu se trancar no casarão, se excluindo do mundo. Até que um dia chega o forasteiro José Feliciano, que muda tudo. Esse livro é uma grande tragédia psicológica. Apesar de curto, não é das leituras mais fáceis e fluídas, acaba exigindo um pouco do leitor.

Sem contar que me lembrou um pouco a mulher da casa abandonada hehe (mas o livro é de 1967)
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Igor Almeida 02/02/2024

Romance
A historia se estrutura principalmente no desenvolvimento da geração familiar, e a busca de preservar o orgulho, mesmo que para isso sacrifique tudo...
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Trindade 25/01/2024

Uma casa em decadência
O jeitinho mineiro em prosa resume bem esse livro.

A ópera dos mortos destaca a trajetória de Rosalina, criada em isolamento devido à repulsa paterna por uma traição política. Ignorando os conterrâneos, a filha do coronel vê sua vida transformada com a chegada de um forasteiro. O encanto do livro reside na cativante diversidade de pensamentos dos personagens, proporcionando uma narrativa envolvente e divertida.
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Assay 14/01/2024

Leitura fluida e cativante
Foi o primeiro livro do Autran Dourado que li e não poderia ter tomado decisão melhor. Consigo enxergar através do seu texto o esmero e cuidado que ele colocou neste livro. Durante a leitura me senti como um morador da vila, cada vez mais curioso pra saber o que acontecia dentro do casarão.
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Max 06/01/2024

Ópera...
Estando em minha lista de leitura há algum tempo, resolvi lê-lo após a enésima indicação de amigos booktubers.
À medida em que avançamos na leitura, vislumbramos uma escrita feita com muito estilo, envolvente, muito bem estruturada. Sua capacidade de manter um certo mistério, não nos dando nenhuma ideia para qual lugar nos dirigimos, equilibrando-se sobre uma linha fina e tênue, balançando-nos ora para um lado ora para o outro. Há ainda trechos espetaculares de narrativa fora do comum, deixando claro que é sim uma obra singular.
Vou já por mais um livro do autor na lista, gostei muito!
Recomendo!?
Edneia Albuquerque 06/01/2024minha estante
Fiquei curiosa Max, vou acatar sua recomendação!


Max 06/01/2024minha estante
Espero que goste, Edneia, há trechos do livro que ficamos sem fôlego, paralisados pela narrativa! Grata surpresa!?




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