Zeka.Sixx 22/07/2021
Atmosfera onírica
Essa novela, lançada em 1986, narra as andanças de um protagonista sem nome, de passado não revelado, um homem que chega de ônibus a Porto Alegre em uma terça-feira de Carnaval. Não se sabe de onde ele veio - apenas que esteve viajando a noite inteira -, tampouco para onde vai. Lá pelas tantas, ficamos descobrindo que, ao que parece, ele veio a Porto Alegre para visitar o pai, que estaria hospitalizado. Mas a narrativa não deixa claro se esse pai realmente existe, se realmente está doente, ou se é tudo invenção do protagonista, já que, ao não revelar suas motivações, passa a ser uma espécie de narrador não confiável.
Estritamente descritivo, o livro carrega uma atmosfera onírica, quase surrealista, à medida em que o narrador caminha por Porto Alegre e vai criando frágeis laços com pessoas que aparecem em seu caminho, aos poucos se deparando com situações cada vez mais inusitadas. A cidade não deixa de ser, também, protagonista da novela, ora sufocando, ora maravilhando o narrador.
Muito bem escrito, variando entre o sonho e o pesadelo, é um livro "diferentão", mas que prende muito a atenção do leitor e, por ser curto - menos de 100 páginas -, acaba ficando na medida certa para o que se propõe, sem enrolar em momento algum.