Resenhas - Textos escolhidos Popper

Maurino 09/04/2012

O racionalista crítico
Uma das figuras centrais da filosofia contemporânea, Karl Popper é, sem sombra de dúvidas, também um dos meus pensadores prediletos – e eu diria até mesmo indispensável em minha caixa de ferramentas filosófica. Prolífico e original ele revolucionou a epistemologia ao adotar o seu “racionalismo crítico” – uma escolha ao mesmo tempo intelectual e moral – na análise da metodologia e da natureza do conhecimento científico. Libertário, defensor da criatividade e hostil a qualquer tipo de autoritarismo, dogmatismo ou profissão de certeza – conforme o princípio kantiano de autonomia, segundo o qual não existem fontes supremas e definitivas do conhecimento -, ele afirma o caráter coletivo e conjectural do conhecimento humano, segundo o qual a ciência consiste em uma luta pela sobrevivência de hipóteses rivais em um interminável processo darwinista de seleção (artificialmente intensificado) de crenças e ações. Ora, nós não devemos, segundo Popper, ter um medo neurótico de errar, pois o conhecimento é humano e o erro pode ser útil na busca da verdade; precisamos sim é, de forma realista, conduzir bem o debate crítico e criteriosamente preferir as teorias mais bem testadas, as mais resistentes a críticas severas, com o intuito de aprimorar o nosso conhecimento conjectural. Nisso consiste o falsificacionismo. Convicto da possibilidade de projetar os seus fecundos argumentos a propósito da importância da criticabilidade frente a situações problemáticas para outros domínios do saber, a democrática filosofia de Popper se estende à política, à sociologia e à história. A meu ver, dois livros seriam particularmente úteis a quem quisesse se iniciar no estudo desse complexo e instigante autor: o primeiro deles é a sua “Autobiografia intelectual”, da Cultrix (já esgotado) e o segundo é esse excelente “Popper: textos escolhidos”, organizado por David Miller, seu ex-assistente e colaborador próximo. Encontra-se aqui uma seleção de textos - os mais representativos - que se estende desde os seus primeiros trabalhos até os do final da década de 1970; e divididos em tópicos: Teoria do conhecimento, Filosofia da ciência, Metafísica e Filosofia social. A meu ver é um livro imprescindível, não só a quem se interessa por epistemologia e teoria do conhecimento, mas para quem gosta de filosofia de maneira geral.