pedrolucasmr 24/03/2024
960 páginas de puro nada
[Abandonei o livro depois de 570 páginas +-]
Se existe uma definição de como não estruturar um romance, esse livro é essa definição.
O Temor do Sábio tem muitos problemas em diferentes níveis, mas o maior deles é, sem dúvida, sua estrutura. O livro consiste em ilhas de bom conteúdo cercadas por oceanos de nada. Durante todo o livro, temos que aguentar centenas e mais centenas de páginas onde nada relevante acontece para então chegarmos a um trecho legitimamente bom e, após o seu término, voltarmos a mais centenas e centenas de páginas que não contribuem em NADA para o enredo. O livro não precisava ter mais de 900 páginas para contar a história que se propõe a contar; a maioria dos plots não precisava ter a quantidade de páginas que tem para contar o que conta, a maioria dos personagens não precisava ter a quantidade de páginas que tem para ser desenvolvido.
Tirando a estrutura, falemos sobre os outros pontos. A narrativa é extremamente tangencial; a maioria dos plots presentes nesse livro poderia ser um conto isolado numa coletânea e não fazer parte de um romance. A conexão entre eles é quase sempre mal justificada e mal desenvolvida, por vezes beirando o nonsense. Além disso, a maioria desses contribui muito pouco para a narrativa principal, dando apenas pequenos grãos de informação.
O plot principal da trilogia é bom, MUITO bom. Mas ele não é desenvolvido aqui. Depois de quase 600 páginas, eu não sentia que a história havia andado um passo sequer e, pelos resumos que vi, isso muda muito pouco até o fim do livro.
O Kvothe e a Denna são outro problema enorme da narrativa. Ambos os personagens são EXTREMAMENTE irritantes. O Kvothe precisa SEMPRE ser o melhor em tudo o que ele faz, sempre ser o cara que resolve e aprende tudo. Isso, por si só, desde o primeiro livro, é irritante, mas há um certo nível de perdão por parte do leitor, já que ele é o protagonista. Até a mesma coisa começar a acontecer com a Denna. As interações entre os dois são, de longe, as partes mais frustrantes do livro, dando vontade de jogar o volume longe sempre que elas acontecem. A ideia de que o Kvothe está aumentando as coisas já que é ele que conta a história já não ajuda nesse ponto.
Os personagens secundários introduzidos nesse livro também são fracos e sem graça, com exceção do Maer e de Tempi, não se salva um. A forçação de barra do Ambrose como vilão é outra coisa tosca, uma repetição sem graça e sem motivo dos acontecimentos do primeiro livro só para reforçar a importância do Ambrose. Todos já entenderam que ele é o rei que vai ser morto, não precisava gastar TREZENTAS E VINTE páginas nisso.
E mesmo com todos esses defeitos, o mais impressionante é que aparentemente fica pior depois da parte que eu parei. Pelo jeito, tem dezenas de páginas do Kvothe transando. É.
Se um dia Doors of Stone for lançado, o que eu duvido muito a essa altura, dado que ele precisaria contar a história de 2 livros em um só porque essa pocilga aqui não desenvolve nada para a trilogia, talvez eu ouça o audiobook para ver se é menos insuportável.