Valéria Cristina 17/05/2023
Um livro poderoso
Em 1974, a Etiópia, sob o império de Hailé Selassié I, vivia um cenário de profunda desigualdade social. Enquanto a elite, na capital Adis Abeba, vivia confortavelmente, nos campos, a população morria de fome. Nesse cenário, as forças armadas, apoiadas por estudantes e parte da população, depõe o imperador e todo o gabinete.
A promessa, feita pela junta militar que tomou o poder, de um governo pacífico foi descumprida já no início da transição. A Etiópia foi mergulhada em um mar de sangue. Os estudantes, que haviam protestado contra o imperador, agora, na clandestinidade, resistiam contra o Derg no governo.
Com a justificativa de lutar por uma Etiópia socializada, os militares perseguiram, torturaram e assassinaram milhares de pessoas. O medo e a insegurança tornaram-se parte do cotidiano. O racionamento de gêneros alimentícios, a socialização de moradias, a vigilância, as delações se tornaram rotineiros.
Homens, mulheres e crianças eram presos e desapareciam. Cadáveres eram abandonados nas ruas, como forma de intimidação, gerando pânico e terror na população.
É nesse cenário que o médico Hailu e sua família viviam. Com sua esposa Selam em estado terminal, ele tenta manter a família unida em meio ao caos. Os filhos, Yonas e Dawit, com visões diferentes, afastam-se. As amizades desmoronam. Os amores são abalados e desfeitos.
A prisão e a tortura rodavam a família a todo momento. No hospital, Hailu comete um ato que terá consequências desastrosas. Dawit, entra para a clandestinidade por causa de seu combate ao regime. Yonas, luta contra o medo ao lado de sua mulher Sara e da filha Tizita. Qualquer atitude pode ser fatal.
Este é um livro poderoso que retrata mais um capítulo da história africana e nos mostra como o autoritarismo, sob qualquer ideologia, é nefasto e destrutivo.
Maaza Mengiste é uma escritora etíope-americana. Seus romances incluem Beneath the Lion's Gaze e The Shadow King, que foi indicado para o Booker Prize de 2020.