Priscila Fernandes 15/07/2019
“As coisas começaram a se deteriorar lá em casa quando meu irmão, Jaja, não recebeu a comunhão, e Papa atirou seu pesado missal em cima dele e quebrou as estatuetas da estante.”
Romance de estreia da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie que conta o cotidiano de Kambili, uma adolescente de 15 anos de família rica da Nigéria. Durante uma viagem à casa da tia, Kambili é obrigada a sair de sua bolha e ampliar sua visão de mundo.
O pai de Kambili é um católico fervoroso, que em casa é extremamente autoritário, mas também defende ideias progressistas, sendo totalmente contra o golpe militar sofrido no país, e ainda ajuda pessoas da comunidade, desde que estejam inseridas naquilo que ele julga correto.
Durante a narrativa acompanhamos os dilemas da adolescente como abuso familiar, consciência social, quebra de tradição e religião.
Esse é mais um daqueles livros em que a(o) autora(o) coloca o dedo na ferida, sem poupar o leitor de temas pesados e difíceis.
A leitura me trouxe várias reflexões sobre o uso da religião para práticas violentas, a perda de antigas tradições com a colonização e a importância de ter outras referências ao longo da vida, não se limitando a sua bolha, suas vivências. Grande parte do sofrimento de Kambili e sua família se deve ao fato deles não conhecerem outras formas de vida, outras crenças, outros costumes, outras culturas. Por isso é tão importante desde criança sermos apresentados a outros estilos de vida diferentes do nosso e aprendermos a questionar aquilo que nos rodeia, criando senso crítico.
Sofri um pouco com o ritmo do texto...em alguns momentos devorei o livro, em outros larguei. Mas isso pode ser comum em narrativas que tratam do cotidiano
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Mais uma daquelas histórias difíceis do leitor passar ileso, alguma reação vai te causar.