Meus prêmios

Meus prêmios Thomas Bernhard




Resenhas - Meus prêmios


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Anderson 11/02/2023

MEUS PRÊMIOS

Em “Meus Prêmios”, Thomas Bernhard traça um panorama corrosivo sobre as premiações literárias que participou na Áustria, sua terra natal. Cada capítulo do livro é a respeito de uma delas e não falta ao autor uma observação analítica e extrema mordacidade, a fim de desmanchar toda e qualquer hipocrisia e expor as inutilidades que permeiam tais premiações.

O autor parte de detalhes corriqueiros para atingir grandes provocações sobre o vazio e o patético de tais eventos, desde políticos que apresentam os prêmios e esquecem o nome dos autores até anfitriões que dormem durante a premiação. Além claro do lado preconceituoso, racista e antisemita do povo e dos escritores austríacos.

Bernhard, que é um dos maiores críticos da Áustria de todos os tempos, diz olhar para o seu povo e enxergar um misto predominante de católicos e nacional-socialistas (nazistas). O livro possui alguns momentos memoráveis, como o que o escritor compra um terno para receber um dos prêmios e depois da premiação vai trocá-lo e o que ele acaba levando de recordação de tudo isso é justamente o quanto o vendedor foi atencioso com ele.

Tem também a experiência de quando com o valor recebido de um prêmio ele compra um carro de segunda mão e viaja por toda a costa do país. Ou quando com o valor de outro prêmio compra uma casa em péssimas condições para se “isolar melhor”. Sempre acompanhado da sua tia, que Bernhard não descreve muito bem quem é, porém presume-se que seja uma espécie de amiga.

O tom conciso e sem concessões do autor nos faz lembrar autores como Kafka e filósofos como Kierkegaard. Um dos poucos autores elogiados por Bernhard no livro é Elias Canetti, que é judeu e não recebe um dos prêmios ao qual Bernhard era jurado por conta disso. Bernhard parte das descrições mais banais e frívolas para tecer a partir delas uma visão mordaz das tradições e patetices dos círculos literários, com sua linguagem intensa constrói uma descrição dura e implacável das tais formalidades sociais.

Do circo cultural que busca esconder seus valores e costumes reacionários. Expondo figuras públicas que mal sabem o nome do autor premiado, jurados preocupados mais com as refeições do que com quem deve de fato vencer o prêmio, além do antisemitismo estrutural do país.

Outro momento memorável é o diálogo do autor com o físico Werner Heisenberg, que pergunta para Thomas o porquê de os escritores só verem o lado ruim do mundo, o mundo não é apenas isso, diz ele. Ao que Thomas responde com um lacônico e aterrador silêncio. Talvez, seja porque Werner Heisenberg não conhecesse tão bem a Áustria quanto Bernhard.

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jota 24/12/2017

O premiado é você!
Meus Prêmios traz 13 pequenos textos de Thomas Bernhard (1931-1989), todos com menos de dez páginas, alguns com apenas duas, sendo que no total são menos de 110. É, pois, um pequeno livro em que o grande escritor austríaco discorre, em nove deles, sobre os diferentes prêmios que lhe foram concedidos tanto na Alemanha quanto na Áustria durante os anos de 1964 a 1988. Os quatro textos restantes são reproduções de alguns de seus (surpreendentes) discursos por ocasião do recebimento das honrarias literárias. Finalmente, um posfácio, Sobre Esta Edição, escrito pelo editor Raimund Fellinger, já que se trata de obra póstuma, publicada pela primeira vez em 2009.

O Thomas Bernhard polêmico, que conhecemos de outros livros (especialmente de Extinção), com sua escrita envolvente de enormes parágrafos (imensos por vezes), com longas críticas à sociedade austríaca e com elevado uso de fina ironia, algumas de suas marcas, está presente aqui também. Surpreende um pouco a sua preocupação com o dinheiro (muito pouco quase sempre, ele reclama), que o fazia concordar em receber os prêmios literários, uma vez que não tinha tanto apreço assim por eles ou por quem os concedia. Mas Bernhard nunca foi um homem rico, que pudesse viver exclusivamente de seus textos (livros e peças teatrais), não no início de sua carreira. Impossível não lembrar de várias passagens de Origem, em que ele escreve sobre sua difícil vida de criança e adolescente pobre.

Outra coisa surpreendente é saber que ele trabalhou algum tempo como caminhoneiro, num período de sua vida em que ficou enjoado dos livros e da literatura. E teria mesmo partido para a África, com essa profissão, se a certa altura dos acontecimentos seu contratante por lá, um americano, não tivesse falecido. Desse modo, mais interessante do que saber algo mais a respeito dos prêmios em si, ficamos curiosos pelas histórias relacionadas a eles que Bernhard nos conta. Com o dinheiro de um deles deu entrada numa casa e junto com ela veio uma dívida enorme para saldar, com o dinheiro de outros comprou um belo carro branco logo destruído num acidente e assim por diante.

Então Meus Prêmios se torna um livrinho até engraçado por vezes e os pequenos textos de Bernhard podem ser encarados como contos, nos quais vêm à tona sutis observações sobre as próprias cerimônias de premiação, as personalidades envolvidas nesses atos, as felicitações e os agradecimentos, a roupa que vestiu numa ocasião, que ficou pronta cerca de meia hora antes da solenidade etc. Bem, como admirador do escritor (depois de O Imitador de Vozes, O Náufrago, Origem, Extinção e Perturbação) só posso finalizar dizendo que Meus Prêmios também é um prêmio para todos aqueles leitores que apreciam conhecer um pouco mais acerca de seus escritores preferidos.

Lido entre 17 e 23/12/2017.
Thiago 24/12/2017minha estante
Meu caro, eu achei esse livro maravilhoso, ele para mim, serviu como complemento para o "Origem", mas nesse como você bem frisou, tem momentos bem engraçados, como por exemplo o discurso que ele faz em uma das recepções de um dos prêmios e que acabou causando um mal-estar.
Eu ainda estou a caça de "O Náufrago" e os antigos que foram editados pela editora Rocco, e que nunca foram reeditados!


jota 25/12/2017minha estante
Eu também aguardo ansiosamente a reedição de uns três ou quatro títulos que quero ler. E, claro, reler O Náufrago.




Eduardo 26/12/2016

Melhor que extinção
Gostei mais desse livro do que de Extinção, o livro mais bem cotado de Thomas Bernhard dentre os disponíveis em português. Fluxo de consciência muito bem executado, franqueza e coragem admiráveis de Bernhard, e sua prosa é simplesmente fascinante, consegue extrair ouro de qualquer situação, e faz da falta de enredo o seu maior trunfo.
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