Jéssica 23/04/2013
A Arma Escarlate: totalmente rendida e inebriada por esse universo
Finalmente alguém se lembrou - e acreditou! - que nós, brasileiros, também temos sangue mágico correndo nas veias!
"A Arma Escarlate", primeiro livro da saga que contará as aventuras de Hugo Escarlate, cria um mundo mágico semelhante ao de Harry Potter, mas adaptado fielmente a realidade brasileira.
Substitua feitiços em latim por feitiços em Tupi, trouxas por azêmolas, abortos por fiascos e um castelo magnifico por uma espécie de favela dentro do Corcovado e você terá entrado na escola do Rio de Janeiro de magia e bruxaria.
Filho de mãe sem pai, como muitos, Hugo tinha 13 anos e morava no morro Dona Marta quando descobriu que era bruxo e que tinha vaga garantida em uma escola de magia no Rio de Janeiro. Muito cedo, se envolveu com os traficantes da vila para ajudar a mãe no sustento da casa. O único problema é que ele acaba se complicando com eles e, fugindo para não morrer, resolve acreditar que a carta que recebeu contendo todas as informações acerca de seu dom era, de fato, verdadeira.
Desde cedo tinha aprendido a não confiar em ninguém, visto que, claramente, não havia superado o abandono do pai, a quem gentilmente chama de Branquelo Covarde. Porém, uma vez dentro da escola, Hugo encontrará, pela primeira vez na vida, amigos de verdade, pessoas em quem ele realmente podia confiar - embora não o fizesse simplesmente porque Hugo era Hugo e acreditava que poderia fazer tudo sozinho.
Particularmente, eu senti raiva dele até a metade do livro. O garoto era simplesmente insuportável, sempre achando que podia tudo e não precisava de ninguém! Foi só depois que ele voltou para o morro durante as férias que eu comecei a entender um pouco mais o lado dele e que, talvez, ele realmente tivesse motivos para ser do jeito que era.
Me apaixonei por vários personagens no decorrer da obra, também. Eimi, por exemplo, é um mineirinho encantador que grudou em Hugo logo no primeiro dia de aula e, mesmo sendo maltratado pelo mesmo, nunca o abandonava. Já o professor Atlas faz o estilo de professor que todo aluno -bruxo ou não - gostaria de ter, assim como a estabanada diretora Zô, uma velhinha muito alegre que sempre faz questão de ir contra às manias europeias do conselho da escola.
Temos também a indomada e mandona Gislene. Ah, Gislene. Vizinha de Hugo no morro, a garota sabe de todas as confusões em que ele já se meteu e, provavelmente, é uma das poucas pessoas que metem medo nele. Mesmo resignado, Hugo a respeita por temer que ela abra a boca e conte para a escola inteira que ele era envolvido com traficantes fora da escola.
Mas, com toda a certeza, os personagens que mais me marcaram foram os Pixies. O grupo de quatro alunos, formado por Viny, Caimana, Índio e Capí, diverte a todos aprontando com Dalila - a carrasca do conselho - e os Anjos, um grupo de alunos que gosta de seguir a risca o padrão europeu das escolas de bruxaria. Nem preciso dizer que já shippei os personagens Viny e Caimana, não? O casalzinho é simplesmente muito fofo, mesmo que sempre insistam na história de terem um "relacionamento aberto".
E Hugo, bem, o que dizer de Hugo? Ele é marrento, explosivo e complicado de lidar. Já senti muita raiva dele, mas, por mais incrível que pareça, fui me apaixonando aos poucos.
Acontece que Hugo não é um protagonista comum, ele não é bonzinho o tempo todo e tem dificuldade de pensar naquilo que chamamos de "bem maior". Hugo é um pouco egoísta e egocêntrico, mas, com o passar do tempo, eu fui percebendo que ele representa todos nós. Representa aquilo que nós somos e todas as formas obscuras que o ser humano pode ter.
O preconceito que o brasileiro tem consigo mesmo e com as suas raízes também me chamaram a atenção, afinal, qual de nós não disse, uma vez na vida, que viver na Europa seria muito melhor? Dalila e o conselho, por exemplo, querem porque querem se equipararem as escolas europeias, sem perceberem que os moldes do Brasil não permitem tal feito. E o mesmo acontece conosco no dia a dia, às vezes sem nem percebermos.
Bem, certamente eu poderia passar o dia todo escrevendo sobre o livro e sobre as coisas que me agradaram, mas ficaria muito longo e, seu eu falar mais do que isso, vou acabar dando spoiler - e eu odeio dar spoiler, porque eu não gosto de recebê-los (:
A única coisa que eu posso dizer é que eu amei "A Arma Escarlate" e já estou ansiosa pela continuação. Renata Ventura me surpreendeu positivamente com o livro e, sinceramente, acho que acabei de me viciar em mais uma série.
Resenha encontrada no meu blog: http://estoriasdacarter.blogspot.com.br/2013/03/sugestao-de-leitura-arma-escarlate.html