Ricardo III

Ricardo III William Shakespeare




Resenhas - Ricardo III


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PC_ 27/05/2014

Pc
RICARDO III – Figura sombria, maquiavélica, porém também sarcástica e mordaz. Seduz seus aliados e os devora assim como seus inimigos. Cativa, confunde, subverte e conduz o jogo a seu favor, por mais adversas que lhe sejam as circunstâncias. Ricardo III nos assombra com sua maldade, nos surpreende com sua habilidade e nos cativa com seu sarcasmo e ironia. Não há como ficar impassível a essa figura, quer sejamos espectadores ou leitores da peça. Baseada na luta pelo poder de duas casas reais, York e Lancaster, oriundas da mesma dinastia ( Plantageneta), a peça retrata a trama de Ricardo para chegar ao poder.

Particularmente prefiro a obra Ricardo III a Hamlet, porém a peça Ricardo III é bem mais difícil de compreender do que Hamlet, pois aborda o contexto histórico da guerra das rosas e narra fato histórico ocorrido, a luta fratricida das casas de York e Lancaster e a efetiva tomada do poder por Ricardo, após a morte do irmão, Eduardo IV. Há também, como elemento complicador, a questão do grande número de personagens, a repetição de nomes na realeza ( ex: Eduardo – filho da Rainha destronada Margareth, Eduardo IV, irmão de Ricardo, cujo pai também se chamava Ricardo, Eduardo príncipe e Ricardo , seu irmão, filhos de Eduardo IV). Outras dificuldades são inerentes a todas as peças de Shakespeare , como vocabulário empregado, a forma poética e as longas falas dos personagens, mas que, embora dificultem, não impedem a compreensão do espectador ou do leitor desta ou de qualquer outra obra, pois afinal tratam de temas universais, que são a luta pelo poder e tudo que isto envolve, como traição, violência, guerra e todos os questionamentos existenciais, como respeito à vida, limites à conduta humana, moral, etc...

Valem como dicas:

- uma rápida consulta a sites como wikipedia, por exemplo, pode ajudar rapidamente a entender ou relembrar o contexto histórico da guerra das rosas. Outra pesquisa que ajuda muito é sobre a genealogia da família real inglesa – árvore genealógica das famílias York e Lancaster. Atualmente pode ser encontrada também no wikipedia, dentro do assunto guerra das rosas, como apêndice. Vale a pena consultá-la durante a leitura da peça.

- pesquisar as recentes descobertas arqueológicas sobre Ricardo III, a reconstituição de seu rosto e sua doença, escoliose idiopática, responsável pela forma física temerária em que foi descrito por Shakespeare.

- Al Pacino filmou um ensaio sobre essa peça, em forma de documentário, é interessante ver e compará-lo com a interpretação de outros atores em peças que já tenhamos visto ou com a imagem que construímos em nossas mentes após lermos a peça.
Natalie Lagedo 09/03/2017minha estante
PC, esta sua resenha está fantástica! Como sempre, você tem ótimas dicas para facilitar e aproveitar melhor a leitura. Há muitos anos li Otelo e amei demais (preciso reler e vou fazê-lo em breve), agora li Macbeth e estou fascinada. Lerei ainda este ano Ricardo III. Estou com altas expectativas.




Gláucia 17/11/2014

Ricardo III - William Shakespeare
Tem sido uma experiência um pouco trabalhosa a leitura dessas peças, já disse algumas vezes que não se trata para mim de entretenimento puro mas tem valido a pena. Talvez por ter sido a quarta quinta obra lida, pareço já estar mais habituada ao estilo, foi um pouco mais fácil.
Ricardo III se revelou um vilão sanguinário e inescrupuloso, cheguei a me divertir com algumas passagens com suas falas. Mas ele não se mostrou nada esperto, sua sede pelo poder parece tê-lo cegado; ou faltou mesmo inteligência e diplomacia para efetivamente manter o posto usurpado.
Descobri ser daqui uma das frases mais conhecidas do autor: "Meu reino por um cavalo!".
PC_ 30/11/2014minha estante
Sugiro que assista às peças, fica mais fácil a compreensão da obra. Recentemente foram encenadas ricardo iii e rei lear, em 2 excelentes adaptações, a primeira com chico carvalho e a segunda com juca de oliveira, foram atuações brilhantes. Muitas vezes a leitura de uma peça não é por si capaz de nos dar elementos suficientes para sua imediata visualização/compreensão, até os diretores de teatro e cinema muitas vezes ficam confusos. Sugiro que assista Looking for Richard de Al Pacino para ter uma ideia do que disse.




Coruja 17/03/2015

Ricardo III é uma das mais conhecidas e famosas peças de Shakespeare, tendo feito estupendo sucesso em sua época de estréia e continuando sua trajetória de popularidade nos dias de hoje.

A história segue a subida ao poder de Ricardo, duque de Gloucester, ao trono inglês, atropelando quaisquer princípios e idéias de moralidade que possam se interpor em seu caminho.

É curioso dar-se conta que o personagem mais interessante e mais carismático dessa história é o vilão – e Ricardo é um consumado vilão, melodramático ao extremo, vangloriando-se de ser a própria encarnação do Vício, e, para coroar, é corcunda: afinal, é necessário um defeito físico grave para poder demonstrar toda a maldade da criatura.

Ou talvez o desprezo causado por sua deformação seja a verdadeira razão de seu caráter. Ricardo é amargo e vingativo; seu ódio não me parece ter nascido simplesmente do éter, sem qualquer justificação. Ele não é menos capaz que os irmãos e não fez pouco na guerra para alçar sua linhagem à púrpura – porque deveria ser ele menos amado que os outros?

Mais que qualquer coisa, porém, o ás na manga de Ricardo é sua lábia e capacidade de manipulação. Para começo de conversa, ele auxilia seu irmão mais velho, Eduardo IV, a chegar ao trono, depois consegue fazer seu outro irmão Clarence – que teria preferência ao título na eventual morte do rei – ser considerado traidor e mandado para a Torre de Londres, onde acaba assassinado. Depois ele consegue conquistar Lady Anne, esposa do príncipe deposto pela linhagem de Ricardo e que foi assassinado pelo próprio. Não apenas ela consente ser cortejada pelo assassino de seu marido, como o faz durante o trajeto para enterrar seu sogro (também morto por Ricardo...). Convence seu sobrinho, Eduardo V, o legítimo herdeiro, a se afastar dos outros tios que poderiam tentar protegê-lo (ou manipulá-lo por sua vez); desfaz-se dos lordes que poderiam lhe provocar maior obstáculo, espalha o boato de que os dois príncipes filhos do irmão rei são na verdade bastardos e assim convence a opinião pública a ir lhe pedir para fazer o favor de reivindicar a coroa.

As duas únicas pessoas que não são enganadas por ele em nenhum momento durante a peça são a viúva do rei Henrique VI (que Ricardo e seus irmãos mataram), a rainha Margaret, e a própria mãe de Ricardo, a Duquesa de York – e ambas passam boa parte da peça amaldiçoando o rei corcunda.

A figura da rainha Margaret é uma de particular interesse na peça e em contraponto com Ricardo, uma das mais sanguinárias também. Os dois são símbolos do espírito da época, da guerra civil – o grande conflito que ficaria conhecido como a Guerra das Rosas. Postos um de frente para o outro, na balança de seus atos, nenhum dos dois lados é particularmente inocente.

Ao término da peça, a contagem de corpos na consciência de Ricardo passa dos dez – praticamente todos possuindo algum grau de parentesco com ele. Vão-se o irmão, a esposa, os sobrinhos, cunhados, primos e outros nobres que poderiam lhe causar problemas, sem grandes consequências até que ele conquiste o trono e a guerra civil chegue ao seu auge.

Em 2012 foram descoberto os restos mortais do Ricardo histórico, identidade confirmada por exames de DNA. Tal descoberta reabriu discussões sobre as dezenas de crimes atribuídas ao rei - que teriam sido criados ou bastante aumentados por seus sucessores.

Seja como for, culpado ou inocente, devo confessar que admiro o Ricardo shakesperiano em sua determinação e astúcia para alcançar seus objetivos. Ele é terrível, aterrorizante em sua amoralidade, mas é também absolutamente fascinante – talvez o mais fascinante de todos os grandes vilões de Shakespeare.

site: http://owlsroof.blogspot.com.br/2015/03/projeto-shakespeare-ricardo-iii.html
Vic 23/10/2018minha estante
Estou ansiosa para ler.




David Ariru 26/08/2019

A autoconsciência e o exercício da força
Ricardo III é um personagem extremamente controlador, e demonstra durante toda a peça também um autocontrole absoluto. No entanto, ao final da trama, que também é o seu fim, ele nos deixa uma mensagem: ninguém sai incólume depois de tanta maldade. E o que nos diz isso não é o simples fato do mocinho vencer o vilão, o que estaria nos moldes de uma mera obra moralista. O que mais chama a atenção no crepúsculo dele, é o seu enorme peso na consciência, a ponto de beirar a loucura. Ricardo III vê contra si todos os argumentos do mundo, e assim, não consegue aceitar-se ou até admirar-se consigo, o que em partes da peça havia acontecido. Ele olha aterrorizado para todas as maldades que praticou, todas as mortes pelas quais é responsável, e que cometeu para conquistar a coroa da Inglaterra. Mas, antes de morrer, tão desesperado quanto os fantasmas de suas vítimas rogaram que estivesse, chega a oferecer tudo aquilo pelo que lutou por uma coisa tão simples; um cavalo.
Na loucura de matar Richmond, ele profere a célebre frase, mas por que entregar tudo que conquistou em troca de uma chance de matar aquele homem? Talvez porque Richmond sintetize toda a antítese dos adversários de Ricardo III, colocados como prudentes e honrados. Talvez porque apresenta a Ricardo o que ele não é, e sabe que não é. Pois, no fim, diz a si mesmo: “Não há criatura que me ame, e se eu morrer, ninguém me lamentará... E porque o fariam, se eu próprio em mim próprio por mim próprio não encontro dó?”
Além disso, a coroa não parece ser exatamente seu grande objetivo, apenas um passatempo. Algo difícil de realizar e que iria requerer muitas perversidades. É como diz no início da peça: “neste ocioso e mole tempo de paz, não tenho outro deleite para passar o tempo afora a espiar a minha sombra ao sol e cantar a minha própria deformidade. E assim, já que não posso ser amante que goze estes dias de práticas suaves, estou decidido a ser ruim vilão e odiar os prazeres vazios destes dias.”
Assim, acostumado a tempos difíceis, a ser menosprezado e malvisto, ele assume que tem a natureza realmente perversa e dá início a sangrenta empreita pelo trono. Com sua autoconsciência, chega a se impressionar do que é capaz. Conquistar o Reino da Inglaterra, na verdade, nunca foi o motivo verdadeiro por trás das suas ações. O que ele queria mesmo era se fazer valer, mostrar que poderia fazer o que quisesse, ser temido e respeitado por suas conquistas: manipular, matar, trair, não importando os meios.
É por isso que no fim ao encarar adversários que, tidos como honrados e justos, pretende matar desesperadamente o símbolo principal daquilo que ele não é: Richmond. O homem cuja a própria existência funciona como uma acusação da índole de Ricardo III, uma figura representativa de toda objeção contra seus pecados. O protagonista chega ao ponto de praticamente se entregar à morte para tentar aliviar sua pesada consciência destruindo este símbolo.
Há ainda outra abordagem que pode agregada a essa, embora um pouco diversa. É que Ricardo, nunca antes amado; ensinado a viver em tempos de conflitos; acostumado a ser respeitado apenas através de batalhas; enfim, tido como um erro da natureza (“vergonha do ventre da tua mãe”.) consolidou para si uma personalidade agressiva.
Ele é uma pessoa que acaba se vendo em tempos de paz, bem diverso de tempos anteriores. Mas ele é como uma espada afiada que não serve para abraços e carinhos. É um homem bom para tempos turbulentos, isso é a única coisa que ele conhece. Maquinações, oratória capciosa, galanteios deslavados, dissimulações, frieza... possui todas as qualidades necessárias para tempos difíceis, sendo um exímio sobrevivente. Então, o que fazer depois que tudo é calmaria e a paz parece finalmente se acomoda no reino?
Ora, é exatamente por ser bom no que faz que ele se sente impelido a fazê-lo. Se uma espada foi feita para contar, então que corte, e corte com maestria! Ricardo III é apenas um homem se exercitando, testando seu poder e seus inegáveis talentos. Obtidos ambos ao longo de uma vida onde ele tinha que ser duro para viver e ser respeitado, ou ao menos temido. E qual melhor posição para se afirmar como forte a valente que o trono de um grande reino? É por isso que, até o fim, tenta fazer recair sua ira e poder em todos que tentam desafiá-lo. E se irrita com qualquer coisa que possa se lhe apresentar como uma ameaça. Principalmente Richmond, centralizador de todos seus adversários; os vivos e os mortos. E busca, assim, matá-lo com as próprias mãos.
Como disse, esta é uma perspectiva que não anula a primeira. Até porque esta obra, assim como os outros clássicos, nunca se esgota de interpretações e perspectivas de leituras. E até análises contraditórias por vezes parecem ser ambas plausíveis.
Peregrina 24/03/2020minha estante
Resenha excelente!




Camila Diniz 15/07/2022

Li errado
Nunca tinha lido Shakespeare, fora uma coisinha ou outra de leve na escola. Fiquei empolgada com o conflito das Rosas e peguei Ricardo III para suprir essa vontade. Notei que eu deveria ter começado a ler por outros livros dele antes desse, já q a história ia muito avançada e fatos anteriores eram fundamentais para a compreensão desta parte final. Mesmo conhecendo a história isso de notar só depois que eu não deveria ter lido esse livro fora da ordem estragou minha experiência e não pude aproveitar. Não tirando a importância do autor e toda a herança por ele gerada, esse livro não deu certo para mim.
Cosmonauta 15/07/2022minha estante
Procure a sequência certa ou outros livros que podem ser lidos isoladamente.




Fabio Shiva 28/10/2010

Meu reino por um cavalo!
Esta frase célebre, fora de seu contexto, não revela o brilho e a força do gênio criativo de Shakespeare. Pois nessa única frase está sintetizado o mais poderoso estudo sobre a ambição humana que já tive a oportunidade de conhecer.

Altíssimo brilho, catarse sublime! A tragédia é um estilo fora de moda em nossos tempos, substituída que foi pelos terrores diários dos jornais televisivos. Mas as chacinas, corrupções e catástrofes com que somos bombardeados pela mídia são um pobre substituto para as obras inspiradas por Melpômene, a musa da Tragédia. Pois não há aprendizado e nem crescimento em testemunhar um sofrimento sem sentido.

Ricardo III é a segunda melhor tragédia de Shakespeare. Só perde para Macbeth, em minha opinião. As duas têm muito em comum, e principalmente uma característica que considero a mais alta expressão literária. Eu já havia detectado essa característica em algumas poucas e muito queridas obras, de cabeça agora lembro de Sobre Meninos e Lobos do Dennis Lehane. Mas foi só agora, ao ler pela segunda vez Ricardo III, que pude definir melhor que característica é essa.

No entender de Hermann Broch (autor de Os Inocentes), toda obra de arte deve expressar uma totalidade. Isso é admiravelmente alcançado em um romance (ou peça teatral) quando o autor consegue ligar efetivamente cada ato a sua consequência, cada ação ao seu resultado. Uma história esteticamente perfeita, percebo agora, é a que retrata bem o misterioso e inescapável conceito de karma (palavra em sânscrito que significa ação).

Ricardo III é um poderoso exemplo dessa totalidade. Que obra!!!

O LADO NEGRO DA FORÇA

A peça é repleta de passagens de grande lirismo, com a alta poesia sendo utilizada para retratar o lado mais sombrio do homem.

O cinismo de Ricardo, por exemplo, é expresso lindamente nessa fala que ele dirige a seu irmão mais velho:

Tenho-te tal amor que dentro em pouco
mandarei para o céu tua alma cândida,
se aceitar destas mãos o céu a oferta.
(Ricardo, Ato I, Cena I)

Ou então nessa passagem em que ele arquiteta casar-se com a mulher do homem que acabou de matar:

Logo tomo
por mulher a mais nova filha de Warwick.
Que importa que ao seu pai e a seu marido
tivesse eu dado a morte? O melhor meio
de dar satisfações a essa donzela
é ficar sendo dela pai e esposo,
o que farei, não por amor, decerto,
mas por um fim profundamente oculto
que preciso alcançar com o casamento.
(Ricardo, Ato I, Cena I)

A cena em que Ricardo faz a corte a Ana é sem dúvida uma das mais marcantes da história da literatura. Ele a conquista durante o funeral do Rei Henrique VI, assassinado por ele:

Já houve, acaso, mulher, em todo o mundo,
que fosse cortejada desse modo?
(Ricardo, Ato I, Cena II)

A FORÇA DAS PALAVRAS

Ricardo III é também um testemunho sobre a força das palavras. É impressionante como o Bardo conseguiu tecer uma trama tão intrincada, onde o destino de cada personagem é antecipado por toda sorte de profecias e maldições. Exemplar é o caso do Duque de Buckingham, que foi ele mesmo o autor das palavras que o condenaram:

O Deus do alto,
que tudo vê, com quem eu gracejara,
fez contra mim voltar a falsa prece,
dando-me de verdade o que eu pedira
somente por gracejo.
(Buckingham, Ato V, Cena I)

O próprio Ricardo demonstra em suas palavras a progressão e amargo fim de toda ambição. Ele começa cheio de gás e disposto a fazer todo tipo de maldade:

Sol admirável,
brilha até que eu adquira um bom espelho
para eu ver com que monstro eu me assemelho.
(Ricardo, Ato I, Cena II)

Logo, porém, ele percebe que se torna um escravo de suas próprias ações infames:

Mas tão metido em sangue ora me encontro,
que um crime provoca outro.
(Ricardo, Ato IV, Cena II)

A LEI DO KARMA

Nenhuma ação humana, boa ou má, permanece sem consequência. Essa é, em essência, a lei do Karma. O plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória, já diz o sábio ditado.

E as pérfidas ações de Ricardo maturam tetricamente e não tardam a produzir horrendos frutos. Cena poderosíssima é a aparição dos fantasmas dos assassinados pela ambição de Ricardo, na madrugada que antecede a batalha. Cada um deles, por sua vez, lança a pesada maldição:

Amanhã pesarei sobre tua alma!
(...) Enche-te, pois, de desespero, e morre!
(vários espectros, Ato V, Cena III)

Ricardo desperta assustado, e pela primeira vez tem um encontro com a voz da consciência:

Ó consciência covarde, tu me assustas!
(Ricardo, Ato V, Cena III)

E chega por fim à triste conclusão:

Desespero; criatura alguma me ama.
Se eu morrer, nenhuma alma há de chorar-me.
Aliás, por que o fariam, se eu não tenho
piedade de mim próprio?
(Ricardo, Ato V, Cena III)


OUTRAS PASSAGENS MARCANTES:

Perdida fora a mágoa
despendida por quem já está perdido.
(Duquesa de York, Ato II, Cena II)

É meu filho, de fato, e o meu opróbrio;
mas não bebeu, decerto, a hipocrisia
no leite destes peitos.
(Duquesa de York, Ato II, Cena II)

Não cedais facilmente aos nossos rogos;
neste ponto fazei como as donzelas
que dizem sempre não, mas vão cedendo.
(Buckingham, Ato II, Cena VII)

Ricardo apenas vive, o negro agente
do inferno, a quem foi dado o triste encargo
de comprar almas para o reino escuro.
(Rainha Margarida, Ato IV, Cena IV)

Veloz como a andorinha é a fé, eu o sei:
de reis faz deuses, de um campônio, um rei.
(Richmond, Ato V, Cena II)

LAST BUT NOT LEAST

Foi uma sorte que justamente essa peça, que eu já havia lido no original, tenha sido a última das oito que li em sequência, na dedicada tradução de Carlos Alberto Nunes.

Pois não tem jeito mesmo: traduzir é trair. Que misteriosa é a linguagem humana, capaz de expressar uma cor única em cada idioma! Nunca fica a mesma cor depois de traduzida. Não é culpa da tradução, e sim uma condição inerente à linguagem!

Ao ler no original em inglês, duas passagens ficaram marcadas a ferro e fogo na memória, tamanha a sua força poética. E ao ler as duas em português, a decepção foi gigantesca!

A primeira é a frase que abre a peça:

Now is the winter of our discontent
Made glorious summer by this sun of York

Que foi traduzida assim:

Ora pelo sol de York o frio inverno
do descontentamento foi mudado
em glorioso verão.
(Ricardo, Ato I, Cena I)

Vixe!!! O que era um soco do Muhammad Ali virou um tapinha do Tiririca!!!

Pior ainda foi a segunda frase, que me marcou tanto que a citei nos dois discos que gravei com a banda Imago Mortis:

I'll join with black despair against my soul,
And to myself become an enemy.

Ficou tão fraquinha em português:

Lanço contra minha alma o desespero,
para inimiga tornar-me de mim própria.
(Rainha Elizabeth, Ato II, Cena II)

A vontade que sinto agora é ler todas as peças de novo, só que em inglês!

Ainda assim, a força de Shakespeare dá e sobra para encantar, mesmo com esses abismos de tradução.

Viva Shakespeare! O Rei eterno da literatura!!!

(28.10.10)

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Claire Scorzi 06/06/2011

Um vilão mítico
Talvez por intimidade de longa data com a versão cinematográfica, sempre achei a leitura de "Ricardo III" bastante fácil; e, por conta dessa facilidade, acho, gosto muito de ler e reler a peça. Consigo 'ouvir' os diálogos claramente (outra vez, a intimidade prévia com a peça via cinema). Ricardo III deve ser o vilão shakespeareano mais odiado e mais prazeroso de odiar. É vilão vilão: feito pra ser execrado.

Críticos como H. Bloom parecem ver essa característica como uma 'caricatura' de mau caratismo. Não importa: para mim, funciona. Odiamos Ricardo, cuja biografia histórica não deixa de gerar questionamentos. Robert Louis Stevenson não resistiu e aproveitou-o como vilão em sua novela "As duas rosas" (The black arrow).
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Lisa 30/05/2015

Ricardo III
Eu li Ricardo III porque ia ver a peça de teatro (com um único e maravilhoso ator: Gustavo Gasparini). As intrigas que Ricardo criou para ascender ao poder foi descrito por Shakespeare de maneira genial.
A manipulação de Ricardo III, suas intrigas para chegar ao poder, os bastidores da vida real é divinamente contado nesta peça. A inteligência e a engenhosidade de Ricardo nos mostra como a ambição do ser humano pode torná-lo cruel, como a sede de poder corrompe seu caráter e como é importante, num mundo em que quem tem o poder, manda na vida e na morte, estar do lado certo (ou aparentar estar).
Mas, como todo ótimo vilão, Ricardo III tem um certo charme que só a maldade poderia conferir a ele, nos cativa a sua inteligência, e nos repudia sua crueldade.
O enredo é um pouco complicado, a árvore genealógica é importante para se entender o que acontece e porque acontece, assim como tem muitos personagens com nomes iguais, o que pode confundir um pouco.
Saber um pouco de História pode ajudar muito.
Fora toda essa complexidade do caráter de Ricardo III, Shakespeare trabalha com as palavras de uma forma incrível. Nada comparado a hoje em dia, com frases simples e diretas. Ele usa frases elaboradas, de efeito e que se tornaram expressões até hoje conhecidas.
Encontrei 3 vídeos interessantes: no vídeo 1, o filme Ricardo III, lançado em 1955, é bem detalhado quanto às minúcias das tramóias de Ricardo. No vídeo 2, o filme Ricardo III, lançado em 1995, ambientado em outra época e bem mais fiel ao texto de Shakespeare. E o vídeo 3: um documentário sobre Ricardo III, desmistificando essa maldade toda que Shakespeare (aqui vale lembrar que Shakespeare era dramaturgo na época da rainha Elizabeth, que era descendente da casa de Lancaster e Ricardo III era da casa de York, um ótimo motivo para tornar Ricardo um terrível vilão).


site: Vídeo 1: https://www.youtube.com/watch?v=goc86VO6hLk Vídeo 2: https://www.youtube.com/watch?v=KqoZgEYEL2g Vídeo 3: https://www.youtube.com/watch?v=ZXAKV5RcIUE
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Aline 29/08/2016

Um vilão carismático
Em Ricardo III, Shakespeare retrata o fim da Guerra das Rosas (conflito entre as Casas de York e Lancaster pelo trono inglês), assim como a ascensão e a queda do último dos reis Plantageneta, criando um vilão sem pudores, sem culpa, mas com um estranho apelo ao público.


Logo no início da peça, Ricardo, então duque de Gloucester já deixa claro para o público suas intenções de conseguir a coroa da Inglaterra e para tanto vai tirando do caminho qualquer um que possa se interpor, como seu irmão Jorge, duque de Clarence.

” E assim, já que não posso ser amante que goze estes dias de práticas suaves, estou decidido a ser ruim vilão e odiar os prazeres vazios destes dias […]

Armei conjuras, tramas perigosas, por entre sonhos, acusações e ébrias profecias, para lançar meu irmão Clarence e o Rei um contra o outro, num ódio mortífero […]”

Ricardo III, Ato I, cena I.

Com a morte do rei Eduardo IV, seu filho (também Eduardo) deve ascender ao trono, mas por ainda ser criança, ele deve ser guiado por conselheiros mais velhos. É então que vemos todas as intrigas de uma corte, quando se formam facções entre os tios maternos do garoto e seu tio Ricardo e seus partidários para tomar conta do jovem príncipe.

Essa é uma peça bastante difícil de resenhar, pois ela é extensa e conta com vários personagens e núcleos distintos. Basta dizer que Ricardo elimina todos para chegar ao poder e se declara rei da Inglaterra. Na História, os dois príncipes filhos de Eduardo IV (portanto os legítimos herdeiros do trono) desaparecem misteriosamente da torre de Londres e até hoje só se especula sobre o que aconteceu com eles. Na peça, Shakespeare faz Ricardo mandar matar os dois sobrinhos e assim entrar para o imaginário popular como um dos mais perversos reis ingleses.

Ricardo é um vilão um tanto quanto caricato. Ele está sempre cercado de comparsas para executarem seus crimes, e se mostra muito manipulador, sempre conseguindo com que as pessoas ao seu redor concordem com o que ele deseje. Além disso, sua interação com o público criam uma ligação com o personagem, algo que me lembrou bastante o Iago de Otelo (essa peça viria bem mais tarde na carreira do bardo).

Ricardo III é repleta de personagens! Tanto que muitas vezes eu nem lembrava quem era partidário de quem. Mas aquelas que mais me chamaram atenção foram as mulheres. Margareth, viúva do antigo rei Henrique VI, aparece para esbravejar e jogar maldições contra todos os que tiveram alguma ligação com sua tragédia. A duquesa, mãe dos irmãos de York, mostra que sempre viu a maldade existente no filho Ricardo, mesmo enquanto ele conseguia enganar a todos. E a rainha Elizabeth, viúva de Eduardo IV, participa de minha cena preferida da peça. Um diálogo em que Ricardo tenta convencê-la a que ele case com sua filha e tenta justificar seus crimes, aos quais Elizabeth rebate um por um. Foi essa cena que me deixou morrendo de vontade de assistir alguma adaptação da peça.

Apesar dessa obra ter uma linguagem mais fácil do que as outras peças históricas, recomendo que leia quem tiver um conhecimento sobre a Guerra das Rosas e quem é quem na história e/ou já tiver lido as três peças de Henrique VI. São muitos Ricardos, Eduardos e Henriques, o que pode frustrar quem pegar essa peça em particular sem ter um conhecimento prévio.

Vi em outras resenhas que essa é uma peça de Shakespeare considerada imatura, afinal ela foi escrita durante a fase de aprendizado do dramaturgo. Mas eu consegui me divertir. Tem intrigas políticas, maldições, diálogos interessantes e retrata um dos meus períodos favoritos da história inglesa.

site: lequeliterario.wordpress.com
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isa.dantas 30/04/2017

Um vilão tão cara de pau que chega a nos divertir! Ótima peça!
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Anne__ 14/11/2017

Uma obra completa e deliciosamente escrita.
Eu gosto muito de Shakespeare, tinha expectativas sobre esse livro. Foram mais que atendidas. E abrange tantas facetas da humanidade, que nem sei como me sinto em relação a essa obra além de arrependida por ter adiado a leitura.
Ricardo é um vilão em um mundo tão atual quanto o meu próprio, onde é possível corromper as pessoas prometendo-lhes, ainda que ilicitamente, as coisas que elas mais desejam. Ricardo é dotado de uma oratória maravilhosa, um coração de pedra e uma consciência quase inexistente. Quase.
A Inglaterra serve de palco para essa tragédia que contém de tudo um pouco: Maldições, perdas, discussões familiares, ódio, inveja, desejo, ambição, amizade, lealdade, coragem e fidelidade, acima de tudo, a si mesmo.
Personagens como a rainha Elizabeth nos fazem ter esperança de que o poder não é o anel dourado almejado por todos, que o coração de alguns buscam por algo mais. Algo que a coroa não pode comprar.
Talvez essa seja uma lição que todos devam aprender.
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Carlos 08/01/2018


"La ambición de poder es una mala hierba que solo crece en el solar abandonado de una mente vacía" (Ayn Rand)

William Shakespeare, como siempre, nos regala una obra magnífica, basada en una de las personas más polémicas que se hubiesen sentado en el trono inglés, el rey Ricardo III, personalidad compleja, astuta, cruel, sanguinaria y despiadada. En esta obra, la Guerra de las Rosas prácticamente ha tocado a su fin, tras las revueltas que se sucedieron entre Enrique VI y Eduardo IV, éste último victorioso ya en la Batalla de Tewkesbury, reina ahora sin interferencias habida cuenta de la muerte de Enrique y de su heredero Eduardo. La obra, nos sitúa hacia el final del reinado de Eduardo IV, cuando éste último ya se hallaba en las agonías previas a la muerte.

Shakespeare desnuda aquí la ambición desmedida de poder que obnubiló al Duque de Gloucester, y expone las miserias del alma humana indicando que tan bajo uno puede caer para intentar trepar a lo más alto. En este caso, vemos que Eduardo IV había designado "Protector" (título éste que mucho más tarde sería rescatado por Oliver Cromwell para autoadjudicárselo tras tumbar al rey Carlos I) a su hermano Ricardo, título que ejercería una vez acaecida su muerte, con lo cual se aseguraría la regencia durante la minoría de edad del nuevo rey (Eduardo, el primogénito del rey agonizante, no confundir con el primogénito de Enrique VI también llamado Eduardo que había sido asesinado mucho antes), no obstante, en los planes del duque no entraba ser subalterno de nadie, menos de un niño.

Si bien esta obra se encuentra desde hacen años en mi estantería, recién ahora se me dio por leerla tras finalizar la lectura de La flecha negra de R.L. Stevenson, libro en el cual el futuro rey es uno de los personajes más interesantes, aquí era éste aún un joven guerrero, líder nato, pero ya pueden, en esta novela, verse los rasgos más característicos de su personalidad que saldrán a la luz años más tarde, en el proceso que involucró su ascensión al trono.

Shakespeare presenta una tragedia histórica bien documentada, pero en la cual también toma partido en una cuestión de las más polémicas. En efecto, el rey Eduardo V y su hermano menor el Duque de York, quienes se hallaban encerrados en la Torre de Londres desaparecieron misteriosamente y nunca se supo ya de ellos ni se los volvió a ver, hasta el día de hoy eso es un misterio no resuelto en Inglaterra existiendo diversas conjeturas al respecto, no obstante, no para Shakespeare quien asume desde el vamos que fueron víctimas de homicidio por órdenes de Ricardo.

No es lo mejor de Shakespeare, lejos se encuentra esta obra de la calidad de Hamlet, empero, no decepciona, una obra digna del genio que la firmó.
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Maiara 11/04/2020

Mais uma peça incrível de Shakspeare.
Ricardo III é um homem estrategista, perverso e sanguinário, que busca ascender ao trono da Inglaterra como rei. Para tal, é o causador de muitas mortes, sobretudo de seus familiares, até chegar o poder.
Feito rei, uma batalha acontecerá entre ele, e Richmond que pretende lhe tomar a coroa. Na noite antes da batalha, o fantasma de todas as pessoas a quem Ricardo causou a morte, aparecem em seu sonho e o mal-diz, valendo assim, todas as pragas rodagas a ele. E no sonho de Richmond, o abençoam.
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Mimi 20/04/2020

Uma das peças históricas de Shakespeare.

Ricardo III

Deformado,corcunda e coxo.
Inveja do irmão
Sádico
Lábia sensacional, oratória
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Gabriel 22/04/2020

Bom para conhecer uma das peças históricas
Não foi algo que me encantou muito, mas valeu a pena conhecer meu reino por um cavalo
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